sexta-feira, 29 de julho de 2011

Por Uma Vida Menos Ordinária


Pegue Stanley Kubrick, um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos, metódico, crítico, extremamente combativo, e tente inseri-lo na produção contemporânea. Pince ainda Luis Buñuel, possuidor daquela verve anárquica que aflorava do surrealismo, dos ataques frontais à burguesia patética, entre tantos outros expedientes, e imagine um lançamento seu no “arteplex mais próximo de você”. Não contente, tente ainda encaixar a profílica produção de Billy Wilder no panorama atual, projete ele tentando tirar do papel alguma comédia inteligente em larga escala, sem gente “peidando” na cara dos outros, ou qualquer escatologia deste naipe. É difícil, né?

Vejo muita gente por aí reclamando do cinema atual, da falta de grandes nomes que resgatem o nível cinematográfico que não existe mais. A ciranda do tempo traz mudanças, e não creio que mesmos os gênios de outrora “sobreviveriam” artisticamente com dignidade no panorama que se apresenta, e muito menos no que se avizinha. Vivemos em meio a crises, cultural e sociológica principalmente, não apenas de criatividade ou visão cinemática. Sei, ainda existem diretores fantásticos que conseguem verdadeiras proezas neste cenário de guerra, mas mesmo eles não escapam de gastar generosas doses de energia e tempo (com as quais poderiam produzir mais) na luta constante pelo reconhecimento/entendimento de seus trabalhos.

Aproximo-me dos apocalípticos ao apontar que o mundo contemporâneo (e isto não é um exercício de nostalgia) representa terra bem menos fértil para que os talentos sejam considerados e suas capacidades regadas pelo sumo que vem do público. Quem sabe estejamos mesmo na era da inércia, onde pensar em demasia é quase crime inafiançável. O público de antes, um pouco mais acostumado à grande literatura, às músicas de qualidade e às imperdíveis sessões de cinema, hoje se contenta em demasia com narrativas vampiresco-açucaradas, eguinhas-pocotós e em comer pipoca (“que filme era mesmo?”). Cada época tem sua “cara”, e o grosso da produção cultural é apenas um reflexo político, estético ou mesmo ético desta face. É certo que o aparecimento de “gênios” era menos bissexto anteriormente, mas, a meu ver, o grande problema é a atual configuração das coisas, que mata no berço, ou no primário, nossos futuros homens e mulheres extra-ordinários.

3 comentários:

  1. Olá, Celo!
    O meio também faz o homem. A sociedade contemporânea, esta a que nos inserimos, possui valores diferentes dos de outrora. O dinamismo, a rapidez, os produtos e serviços fornecidos de maneira democrática a qualquer custo, a indústria tomando a cultura como um de seus principais produtos sumariamente transformados em entretenimento puro, etc.
    Não há mais tempo à reflexão, algo obsoleto em dias de caos, informações sem sentido empilhadas, e prioridade à produção quantitativa.
    Muitos são as testemunhas em um júri que tende a culpar o furacão do dia-a-dia pelo assassinato anônimo do pensar, do vagar, tidos como inúteis ou pouco produtivos. O escapismo toma lugar que não lhe pertence, o da rotina da massa antes menos tendenciosa à inércia.

    Abraçossss

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  2. Celo, queridão, me limitarei a contribuir com seus questionamentos, tão interessantes, indicando novamente que você assista a "Meia noite em Paris", do grande Woody Allen. Acho que suscitaria ainda mais questões e indignações, assim como possíveis soluções para tais problemas. Seu texto reflete o tema central do filme.

    Grande abraço!

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  3. Marcelooo,ainda nao viu "Meia noite em Paris"? Pois saiba(nao que isso te motive rs rs)que estou ávida por suas impressões e comentários!
    Faço das palavras do Conrado, as minhas. Seu texto altamente reflexivo traz à tona o mote do mais novo do W. Allen.

    beijos

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