quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Scorsese e os Livros


A bagagem cinéfila de Martin Scorsese é tão notória quanto seu talento atrás das câmeras. Qualquer entrevista por ele concedida, desde que enveredada pela seara das influências, evidencia um conhecimento cinematográfico impressionante, alimentado desde muito cedo pelas idas ao cinema no bairro ítalo-americano onde cresceu entre clássicos americanos e filmes estrangeiros, estes de apreciação tão rara nos EUA. Experiências prática e teórica, assim somadas, dão a Scorsese um lugar cativo entre os maiores pensadores vivos do meio criado com intenções comerciais pelos irmãos Lumiere e tornado arte mais adiante. A atuação de Scorsese no campo da reflexão já rendeu de documentários a livros, e são justamente duas edições impressas que destaco aqui: uma cujo tema é o cinema americano e a outra sobre a própria carreira do diretor de Touro Indomável, Taxi Driver, entre outros.


UMA VIAGEM PESSOAL PELO CINEMA AMERICANO (Martin Scorsese, Michael Henry Wilson – Ed. Cosac Naify, 2010)

Uma Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano é adaptação do documentário homônimo, encomendado pela televisão inglesa no meio da década de 1990 para integrar uma programação especial alusiva aos 100 anos do cinema. Martin Scorsese foi, então, convidado a interpretar o cinema de sua terra, com a ajuda do colaborador Michel Henry Wilson.

O livro é feito dos comentários de Scorsese sobre filmes seminais estadunidenses, indo desde clássicos incontestes até obras mais obscuras. Repleto de apontamentos, diálogos retirados dos roteiros e imagens (e a edição brasileira é caprichada), Uma Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano é um excelente guia de descobertas e/ou de estudo aos interessados pelo cinema clássico americano, sobretudo o da Era dos grandes estúdios, além de veículo pelo qual podemos identificar uma que outra homenagem prestada por Scorsese em suas criações aos filmes que lhe são importantes.  


CONVERSAS COM SCORSESE (Richard Schickel - Ed. Cosac Naify, 2011)

Conversas Com Scorsese é uma coletânea de entrevistas concedidas pelo artista ao amigo Richard Schickel, de bate-papos que atravessaram os anos acompanhando a feitura e o lançamento dos longas documentais e ficcionais de Scorsese, assim oferecendo painel rico de auto-análise profissional e criativa desse que é dos mais importantes cineastas da história.

Cronologicamente, de filme em filme, somos guiados do início na Escola de Cinema da Universidade de Nova Iorque e as primeiras realizações, passamos pela efervescência renovadora da chamada Nova Hollywood, e chegamos até quase os dias atuais e a nova configuração dos meios de financiamento e produção. Scorsese demonstra clareza impressionante sobre sua própria obra, ainda que, como qualquer criador, tenda a vê-la com muito menos condescendência e/ou admiração do que o público. 



Publicado originalmente no Papo de Cinema

2 comentários:

  1. Esse é gênio (dos poucos)! Um verdadeiro apaixonado por cinema, que ajudou nesse movimento, muito bem destacado por ti, Celo, do comercial para a obra de arte. Quando juntamos literatura e cinema ou cinema e literatura, aí sim, como dá samba. E dos bons.

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  2. Verdade, Rafa

    Scorsese é mesmo diferenciado, seja como cineasta, seja como pensador.
    Abraços

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