Até a Pixar, antes exceção, hoje
se curva às continuações como maneira de capitalizar sobre um público que
prefere ir ao cinema para ver personagens familiares em situações não tão
diferentes assim. UNIVERSIDADE MONSTROS volta ao passado para mostrar Wazowki e
Sullivan na época estudantil, em meio às suas dificuldades para se tornarem
Assustadores, profissão mais “importante” do mundo dos monstros. É tudo muito
bonitinho e engraçado, por isso mesmo, difícil o filme desagradar
completamente, a não ser àqueles que teimarem em compará-lo com seu antecessor
bem mais criativo em concepção e execução. UNIVERSIDADE MONSTROS carece de algo
que transcenda a mensagem, velha e empoeirada, contida na junção de duas
figuras só triunfantes exatamente quando juntas. Fica a pergunta: a Pixar
irremediavelmente caiu no lugar-comum?
TABU é um filme de roupagem
saudosista, que renova o circuito a partir dos limites de sua janela 4:3 e do
preto e branco, atributos hoje estranhos às salas de cinema. Tal aspecto visual
é utilizado para registrar a parábola inicial, a Lisboa contemporânea, e também
a pretérita colônia portuguesa na África misteriosa. A estética remonta os
filmes mudos dos primórdios, alusão evidenciada, sobretudo, na segunda parte,
onde os diálogos são abolidos em prol da narração e dos sons cotidianos. Mesmo
assim, cabe à palavra (impostada) ressaltar a beleza das imagens, o que confere
a TABU atmosfera poética. Homenageando Murnau, Miguel Gomes fala sobre amores
impossíveis, colonização e a relação dos dominados coadjuvantes com os
conquistadores protagonistas, desde os primórdios até hoje.
A diretora Isabel Coixet não
apenas adaptou O Animal Agonizante, de
Philip Roth, ao cinema, mas apropriou-se dessa matriz literária para fazer um
filme doloroso sobre o tempo que transcorre entre os vãos de nosso pretenso
controle, sobre amores que vem e vão, vítimas que são desse mesmo tempo teimoso
em passar. O sessentão, professor de literatura, vê-se, após vida de
superficialidades, enredado por uma bela aluna cubana, 30 anos mais jovem. A
prosa de Roth ganha equivalente fílmico de respeito, pois Coixet se esforça
para dar dimensão cinematográfica até mesmo às angústias mais internalizadas do
protagonista. A linguagem aparentemente discreta de FATAL disfarça, assim, e
habilmente, complexa teia de artifícios dos quais a diretora lança mão para
fazer cinema à altura do excelente livro de Philip Roth.
TURBO é típico produto para as
férias escolares. Muito embora tenha lá suas qualidades, acaba numa banalidade
bastante comum de uns tempos para cá na seara da animação. Ele repete o velho
esquema sobre alguém que sonha com algo quase impossível, dada sua natureza,
mas cuja perseverança será recompensada. Nada contra, claro, a mensagem é
positiva e válida, mas já tão surrada que não sustenta por si o interesse,
quando muito o infantil. Em suma: TURBO se ressente de algo que o faça
transcender o clichê. No mais, caso não exijamos demais, é filme divertido, com
muita velocidade, excelência visual e personagens cativantes (ainda que
excessivamente formulaicos). Mas desvanece logo finda a sessão, aliás, como boa
parte das animações atuais.
A figura de Camille Claudel é
novamente trazida à tona, agora pelo cineasta francês Bruno Dumont. Artista
prodigiosa, ela se vê confinada em asilo psiquiátrico. Juliette Binoche
corporifica a dor dessa mulher privada do convívio social e da arte que
alimenta sua alma. A atriz francesa parece atirar-se num abismo complexo, de
onde faz emergir “demônios” em grande profusão. Bruno Dumont registra tudo com
muito rigor: torna o campo/contracampo rarefeito e constrói, lenta e
gradativamente, o ambiente externo cinzento que reflete o interior de alguém
despedaçado, cuja danação parece irremediável. CAMILE CLAUDEL, 1915 é filme duro, atmosférico, que ainda guarda para seu final o embate entre
a “loucura” da arte e a retórica dos “tocados” por um Deus colérico.
Celito!
ResponderExcluirAdoro o "Doses Homeopáticas". Desde já, fico na expectativa das próximas postagens.
Grande abraço.