A trama de Obsessão começa com a narradora exumando um crime. Ela foi testemunha
privilegiada da matéria que buscou desvendar o caso, pois empregada dos Jansen,
verdadeiros protagonistas do relato. Na época, Ward (Matthew McConaughey),
filho mais velho da família, regressou para casa acompanhado do amigo negro Yardley
(David Oyelowo) a fim de escrever para grande periódico. Reencontrou Jack (Zac
Efron), seu irmão mais novo, entregando jornais e o nomeou motorista da
empreitada. Breve, eles conheceram o acusado de assassinato, Hillary Van Wetter
(John Cusack), e Charlotte (Nicole Kidman), então interessada em provar a
inocência do pretendente, também alvo involuntário do primeiro amor de Jack. Estamos
nos anos 1960, por sinal, muito bem evocados pela fotografia de Roberto
Schaefer.
Obsessão é o mais recente filme de Lee Daniels, mesmo diretor que
“cometeu” Preciosa. Começa confuso,
mas logo entra nos eixos e passamos a entender quem é irmão de quem, quem gosta
ou não gosta de quem. O que parte como investigação jornalística, desvirtua-se
para o drama de “amar sem ser amado”, resvala no preconceito racial, flerta com
a dificuldade de crescer traumatizado sem a mãe, encosta de leve na questão
homossexual e acaba em violência. Temperos fortes, certo, mas urdidos como se
travassem batalha por atenção. Um dos grandes problemas é justo esse: querer
abraçar o mundo, obter o melhor de cada núcleo sem a habilidade para fazê-los servidores
do todo e não rivais de antecessores e sucessores.
Evidência maior que Daniels
dirige como se não pudesse frear caminhão desgovernado é o trabalho com os
atores. Estão todos muito bem, mas gritam as dificuldades diretivas em
balancear personagens e intérpretes excelentes. Exemplo disso, Nicole Kidman
faz seu melhor papel em anos, riquíssimo e repleto de nuances, mas é “podada”
sempre que ameaça tomar o filme para si. Apenas John Cusack (outro em trabalho notável)
recebe chancela para dele se apropriar vez o outra, mais para o final. Aliás, algumas
das passagens mais interessantes do ponto de vista dramático são interações
sexuais entre Kidman e Cusack. Esqueça a polêmica em torno da discutida cena dela
urinando sobre Efron, quase cômica de tão mal filmada.
Confesso ter lastimado ao fim de Obsessão, não apenas por me compadecer
dos tipos, tragédias e dramas, mas por entender que havia tanto a ser
desenvolvido nesse enredo baseado no livro de Pete Dexter, múltiplos vieses
interessantes, não fossem os maneirismos de um diretor que parece sabotar sua obra,
sequência após sequência. Não me entendam mal, o longa passa longe dos
exemplares alienados ou ávidos por gordas fatias de mercado. É intimista,
repleto de observações pertinentes, inclusive sobre as dificuldades sociais do
período retratado, boas interpretações, etc. Mas não decola, pois solapado por
seu próprio comandante.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Boa, Celo!
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