quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Um Dia a Casa Cai


Quem casa, quer casa. A velha máxima se aplica a Walter Fielding (Tom Hanks) e Anna Crowley (Shelley Long), em Um Dia a Casa Cai (1986). Desalojados às pressas do apartamento onde moravam, precisam encontrar lugar novo para viver. Em Nova Iorque isso poderia demorar meses, mas eles logo topam com uma propriedade afastada da metrópole, cujo valor irrisório é incompatível com a imponência do imóvel. Atraídos pelo negócio de ocasião, compram a casa quase literalmente às cegas, e não tardam a entender o porquê da bagatela. Ela é quase uma corporificação da Lei de Murphy, pois se algo tem a possibilidade de dar errado, vai dar. Abrir uma torneira ou fazer o café da manhã pode (e terá) consequências catastróficas, afinal de contas a casa está podre, caindo aos pedaços, do encanamento às paredes, da instalação elétrica ao telhado.

Um Dia a Casa Cai traz ao menos três nomes de peso em sua equipe: Tom Hanks, antes da consagração figurinha carimbada das boas comédias americanas oitentistas; Steven Spielberg, então na produção; e Gordon Willis, conhecido como “O Príncipe da Escuridão”, responsável também pela fotografia de, por exemplo, O Poderoso Chefão e Manhattan. A trama segue o tom cômico na maior parte das vezes, com as desventuras do casal em busca de dinheiro e sanidade mental para levar adiante a reforma da casa, isso ao passo em que o ex-marido dela, maestro famoso e egocêntrico, volta a investir para reaver a conquista perdida. O personagem de Hanks é um advogado ligado à indústria musical, cujo namoro se torna vítima de infiltrações semelhantes às do “queijo suíço” que ele ainda teima em chamar de lar.

O grande trunfo de Um Dia a Casa Cai é não se levar a sério demais, com uma que outra boa observação mais solene sobre relacionamentos. A casa em reforma serve de metáfora do namoro de Walter e Anna, mas não é por esse fiapo de “profundidade” que o filme vale, e sim por buscar nossa diversão a todo instante. Difícil conter a gargalhada (ou sorriso, vá lá) quando meras tarefas diárias desencadeiam efeitos borboletas de proporções nefastas na vida, sobretudo, de Walter, alguém que apenas está querendo fazer a coisa certa, ser um homem direito, mas que acaba vítima do imponderável. Hoje em dia, Tom Hanks ocupa outro espaço no panteão hollywoodiano, pois um de seus habitantes mais respeitáveis, entretanto como seria bom vê-lo novamente explorando a veia cômica num filme próximo àqueles que o fizeram célebre no início da carreira.

Somos levados em Um Dia a Casa Cai a rir sem culpa da desgraça alheia, dos problemas de Walter e Anna, estes empilhados visivelmente em forma de entulho. Claro, quando o namoro deles passa por uma turbulência, ansiamos pelo famigerado happy ending, ou seja, somos sensíveis aos problemas do coração, porém alheios aos equivalentes residenciais. Queremos mais é que a reforma se arraste, que Tom Hanks continue vítima da casa, caindo nas armadilhas, descobrindo novos defeitos à custa da sua integridade física, isso por que a relação dos personagens com o cenário principal soa quase cartunesca. Quando entra a “vida real”, aí nos solidarizamos. Mas o que define mesmo Um Dia a Casa Cai é a diversão quase sádica proporcionada, afinal de contas, enquanto Walter luta quixotescamente contra os defeitos da moradia, ficamos deste lado, torcendo egoístas pela próxima emboscada, tudo em prol do riso. Um clássico (me perdoem os puristas) para apreciar repetidas vezes. 


Publicado originalmente no Papo de Cinema

2 comentários:

  1. Celito!
    Nossa, se assisti, faz muito.
    Fiquei com muita vontade de me fazer espectador.

    Grande abraço.

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