sábado, 11 de abril de 2009

Parcerias

Assistindo hoje ao ótimo Ata-me, de Pedro Almodóvar - completando assim a filmografia já lançada do diretor - peguei-me impressionado com a atuação selvagem e avassaladora de Antonio Banderas. Todos, pelos menos aqueles que gostam e acompanham um pouco de cinema, sabem que o ator, hoje dono de uma carreira estável no cinema norte-americano, começou a ter notoriedade nos filmes de Almodóvar, ou seja, trabalhando em solo espanhol, interpretando tipos bem distantes daqueles que encarna com frequência no cinema do norte da América. Mesmo que nos EUA, Banderas tenha incursionado por todo tipo de personagem, desde os mais relevantes até os mais dispensáveis, sempre achei - desde que me apaixonei pelo cinema de Almodóvar, é claro - que ele nunca foi tão forte, tão contundente e tão ator como quando é regido pelo espanhol. Seu último filme com Almodóvar foi justamente Ata-me, em que interpreta Ricky, um doente mental considerado já “apto para conviver em sociedade” e que, ao sair da instituição aonde era mantido, vai em busca da mulher por quem se apaixonou numa de suas escapadas pregressas. É claro que Victoria Abril, utilizando seu enorme talento e uma sensualidade que parece emergir da tela, é o corpo do filme, dos pontos de vista literal e metafórico, mas a alma é Banderas e seu personagem fragmentado, desesperado e profundamente infeliz. Dá vontade de ver o ator numa performance destas novamente. Quando veremos Banderas sendo regido novamente por Almodóvar?


Este caso me fez pensar em outra dupla que, desfeita há algum tempo, poderia vir a trabalhar novamente: Woody Allen e Diane Keaton. Quem não lembra com saudade das parcerias inesquecíveis entre os dois, principalmente quando Allen, além de dirigir, também atuava com ela? Quem não se recorda de Alvy Singer e Annie Hall, casal icônico de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa? Ou mesmo a dupla inesquecível do clássico A Última Noite de Boris Grushenko, uma das melhores comédias de Woody Allen que deve seu brilho, além do excelente roteiro que parodia obras clássicas da literatura e cinema russos (e Bergman), ao perfeito entrosamento entre Diane Keaton e o diretor que melhor lhe retratou no cinema? No momento, Diane faz somente algumas comédias rasteiras, filmes muito aquém da carreira que construiu outrora. Seu último filme digno de lembrança é Alguém Tem que Ceder. Não está na hora de vermos novamente a dupla Keaton e Allen em ação?

Com estes dois casos não estou dizendo que Antonio Banderas não é nada sem Pedro Almodóvar e nem que Woody Allen é a única razão do sucesso de Diane Keaton. Quero apenas propor a reflexão acerca de que, quando eles, os atores, se juntavam à estes diretores, especificamente, suas atuações ascendiam à um patamar que hoje não conseguem. Imagino que nada no cinema, uma arte que testemunhou, ao longo dos tempos, inúmeras parcerias bem sucedidas, substitua esta alquimia natural e inexplicável entre um diretor e seu ator e, quem sabe, é este o toque que me encanta tanto nestes dois casos.

2 comentários:

  1. Ótimos atores, sem dúvida, que nunca foram tão bem aproveitados por outros diretores ou em outros trabalhos. Diane Keaton em especial é um caso para estudo: o que ela anda fazendo com sua carreira? Seus últimos filmes são peças do extremo do cinema comercial, e é realmente difícil conseguir enxergar a excelente atriz que esteve nos filmes do Woody Allen. Mas Allen é esperto... Prefere substituir suas musas de outrora (Keaton e Mia Farrow, outra esquecida pelo cinema e pelo mestre) por jovens que, em seus filmes, conseguem demonstrar imensa capacidade além de beleza, como é o caso de Scarlett Johansson.

    Ótimo texto Celo, argumentos bastante válidos!

    Abraços. ;)

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  2. Olá, Celo!
    Claro, de forma resumida e aquém do ideal, manifesto a concordância de minha parte em relação ao seu texto, bem construído e pertinente. Reflexões sempre nos fazem melhores e a ruminância atenua os efeitos digestivos indesejados, tornando uma experiência além do momentâneo. Isso é a arte atuando em nossas vidas de maneira efetiva e, fundamental.

    Abraçosss

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