segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O cinema mágico de Méliès em São Paulo

Exposição sobre 'pai da ficção científica' passou pelo Brasil e atraiu cinéfilos.
Matéria escrita por Gabriel Gilio, em colaboração ao The Tramps.



That's one small step for a man, but one giant leap for mankind. A famosa frase do astronauta americano Neil Armstrong ecoa no universo até hoje expressando o sentimento dos habitantes do planeta Terra ao ver um dos seus pisando na lua pela primeira vez, em 1969. Não foi pela primeira vez, porém, que essa imagem foi transmitida. Mesmo que por meio de uma produção cinematográfica, o homem já havia presenciado essa cena 67 anos antes (e, segundo os amantes das teorias da conspiração, também usando técnicas de cinema foi que se pôde presenciá-la outra vez, mas essa já é outra história).

Em 1902, o mágico do cinema Georges Méliès criava a produção que o faria conhecido: o curta-metragem Viagem à Lua (Le Voyage Dans La Lune), que inseriu um mundo de fantasias no imaginário da época. A obra, que fazia uso de técnicas de ilusionismo ligados à efeitos de edição, deu ao artista o título de "pai do cinema de ficção científica e dos efeitos especiais"."Mais do que inventar histórias de uma maneira como elas nunca haviam sido contadas até então, Méliès direcionou o olhar do público para uma arte que estava nascendo e ainda enfrentava muito ceticismo", explica o publicitário e cinéfilo Conrado Heoli. "Seus filmes até hoje impressionam pela estética apurada e artifícios deslubrantes para uma época de recursos tão limitados".

Com a invenção do "Cinematógrafo" pelos Irmãos Lumiére, em 1895, o homem passou a poder registrar a imagem em movimento. No ano seguinte, os irmãos inventores presentearam o futuro mágico do cinema com um exemplar de sua criação. Mal sabiam eles que estavam colocando nas mãos do artista a ferramenta que ele precisava para direcionar a sétima arte para os caminhos que ela trilha hoje. Até Le Voyage, todas as produções concebidas eram quase que exclusivamente documentárias, mas Méliès fez diferente, pois abriu as portas do sonho, da ficção, para que o cinema fosse definitivamente criado. A ficção científica foi só o princípio da descoberta de um mundo de histórias que passariam a ser contadas em todo o planeta, inclusive no Brasil.


O país do futebol, no entanto, não tem a mesma tradição com a câmera na mão do que tem com a bola no pé. Apesar de ter em sua história alguns curtas do início do século XX (como Duelo de Cozinheiras, de 1908, e O Fósforo Eleitoral, de 1909), o país não desenvolveu a arte audiovisual. Segundo Conrado, nosso cinema nunca teve boas incursões na ficção científica como o fez com a comédia e o terror, por exemplo. "Nossos espectadores, por outro lado, sempre tiveram bons olhos para o cinema fantástico - porém, os direcionam para as obras estrangeiras. Penso que, talvez, seja uma tendência pela falta de grandes recursos para a produção nacional, ou por uma falta de ousadia de realizadores nacionais."

Há, porém, um otimismo em relação à produção de filmes de ficção científica no Brasil, atualmente. Em uma busca rápida pela internet, pode-se facilmente encontrar produções "caseiras" que não perdem em muita coisa para os grandes estúdios. Existem, também, as páginas criadas por esses próprios cineastas que produzem, dirigem, editam, escrevem e filosofam o tema. O blog Sci Fi do Brasil, por exemplo, explica que "a produção de filmes de ficção científica deve ganhar força e reconhecimento no Brasil, com os novos produtores independentes em seus 'home studios', sendo possível graças ao avanço tecnológico dos computadores, câmeras e softwares, e a sua disponibilidade a um preço atualmente acessível à uma grande parte da população brasileira".

Incentivando a discussão acerca do tema, o Museu da Imagem e do Som (MIS) apresentou uma exposição inédita no Brasil sobre o pai da ficção científica. Concebida pela Cinémathèque Française, "Georges Méliès, o mágico do cinema" reuniu objetos, desenhos, cartazes, figurinos, documentos originais e fotografias do artista. Aberta de 4 de julho à 16 de setembro, a exposição apresentou o artista a quem não o conhecia e, aos fãs, proporcionou experiências "incríveis", como define o visitante Otávio, que foi prestigiar a obra do cineasta francês e não escondeu a emoção: "Nunca fui muito ligado à filmes de ficção científica, mas sou fã do Méliès. Ele era supercriativo".



Crédito das fotos: Gabriel Gilio, divulgação.

2 comentários:

  1. Olá, Gabriel!
    Ótima sua contribuição, parabéns pelo texto.
    Assim, ficamos mais próximos de uma exposição que, infelizmente, não tem destino traçado por aqui.

    Abraçossss

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  2. Olá, Gabriel.

    Faço minhas as palavras do Rafa. É muito bom ter uma contribuição como a sua em nosso blog. Dado curioso: seu texto foi a postagem 400 do "The Tramps.

    Abração

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