sábado, 26 de setembro de 2009

Festival do Rio: Doce Perfume


Com o peso e a densidade que lhe são peculiares, Andrzej Wadja narra um filme dentro de um outro filme. Cada cena nos dá a impressão de que foi feita artesanalmente. Muita ênfase nas interpretações soberbas, intensas, fazendo lembrar os filmes de Bergman, com aquela estrutura densa, profunda, diálogos sofridos, angustiantes. Sem falar na fotografia, linda! Parte do filme acontece como uma espécie de monólogo, onde a protagonista, vivida pela atriz Krystyna Janda, ensaia falas dentro de um quarto que contém apenas uma cadeira e uma cama, com pouca iluminação, impregnado de um clima claustrofóbico. O filme vai se explicando a partir desses monólogos e tomando corpo com a história em si sendo contada através dessas imagens que contém elementos oníricos e metafóricos.

Tive a impressão de que tamanha dureza, retratada nos diálogos e no próprio roteiro, não caíram em momento algum num melodrama ou numa sofrida angústia nua e crua. Pode parecer estranho, mas acho que Andrzej Wadja conseguiu ser suave, e nos convidar a mergulhar fundo nesse universo de dor e tristeza sem ser apelativo. Natural, e para quem viu o filme talvez entenda a reação de muitos saírem do cinema como aconteceu hoje, antes da metade. Pois incomoda, entristece, angustia, mas ao mesmo tempo Doce Perfume expressa uma beleza única, ímpar, onde todo detalhe é cuidadosamente trabalhado, cada cena traz consigo um recorte do filme inteiro.

Andrzej Wadja foi generoso escrevendo e dirigindo esse belo filme. Não é pra qualquer um, não deve cair nas graças da maioria e pode facilmente ser taxado de "filme arrastado". Em contrapartida quem adere ao estilo desse diretor polonês se apaixona e deve sair do cinema assolado, encantado, mas também triste. Gostaria de rever Doce Perfume, achei imperdível! E senti que quem ficou até o fim saiu com esta mesma sensação.


4 comentários:

  1. Marcelo,

    Lembrei bastante de você durante o filme. Quando assistir vai entender porque e acho que vai adorar!

    Quanto mais nos envolvemos com um filme, mais difícil fica redigir algo a respeito? Vocês acham isso?
    Fiquei com a sensação que é mais fácil fazer uma crítica quando estamos "de fora", sem muito envolvimento.

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  2. Oi Carol,

    Estou curioso para assistir este também, até porque (vergonha!) eu nunca vi nada do Wadja.

    Quanto a facilidade do escrever uma crítica e/ou um comentário estar ligada ao envolvimento emocional, para mim varia. Gosto tanto de escrever emocionalmente envolvido ou mesmo quando a estrutura ou qualquer coisa mais racional me chama mais a atenção.

    beijosss

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  3. Olá, Carol!
    Sinto pena da fraqueza expressa por aqueles que saem na metade de um filme, pelo incômodo que o mesmo proporciona. Presenciei tal fato no excelente "Boa Noite e Boa Sorte". Às vezes o prêmio pertence aos de boa paciência.

    Beijosss

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  4. Carol!

    Ótimo texto, agradável mesmo! Percebe-se que o filme te encantou e acho que isso é muito válido na crítica, quando demonstra e expõe motivos pelos quais o filme te cativou... Eu fiquei apenas mais curioso.

    Assim como o Celo não vi nada do Wadja, mas sei que perco por esperar... Parabéns pelo texto.

    Beijos!

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