PHILOMENA é um filme meio
quadrado (ou redondo) demais, contudo é inegável tanto a excelência do trabalho
dos atores, especialmente Judi Dench, quanto o talento de Frears para chocar
contradições dentro uma construção narrativa clássica. Os momentos mais
complexos ficam por conta do envolvimento da igreja católica, sobretudo sua
atuação nefasta no passado, quando encarcerar meninas grávidas podia ser benéfico
aos cofres. A contradição vem de Philomena, mulher devassada, mas que ainda
possui fé. Sua alienação serve à crítica de Frears, assim como, de alguma
maneira e paradoxalmente, mostra também o lado bom de ter no que acreditar.
Pena que algumas obviedades e facilidades diluam o viés crítico do filme. Ao
optar estritamente pelo “viés humano”, Frears minimizou o que poderia ser
também grande do ponto de vista ideológico.
Fora a passagem quase inútil em
que o protagonista viaja a Chicago - inútil por não trazer qualquer coisa à
trama - INSIDE LLEWYN DAVIS: BALADA DE UM HOMEM COMUM me pareceu o melhor filme
dos irmãos Coen dos últimos tempos. A cinebiografia bem anticonvencional do
músico folk Llewyn Davis se foca
muito mais no delineamento de sua personalidade do que propriamente neste ou
naquele recorte cronológico. O que temos na tela é um personagem cujo
deslocamento pode ser erroneamente confundido com apatia. A melancolia desse
homem sem planos futuros, cuja música é um esforço sem lucratividade
financeira, se traduz justo nessas baladas tristonhas, reflexos do artista
entre a cotidianidade em seu espectro mais ordinário e a necessidade de “ser
alguém”.
Não fosse pela brilhante retórica
de Noam Chomsky, um dos mais importantes intelectuais americanos, o
documentário NOAM CHOMSKY – REBELDE SEM PAUSA seria apenas rudimentar. As ideias
controversas de Chomsky sobre a política externa e interna americana, os
recursos escusos da mídia controlada pela publicidade, a disseminação do medo
como fator imprescindível para o ocultamento de certos expedientes, são
apresentadas da maneira mais precária possível, unindo recortes de palestras e
outros eventos com depoimentos breves, e não raro inúteis, de pessoas do
círculo profissional e até mesmo da esposa de Chomsky. Mesmo curto (73 minutos)
o filme é cansativo, nunca por culpa da figura central, mas da maneira
engessada como suas teses são articuladas na tela.
Não há como comparar o ROBOCOP de
Padilha com o de Verhoeven. Dito isso, detenhamo-nos apenas na estreia do
cineasta brasileiro em Hollywood. O início é até promissor, com aquele
apresentador canalha e a ação robótico-militar num país do Oriente Médio. Mas a
promessa não se cumpre, pois o que vem a seguir é um simples filme de ação que
patina toda vez que almeja algo mais profundo, seja em qualquer viés. Fala-se
sobre segurança pública, corrupção policial, política, o conceito de “ser”,
entretanto tudo de relance, como que para não atrapalhar a ação. Não sei o que
aborrece mais, se o blá blá blá interminável que esmiúça a montagem do Robocop,
a maneira asséptica com a qual se desenvolve o drama do personagem, ou as
interpretações, todas buscando a canastrice como conceito, mas a encontrando
tal efeito colateral.
Simpático este A GAIOLA DOURADA,
filme franco-lusitano que aborda dramas familiares numa colônia portuguesa em Paris.
A maneira como o diretor Ruben Alves conduz sua trama é bastante simples, sem
invenções, servindo muito bem ao propósito de discutir a verdadeira vocação dos
personagens, os efeitos de suas escolhas, isso em meio ao dilema do casal
protagonista de voltar às origens por conta de uma herança ou seguir a vida (de
servidão) na França que os acolheu. Se não é uma comédia rasgada, tampouco
pende ao dramalhão, equilibrando-se confortavelmente entre ambos. Um filme
leve, daqueles bons de ver entre uma prioridade e outra.
Gosto do Doses pq esse panorama geral nos estimula muito a assistir todos os filmes, até os que você critica rs.
ResponderExcluirEscrever bem dá nisso ;)
bjs
Obrigado, Carol, pelo carinho, leitura e comentário.
ResponderExcluirbeijos
Uma das seções mais apreciadas por este que vos escreve. Muito boa.
ResponderExcluirGrande abraço.
Obrigado a você também, Rafa, por sempre prestigiar o The Tramps.
ResponderExcluirAbração