sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Doses Homeopáticas #37


PERFUME: A HISTÓRIA DE UM ASSASSINO é baseado num romance considerado infilmável por, entre outros, nada mais nada menos que Stanley Kubrick. Portanto, o êxito do alemão Tom Tylker é ainda mais louvável. Em meio a uma França fétida, nasce um menino de olfato extraordinário. Mais que nascer, ele sobrevive à negligência da mãe e à falta de possibilidades. Quando adulto, busca capturar o perfume de tudo, seja de um pedaço de cobre ou do corpo feminino. Em sua sanha desmedida, esse predestinado vira um assassino que ceifa a vida de jovens para obter suas essências. Nós, sempre tão mais confiantes nos olhos, somos convidados a acompanhar alguém que faz dos aromas sua única razão de vida. Há muita intangibilidade na trama, talvez por isso outros cineastas tenham desconsiderado a adaptação. Entretanto, Tylker dá conta do recado, faz surgir o invisível e o sublime pelos poros da narrativa. As cenas da execução que vira orgia e da oferenda antropofágica final comprovam a qualidade acima da média deste filme.


O CRÍTICO é uma grande brincadeira que mistura estereótipos e chavões, tanto no que diz respeito aos críticos de cinema quanto às comédias românticas. O protagonista é um cara pedante, amargo, que não consegue ver um filme açucarado sem fastio. Então, ele conhece uma mulher imprevisível, daquelas que parecem saídas justamente de um roteiro capenga feito para a gente torcer pelo casal. A vida dele passa a andar no ritmo das comédias românticas, com emoções afloradas, corridas e chuva, muita chuva. Hernán Guerschuny faz um filme de gênero sobre um gênero, ou seja, ao mesmo tempo em que é fatalmente uma comédia romântica, se desenrola denunciando de maneira bem-humorada os artifícios que esse tipo de realização lança mão para conseguir a adesão do público. Meio que de brinde, uma observação simples sobre o que funciona na vida e o que funciona somente na arte, na cena em que o protagonista repete a ação de Jean-Paul Belmondo em Acossado. No filme de Godard, a ameaça vira sorriso, já na realidade gera só mais desconforto.  


DRAGON BALL Z: A BATALHA DOS DEUSES é uma grande bobagem. Primeiro, porque insiste em criar mais um nível de poder para o protagonista, Goku, como se isso, por si, garantisse o interesse dos fãs. Não funciona, pois o tal “deus supersayajin” é tão fajuto que nem dura muito, dando lugar ao bom e velho poder de superação como maneira de explicar rompantes de habilidades extraordinárias. Depois, porque tem um roteiro frouxo. A trama é repleta de passagens que não agregam ao perigo representado pelo deus da destruição, o antagonista da vez, ele que, aliás, mais parece um bobo da corte. Enquanto o que se espera é, pelo menos, algumas cenas de batalhas decentes, o filme insiste em ser engraçado, em tentar meio que voltar às origens, mas apenas patina sem sair do lugar. Nem ação, nem humor. O investimento na parte técnica também está aquém da fama que a série obteve pelo mundo. Assim, a animação propriamente dita é outra decepção. O filme serve, no máximo, para lembrar os saudosos tempos da série de TV, e olhe lá. 

3 comentários:

  1. PERFUME e a Arte . Impactante, dissonante mas extremamente profundo. O cheiro é o sentido das memória e das conexões. O jovem negligenciado pela sua família, comunidade, país ...( mais um ) se vê arrebatado pelo sentido do olfato. Neste momento o prazer, o valor, a vida se conectam com os sentidos. A partir daí a busca pela " essência " , pelos valores esquecidos, degradados se torna uma predestinação. Nesta França fétida nasce um predestinado ao PERFUME ! Contraditório caminho onde quem se vê condenado é quem busca pela essência da VIDA! Melhor morrer perfumado ... Fiquei muito interessada em ver o crítico ...Valeu Marcelo.

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  2. Oi, Bianca

    Eu que agradeço teus comentários, sempre ricos e proponho um olhar bastante singular sobre os filmes que eventualmente comento por aqui. Muito obrigado

    Beijos

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  3. Desses, assisti apenas a "Dragon Ball". E fecho contigo, uma verdadeira bomba. Não serve nem para uma simples e inofensiva audiência nostálgica. Os outros dois, anotarei aqui em minha lista mental.

    Grande abraço.

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