Em OLMO E A GAIVOTA as diretoras
borram com gosto os limites entre ficção e documentário, confundindo os
registros para criar um filme que não se apoia apenas na linguagem, já que o
conteúdo é de extrema relevância. A maternidade, estado celebrado ao longo dos
tempos como ápice do sublime feminino, afinal de contas está a se gerar uma
vida, é vista sem condescendência, despida totalmente da aura de santidade com
a qual sempre foi revestida. A atriz que pensava poder conciliar apresentações
e gravidez se vê enclausurada por meses a fio em virtude de um problema que
pode ocasionar aborto. Antes eufórica por ser mãe, ela vai experimentando a
angústia e certa solidão, ainda que o marido seja tão presente quanto possível.
Ela divaga sobre a dificuldade de doar partes de si mesma a outra pessoa, não
com isso expondo falta de sensibilidade, pelo contrário. Cena se desenrolando e
ouvimos a voz de alguém pedindo para que a dinâmica do casal assuma outro tom.
Documentário ou ficção? Há um hibridismo muito interessante, discreto, que não
grita pela nossa atenção, justamente para que paulatinamente a diferença entre
verdade e encenação passe a ser irrelevante, diante da intensidade dramática
(forjada ou não) com que se aborda um tema tão complexo.
Em 007 SKYFALL, a obsolescência
está à espreita. As relevâncias de James Bond, de M, do MI6, são postas em
xeque pelos novos tempos dos terroristas virtuais, das grandes negociações
conduzidas e, muitas vezes, seladas online. Após um acidente, Bond não parece o
mesmo. O tempo é implacável e enquanto sua chefa defende a permanência do
serviço secreto na ativa, ele parte em busca do inimigo escondido nas sombras,
melhor dizendo, atrás da tela do computador. Sam Mendes faz um 007 com muita
ação, entre outros elementos canônicos do personagem que possui licença para
matar. Na medida em que a trama avança, torna-se urgente uma volta ao passado.
É a chance que o diretor tem de fazer uma série de homenagens à franquia
derivada dos livros de Ian Fleming, sendo uma delas a aparição do clássico
Aston Martin utilizado pelo Bond de Seann Connery em 007 Contra Goldeney, entre alusões a outros filmes. A sequência na
propriedade Skyfall é um dos pontos altos de toda a série, momento que permite
a Daniel Craig mostrar as qualidades dramáticas que fazem do seu Bond um dos
mais multifacetados e complexos de todos.
007 CONTRA SPECTRE é um filme
morno, nem ruim, nem bom, apenas meio insosso. Muito embora as perseguições, as
explosões, os flertes e a ameaça verdadeira à segurança mundial estejam
presentes, nada é de fato aprofundado. Após Skyfall
e toda aquela reflexão sobre o tempo, o obsoleto, que conferia camadas de
profundidade tanto à narrativa quanto ao protagonista, aqui as coisas acontecem
sem o devido peso dramático. Bond se depara com a iminente extinção do programa
00, encara um vilão com potencial para ser o mais significativo da era Daniel
Craig, mas o resultado é um 007 banalizado pelo boicote constante de momentos
pouco expressivos. Christoph Waltz decepciona, e bastante, como antagonista.
Monica Bellucci é uma mera figura de decoração, lhe deram um papel
insignificante, aquém de sua fama e talento. Léa Seydoux até que se sai muito
bem como par romântico do personagem interpretado mais uma vez com competência
por Craig, ator que consegue equilibrar força bruta e fragilidade. O problema
maior é o roteiro, que desperdiça situações, ora as estendendo para além do
necessário, ora se detendo menos do que deveria em passagens de muita
relevância ao todo. O final é menos ambíguo do que pode parecer, não apontando
realmente se teremos adiante uma nova era ou continuidade, bem ao gosto dos
produtores que, assim, mantém o suspense e a marca em evidência.
0 comentários:
Postar um comentário