O ABUTRE é um daqueles filmes que
chegam devagar, sem fazer muito barulho, sem grandes coberturas prévias, e que
mostram por que está redondamente enganado quem estereotipa o cinema
norte-americano com base nos grandes sucessos de bilheteria. O diretor estreante
Dan Gilroy monta uma trama de interesse constante sobre os meandros da imprensa
marrom, evidenciando como ela, principalmente seu sucesso, espelha os anseios
do espectador, então cúmplice das ações do protagonista. Jake Gyllenhaal
desempenha o melhor papel de sua carreira como esse aficionado por teorias
corporativas que entra no ramo do sensacionalismo sem medo de sujar as próprias
mãos de sangue. Ele quer reconhecimento, quer ser alguém nesse mundo em que
somos praticamente obrigados a ser alguém. Da jornalista que alimenta a fome
voraz de Lou pela tragédia, ao espectador que a empanturra com altos índices de
audiência, todos são culpados nessa cadeia que se retroalimenta.
CLEAN começa expondo os excessos
muitas vezes associados aos artistas. A personagem de Maggie Cheung perde o
marido de overdose, vê-se presa por porte de heroína, em suma, tem a vida escangalhada.
O diretor Olivier Assayas estuda a intimidade dessa protagonista à deriva, num
filme em que ficamos suspensos à espera de eventos que mudem as coisas, viradas
drásticas, algo assim. Isso não ocorre por acaso, afinal o francês constrói uma
atmosfera que alude a certo filão do cinema norte-americano, brincando com seus
códigos para beneficamente frustrar nossas expectativas viciadas. O que importa
mesmo é acompanhar a oriental que ruma pela Europa por novas chances, de
trabalho, de ligações sentimentais, enfim, querendo reconstruir-se.
Autodestrutiva, ela quer reaver o filho, mas é difícil a luta que empreende
contra os vícios. Nick Nolte interpreta seu antigo sogro, homem simples,
austero, mas que a ajuda. Não se trata de redenção, o passado fala por si, mas
de uma segunda chance, tema tão caro à Hollywood, mas dificilmente abordado com
tamanha sensibilidade.
Muita vontade de ver O Abutre e de rever o 1o ano do resto de nossas vidas!!!! Muito legais as resenhas!
ResponderExcluirQuando puder, assista mesmo "O Abutre", Carol, pra mim é um dos melhores filmes do ano passado.
ExcluirBeijos
Adoro essas doses homeopáticas que oferecem, como efeito colateral, a vontade louca de sair correndo pro cinema rs. Valeu, Marcelo!
ExcluirObrigado, Ana Lúcia
ExcluirMuito bom poder contar com sua leitura
beijos
Pausas interessantes para uma reflexão. Também adoro este método da crítica em doses. E sobre o ABUTRE, tive a impressão que o personagem do Jake Gyllenhaal seria intragável e repudiado ao longo da sua escalada. Mas, pelo contrário, sua dose de insanidade é tudo que ele precisava para se dar bem. Esta moral ( amoral) da história é desconcertante porém completamente aceitável para nós expectadores dentro e fora da sétima arte. Dura constatação! Bjos Marcelo
ResponderExcluirObrigado, Bianca
ExcluirVerdade, como tu disse, o protagonista de "O Abutre" consegue "virar alguém" justamente em virtude de sua falta de escrúpulos, ou seja, o filme aí lança uma crítica à própria engrenagem social. Claro, é uma alegoria, mas que acaba resvalando fácil na realidade.
Beijos
Celo!
ResponderExcluirSempre bom ler essas pitadas, ainda mais quando abordam filmes interessantes.
Obrigado, guri.
Eu que agradeço a leitura de sempre, Rafa.
ExcluirAbração