terça-feira, 19 de março de 2013

A fêmea e O Poder da Sedução


Muito influenciado por romances policiais baratos, o noir respira pelos poros da femme fatale, aquela que subverte a fragilidade tão atribuída à mulher, transformando aparências e convenções em álibis. Determinados filmes mais atuais acabam denominados neo-noirs justamente por se apropriarem de elementos característicos desse gênero destacado no passado. O Poder da Sedução, de 1994, se insere entre tais herdeiros, sobretudo, porque é centrado na figura maquiavélica de Bridget Gregory, interpretada por Linda Fiorentino.

Ela é mulher de natureza fria e calculista, sem métrica em consequências ou preocupações com o alheio. Primeiro rouba o marido traficante em plena Nova Iorque e depois engendra um interiorano numa espiral de sexo, mentiras e sordidez. Está, assim, nela o material de valia para interpretações, e quem bem atentou para sua riqueza, até para a diferença por ela explicitada entre a femme fatale clássica e a contemporânea, foi o filósofo Slavoj Žižek (ver aqui).

Pena esse tipo tão representativo estar inserido num contexto cinematograficamente pobre, cujos maiores problemas são mesmo o roteiro frouxo (previsibilidades e trajetórias erráticas) e uma direção nada além de burocrática. Dessa maneira, o filme desenrola-se com algum interesse muito mais pela trama abertamente novelesca que por eventuais méritos formais. Tanto é verdade que mesmo a personagem forte de Linda Fiorentino pode até soar maniqueísta, pois emblema solitário de um dos mais influentes gêneros do cinema. 

2 comentários:

  1. :) Seu texto..!!!! Obrigada por me acompanhar nesse filme Marcelo!! E por otimizar seu olhar e consequentemente sua resenha! Sei que normalmente você é assim..parece tentar enxergar e explicitar o lado positivo, bem sucedido dos filmes, mas em The Last Seduction, imagino ter sido mais complicado..e você destacou aspectos bem legais do filme.
    beijos

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  2. Celo!
    Adorei o texto do Zizek /o\

    Abraços

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