sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Woody Allen e a desventura dos seres


Eu definitivamente gosto de Woody Allen. São poucos os filmes deste diretor americano, célebre como o cronista mais neurótico que Nova York já teve, que me desagradam, poucos mesmo. Há muito, que parte do público, e uma boa parcela da crítica, vêm decretando o fim de Allen, seu esgotamento criativo e sua auto-referência constante. Não concordo. Se contemplarmos retrospectivamente sua obra, certamente veremos uma maior quantidade de filmes notáveis no passado, mas não sou um dos que acha que o diretor parou de ser relevante em A Rosa Púrpura do Cairo. Certamente que a profílica maneira de Allen trabalhar, afinal ele entrega religiosamente um filme por ano, quando não dois, é um dos fatores que fazem com que alguns de seus filmes sejam instáveis, e outros até fracos mesmo, mas daí a bradar que o gênio ”morreu”, ou que não faz mais nada assim tão bom, é bem exagerado. 

Bom, isto pode ser por que gosto demais do estilo de Woody Allen, de sua aparente simplicidade estética, de seus roteiros ferinos ou largamente cômicos (ou os dois) e da maneira como sempre consegue extrair do atores algo que os liga com outros personagens “allenianos”, em ótimas interpretações, por mais que ele próprio seja o primeiro a dizer que o máximo que faz com os atores é escolher somente os bons e não atrapalhá-los. Modéstia, certamente com um pouco de negativismo. O novo Woody Allen, Você vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos é a prova de que existe certa má vontade com os mais recentes filmes dele, ou, e provavelmente é isto, que sou bastante suscetível aos trabalhos do diretor, já que dele gostei muito, na contracorrente da maioria das opiniões, que fazem questão de pormenorizar as qualidades de mais esta bela comédia agridoce da carreira do cineasta.

Você vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos é uma ciranda de personagens muito próximos. Alfie (Anthony Hopkins) e Helena (Gemma Jones) se separam após 40 anos, um tanto por que ele, de uma hora para outra resolveu se comportar como um garoto de 20, fazer exercícios e curtir uma vida baseada na negação da velhice como “pré-morte certa”. A filha deles, Sally (Naomi Watts) é uma artista formada e casada com Roy (Josh Brolin) escritor outrora promissor e hoje frustrado, que nunca foi além dos elogios angariados por seu primeiro romance. Enquanto Sally começa a se interessar por seu chef Greg (Antonio Banderas), Roy se apaixona pela bela vizinha de janela que sempre veste vermelho, Dia (Freida Pinto). Em meio a isto, Alfie casa-se com uma ex-prostituta e Helena busca apoio em uma vidente charlatã, cujas previsões lhe servem de placebo, aliviando as dores da separação.

É sempre bom, e pouco frequente, ver Anthony Hopkins na pele de um personagem pateticamente cômico, sem a aura “Hannibal”, e Naomi Watts tão à vontade, podendo desempenhar um papel sem maneirismos e, mesmo assim, dotado de muita intensidade. Isso sem falar das sutilezas de Josh Brolin,  da forte presença de Antonio Banderas, da beleza esfuziante de Freida Pinto, e da maravilha que é ver Gemma Jones em cena. Woody Allen escolheu mais uma vez um grande time de atores mas, que sua modéstia me perdoe, ele tem grandes méritos no desempenho deles. Você vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos é um delicioso registro de encontros e desencontros afetivos, estes muito mais ligados às frustrações e anseios pessoais, do que propriamente com os relacionamentos que os sentimentos solicitam com frequência. Falem o que quiserem, que ele é blasé, que é um neurótico incorrigível, e que seus filmes são versões de uma mesma história e/ou ideário, mas eu, além de não concordar com isto, continuo achando Woody Allen um dos grandes diretores da história do cinema americano, passível de erros, como todo humano, mas ainda assim um gênio da raça.

Um comentário:

  1. Olá, Celo!
    Sim, Celo, apesar de não ter conferido este último filme do Woddy Allen, concordo que, apesar dos tropeços, mais que naturais, se trata de um dos maiores cineastas vivos.

    Abraçossss

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