quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cinema 3D. Diferente. Deslumbrante. Duvidoso.

3D. Nunca se ouviu falar tanto de uma tecnologia que já existe há mais de meio século, mas que apenas no último ano encontrou seu lugar no cinema – graças, em grande parte, a (ou por culpa de) James Cameron. Já é lugar comum falar da revolução que Avatar causou em seus semelhantes, os blockbusters, e não é minha proposta com o presente texto ressaltar a grande verdade supracitada. O que procuro é tentar expressar em palavras o que acontece com um movimento tão recente para a sétima das artes, que ainda não é inteiramente compreendido pelos que trabalham com ela – realidade evidenciada através do excesso de produções pífias produzidas constantemente – e ainda menos por seus espectadores.

Diferente

Uma arte estagnada, que não evolui ou se diferencia, pode ser dada como morta a qualquer momento. O cinema há tempos procura por meios de se renovar, seja em novas propostas artísticas e técnicas ou em táticas para sempre estar em evidência. O marketing nunca foi tão fundamental para o cinema como hoje, pelo óbvio motivo de que um filme não visto acaba ignorado. Em sua evolução, as ditas grandes revoluções foram com o advento do som e a cor no cinema, e agora o 3D já é reverenciado por ser a mais nova delas – embora seja um tanto precipitado creditar tal mérito a um recurso tão pouco explorado.

O 3D está no cinema há muitos anos, demorou para ser amplamente exaltado e conquistar audiências. Produções como A Casa de Cera (a versão original, de 1953), e até mesmo Disque M para Matar, de Alfred Hitchcock, experimentavam as primeiras reações do grande público, até então bastante céticos com a tecnologia. As produções 3D seguiram e a tecnologia foi evoluindo ao longo dos anos, mais comumente sendo utilizada em filmes de suspense, terror e ficção. Com o surgimento do IMAX em 1985 o 3D passou a ser explorado novamente, mas apenas em 2003 ele entrou no cinema comercial, sendo James Cameron o principal técnico creditado pelo sistema de filmagem digital utilizado a partir deste momento.

O 3D retornou às salas que suportavam a exibição de filmes no formato através de produções de gosto duvidoso direcionadas ao público infanto-juvenil - idade pueril onde a curiosidade e a inocência antecedem o senso crítico. Logo depois passou a ser aplicado novamente em filmes de terror e aventura – e posteriormente Avatar estreou, fez a maior bilheteria do mundo e agora todas as produções do gênero (e de gênero) querem ser como ele.

Deslumbrante

E então o público se encantou com o 3D. Sedento pela novidade, muitos passaram a creditar inventividade e evolução a cada produção que utilizava o recurso e preenchiam em massa as salas de exibição. Ainda que uma sessão não estivesse lotada, meia sala de espectadores em um filme 3D equivalia a uma sala inteira de público no modelo de projeção convencional, devido ao alto custo dos ingressos. Com isso a tecnologia se propagou e passou a funcionar perfeitamente para as intenções comerciais de estúdios e distribuidoras, assim como dos espaços exibidores.

Ir ao cinema ficou mais parecido com uma visita a um parque de diversões. A falsa interatividade que o 3D proporciona encantou o público, que pretere a qualidade da produção cinematográfica em benefício aos efeitos e alegorias digitais – como um inocente inseto que se aproxima da luz, extasiado.

Assistir a um filme em 3D causa realmente um efeito singular no espectador, que ainda é antecipado por um misto de curiosidade pela novidade e grande evolução. Para alguns, a experiência é mais completa, mais real – o que soa incoerente, já que os filmes que até então fizeram uso da tecnologia estão mais próximos da fantasia que da realidade. O que pode se tirar disso é que a tridimensionalidade aplicada nessas histórias as torna mais críveis, ou mais fáceis de serem experimentadas pelos espectadores.

De qualquer forma, é por essas e outras que o 3D permanece tão em evidência recentemente. Para a indústria cinematográfica, por consequência, o pote de ouro no final do arco-íris finalmente foi encontrado.

Duvidoso

Como tudo o que é novo causa controvérsia, o 3D divide opiniões. Há aqueles que apreciam a técnica, quando bem empregada, e que acreditam que a mesma veio para ficar, enquanto outros julgam que o recurso não durará muito tempo e toda a excitação em torno da tecnologia se dissipará em breve.

O assunto se torna polêmico quando entramos no espectro recente e já recorrente dos filmes que foram desenvolvidos originalmente em duas dimensões e que estão sendo convertidos para o 3D. Com custo mais baixo, a conversão garante aos estúdios, distribuidores e exibidores que o filme ocupará salas que comportam o tipo de projeção, faturando assim muito mais do que se lançassem o filme apenas em salas convencionais.

O problema das produções convertidas, a princípio, é que as mesmas não foram pensadas em 3D durante todo o processo que consiste na feitura de um filme. Mas isso não atrapalha as empresas especializadas nas conversões, que garantiram o lançamento do recente Alice no País das Maravilhas no formato, para citar apenas um exemplo das tantas produções planejadas para o 2D que posteriormente foram (ou serão, no caso de vários filmes) convertidas.

Nesse sentido, podemos exaltar o Avatar de James Cameron. A produção foi pensada e realizada inteiramente em três dimensões, com equipamento desenvolvido especificamente para isso. O processo é difícil e custoso, mas gratificante para realizador e espectador, proporcionando para o segundo a experiência completa do que se propõe o cinema tridimensional.

Ainda é muito cedo para se fazer previsões, acusações e análises mais fundamentadas, mas deve-se esperar um mundo de produções do gênero ocupando as salas do cinema mais próximo de você e, mais cedo do que se imagina, sua casa também. Má notícia para os cinéfilos tradicionais.


2 comentários:

  1. Belo texto e pertinente reflexão, Kon.

    Nunca vi um filme em 3D, mas tenho curiosidade, pela experiência sensorial. Sobre o 3D ser o futuro do cinema, sou cético, posso dizer até que sou reacionário quando o assunto é o cinema em três dimensões. Por exemplo, me irrita, profundamente, quando, para se fazer propaganda do formato, alguns dizem: "provoca maior imersão". Por favor, quando o filme é bom, relevante de alguma forma, ou mesmo meramente divertido, não precisamos nos transmutar em elemento de cena, tendo objetos que passam por nós, coisas que são ilusoriamente projetadas para fora da tela, para entrar em simbiose com a narrativa, para imergir. O 3D é uma jogada muito mais comercial do que artística. Me parece que o 3D atende perfeitamente, e por isto acredito que veio para ficar, às novas gerações, que parecem ter cada vez menos poder de concenração no cinema (vide as conversas e festival de sons que tomam conta dos cinemas). Sei que estes meus "dois pés atrás" com o 3D fazem com que eu deixe de levar em conta um pouco das possibilidades das três dimensões na escrita cinematográfica. Fazer o quê? Sou um cinéfilo tradicional, daquele que vê com maus olhos os prognósticos de dominação da nova tecnologia. É como disse recentemente Robert Ebert num artigo acerca do assunto: “Não sou contra o 3-D como uma opção, mas sou contra o 3-D como um estilo de vida”. Isto resume bem minha opinião.

    Abraçossss

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  2. Olá, Kon!
    Belo texto sobre a onda 3D. Como o Celo costuma ressaltar sempre que a oportunidade surge: o que interessa é a qualidade do filme. Espero que essa "nova" ferramenta seja usada como tal e não como protagonista de uma experiência vazia e meramente sensorial.

    Abraçossss

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