O QUE SE MOVE aborda perda, mas
não uma do tipo qualquer. Feito de três histórias distintas nas quais mães
perdem seus filhos, o filme de Cateano Gotardo trabalha com o mínimo, apostando
numa encenação próxima do cotidiano, ainda que algumas interpretações sejam
demasiado empostadas. Nada que nos tire a sensação de estar entre gente de
verdade. Contudo, no fim de cada segmento as mães literalmente cantam sua dor,
ou seja, há uma quebra nesse pacto com a encenação minimamente artificial, uma
vez que o musical é um gênero antinatural por excelência. Ainda que seja tudo
muito bem trabalhado, que as emoções soem genuínas até certo ponto, não me
parece que o filme consegue se desvencilhar de um distanciamento que minimiza o
impacto tanto dos eventos trágicos quanto do sofrimento que as mães – com muita
beleza, é verdade – cantam, expressando o que as palavras não mais comportam
sozinhas carregar.
A jornada que INTERESTELAR nos
propõe não é apenas a exploratória, aquela na qual os personagens precisam
atravessar o cosmos em busca de outro planeta habitável, uma vez que a Terra
sucumbe definitivamente a anos de descaso. Primeiro temos o drama familiar, a difícil
decisão do personagem de Matthew McConaughey (aliás, ele em outra grande
atuação) de deixar para trás os seus em prol da humanidade. No espaço as coisas
se complicam, as pessoas têm de se submeter a ditames desconhecidos, dimensões
que lhes fogem, lidar com a relatividade do tempo. Dolorosa a cena em que o
protagonista regresso de uma missão rápida, porém malfadada e que lhe custa
muitos anos, vê mensagens que resumem em minutos os acontecimentos de quase uma
vida. Dali para adiante, tudo fica mais complexo, pois Christopher Nolan mostra
o quão ignorantes somos em relação àquilo que escapa de nossas fronteiras
(metafóricas ou não), ao passo que celebra a força do humano e dos laços que
ele cria para subsistir.
HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO se
debruça sobre problemas típicos da adolescência. Nele, vemos jovens tentando
crescer, se desvencilhar da superproteção paterna, descobrindo o amor, o
desejo, enfim expedientes pelos quais todos nós passamos. Porém, para Leonardo,
o protagonista, as coisas são um pouco mais difíceis, afinal de contas ele é
cego. As rédeas dos pais são ainda mais curtas – sobretudo as da mãe –, a
melhor amiga, claramente apaixonada por ele, se distancia enciumada de Gabriel,
colega novo que, sem querer, acaba desestabilizando as coisas. Leonardo e Gabriel
se aproximam e o afeto se desdobra em paixão. Daniel Ribeiro, o diretor, conduz
tudo com muita suavidade, sem forçar a barra nos percalços pelos quais esses
adolescentes passam. O filme tem o grande mérito de ser artisticamente
relevante, pois voltado com muita sensibilidade a questões humanas, sem
precisar alardear as próprias qualidades. É nessa aparente simplicidade que reside
a força essencial do brasileiro postulante ao Oscar.
Vontade de ver os que não vi e rever o que vi =) Muito legal o que vc escreveu! bjs
ResponderExcluirObrigado, Carol
ExcluirEm maior ou menor proporção, os outros dois filmes valem muito a pena.
Veja quando puder.
Beijoss
Celito!
ResponderExcluirEssas "pitadas críticas" são ótimas.
INTERESTELAR, sem dúvida, trata-se de um grande filme. Complexo na medida, sem parecer pedante ou mesmo estabelecer distância com relação ao público. Obra sentimental, mas que não se rende a soluções fáceis ou que sejam incoerentes com seus personagens.
Grande abraço.
INTERESTELAR é um filme que, a meu ver, vai além da questão técnica, do que os olhos veem. Muita gente têm falado mal, mas acredito que, assim como ocorreu com outros grandes filmes, seja preciso passar algum tempo para ele ter o devido reconhecimento.
ExcluirAbraços