domingo, 12 de abril de 2009

Novos diretores

Conhecer novos diretores é uma das práticas mais estimulantes para alguém que gosta de cinema. Há tantos, com toda a diversidade que esta arte permite que, quando descobrimos uma visão nova, uma maneira própria e estimulante de registrar histórias e transformá-las em obras perenes, que se apresentam como agentes transformadoras de quem as assiste, parece a abertura de uma nova janela. Neste final de semana tomei, pela primeira vez, contato com a obra de dois diretores, daqueles obrigatórios aos cinéfilos: F. W. Murnau e Pier Paolo Pasolini.

Do expoente do Expressionismo Alemão, assisti Aurora, sua primeira incursão pelo cinema nos EUA. O início nos passa a enganosa impressão de que estamos diante de um exemplar de fundação, porém que sucumbiu ao tempo. É claro que impressiona num filme de 1927 a técnica de Murnau, os deslocamentos de câmera e o senso estético do alemão, na composição de quadros belíssimos. Porém, a partir de dado momento, a estética é enriquecida por uma trama de crescente relevância, num filme que, conforme passam os minutos, fica melhor e melhor. Ao fim de tudo, me impressionou a belíssima história de amor, contada de maneira muito delicada, nada caudalosa, e o exemplar maravilhoso que, independente da época, Aurora é. Cinema, sem dúvida, daquele que produz iluminação.

De Pasolini, autor por quem sempre nutri imensa curiosidade, assisti à Teorema, obra que, por muitos anos, foi banida de diversos países. Na época de seu lançamento, Pasolini foi ameaçado de prisão, atacado como “obsceno” pela direita e como “místico” pela esquerda italiana, devido à seu posicionamento social. Este primeiro contato com o cinema de Pasolini me disse que ele, provavelmente, tinha uma mente complexa e que, seus filmes (se seguem a tendência deste) exigem mais de seus expectadores. A história de uma família burguesa que tem suas bases desestruturadas pela chegada de um visitante, possuí ecos políticos, religiosos, psicanalíticos, isto tudo na apropriação de uma linguagem que não permite concessões, no desenvolvimento lento de situações metafóricas que buscam ilustrar, da maneira mais incisiva possível, a desestrutura da burguesia perante a evolução das pessoas e, consequentemente, da sociedade. Classifico o ato de assistir à Teorema de visceral, difícil, doloroso até, mas visceral. É claro que, assim que me recuperar da violência com que Teorema se instaurou em mim, procurarei retornar à Pasolini. Se bem que o faria mesmo que não tivesse gostado da primeira vez. Treinar o olhar, os sentidos principalmente, é fundamental para os que amam o cinema.

2 comentários:

  1. Não posso falar sobre Murnau e seu Aurora, mas Pasolini me impressionou, e muito, com Teorema. Por melhores que sejam certos filmes que tenho visto nos últimos tempos, nenhum deles causou maior impacto que este, que já considero um exemplar excepcional de cinema, aqui em particular servindo como fonte para análises e múltiplas interpretações. É ótimo ver um filme que se desenvolva com imensa capacidade em quesitos técnicos, de roteiro, direção e tudo mais, mas quando ele ainda agrega elementos não facilmente identificaveis pelo espectador, exige do mesmo por não se limitar ao convencional, o prazer em ver algo assim é quase inexplicável. É um filme difícil de ser visto, sem dúvida, mas não por isso menos agradável. Acredito que perco por esperar para ver outros filmes de Pasolini.

    Abraços Celo!

    ResponderExcluir
  2. Olá, Celo!
    Sobre os diretores supracitados:

    Murnau - "Aurora" é fantástico e plenamente atemporal. O filme por si só impressiona e, se o analisarmos a partir da data de sua elaboração, tal situação é como que saída de um calizador.

    Pasolini - Não gostei nada de "Teorema", talvez por estar quase como em um nevoeiro, tamanha a disposição para o sono, a qual foi acrescida pelo ritmo do filme.

    Pretendo assistir outras obras desse autores e, ao menos tentar, entender a importância de cada um deles para a construção do cinema como ele é.


    Abraçossssss

    ResponderExcluir