Quem casa, quer casa. A velha
máxima se aplica a Walter Fielding (Tom Hanks) e Anna Crowley (Shelley Long),
em Um Dia a Casa Cai (1986).
Desalojados às pressas do apartamento onde moravam, precisam encontrar lugar
novo para viver. Em Nova Iorque isso poderia demorar meses, mas eles logo topam
com uma propriedade afastada da metrópole, cujo valor irrisório é incompatível
com a imponência do imóvel. Atraídos pelo negócio de ocasião, compram a casa
quase literalmente às cegas, e não tardam a entender o porquê da bagatela. Ela
é quase uma corporificação da Lei de Murphy, pois se algo tem a possibilidade
de dar errado, vai dar. Abrir uma torneira ou fazer o café da manhã pode (e
terá) consequências catastróficas, afinal de contas a casa está podre, caindo
aos pedaços, do encanamento às paredes, da instalação elétrica ao telhado.
Um Dia a Casa Cai traz ao menos três nomes de peso em sua equipe: Tom
Hanks, antes da consagração figurinha carimbada das boas comédias americanas
oitentistas; Steven Spielberg, então na produção; e Gordon Willis, conhecido
como “O Príncipe da Escuridão”, responsável também pela fotografia de, por
exemplo, O Poderoso Chefão e Manhattan. A trama segue o tom cômico na
maior parte das vezes, com as desventuras do casal em busca de dinheiro e
sanidade mental para levar adiante a reforma da casa, isso ao passo em que o
ex-marido dela, maestro famoso e egocêntrico, volta a investir para reaver a
conquista perdida. O personagem de Hanks é um advogado ligado à indústria musical,
cujo namoro se torna vítima de infiltrações semelhantes às do “queijo suíço”
que ele ainda teima em chamar de lar.
O grande trunfo de Um Dia a Casa Cai é não se levar a sério
demais, com uma que outra boa observação mais solene sobre relacionamentos. A
casa em reforma serve de metáfora do namoro de Walter e Anna, mas não é por
esse fiapo de “profundidade” que o filme vale, e sim por buscar nossa diversão
a todo instante. Difícil conter a gargalhada (ou sorriso, vá lá) quando meras
tarefas diárias desencadeiam efeitos borboletas de proporções nefastas na vida,
sobretudo, de Walter, alguém que apenas está querendo fazer a coisa certa, ser
um homem direito, mas que acaba vítima do imponderável. Hoje em dia, Tom Hanks
ocupa outro espaço no panteão hollywoodiano, pois um de seus habitantes mais
respeitáveis, entretanto como seria bom vê-lo novamente explorando a veia
cômica num filme próximo àqueles que o fizeram célebre no início da carreira.
Somos levados em Um Dia a Casa Cai a rir sem culpa da
desgraça alheia, dos problemas de Walter e Anna, estes empilhados visivelmente em
forma de entulho. Claro, quando o namoro deles passa por uma turbulência, ansiamos
pelo famigerado happy ending, ou
seja, somos sensíveis aos problemas do coração, porém alheios aos equivalentes
residenciais. Queremos mais é que a reforma se arraste, que Tom Hanks continue
vítima da casa, caindo nas armadilhas, descobrindo novos defeitos à custa da
sua integridade física, isso por que a relação dos personagens com o cenário
principal soa quase cartunesca. Quando entra a “vida real”, aí nos solidarizamos.
Mas o que define mesmo Um Dia a Casa Cai
é a diversão quase sádica proporcionada, afinal de contas, enquanto Walter luta
quixotescamente contra os defeitos da moradia, ficamos deste lado, torcendo
egoístas pela próxima emboscada, tudo em prol do riso. Um clássico (me perdoem
os puristas) para apreciar repetidas vezes.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Celito!
ResponderExcluirNossa, se assisti, faz muito.
Fiquei com muita vontade de me fazer espectador.
Grande abraço.
Assiste, Rafa.
ExcluirGarantia de diversão e boas risadas.
Abraços