sábado, 29 de maio de 2010

High Five: A imprensa norte-americana vai ao cinema












Após um hiato considerável, a quase extinta coluna High Five retorna com suas habituais indicações, menções, apontamentos ou o que quer que seja, sempre listando através de um tema em específico cinco obras relevantes para o assunto escolhido. Para tal retomada, deixando pílulas de didatismo e dados acadêmicos de lado, listo agora cinco filmes essenciais quando o assunto é a imprensa norte-americana e seus profissionais.

Sejam inescrupulosos ou extremamente éticos, críticos ou sensacionalistas, em outros casos tudo isso, tais profissionais foram retratados em vários grandes filmes e aqui vão cinco deles, por ordem de lançamento. Clique no título dos filmes para obter mais informações sobre os mesmos.

Cidadão Kane
Citizen Kane, de Orson Welles (1941)

Entre 10 listas sobre os maiores filmes já feitos, 9 e ½ delas apresentam Cidadão Kane nas primeiras posições. A importância do filme para a evolução do cinema é indiscutível e o mesmo também não pode ser ignorado quando se pensa nos maiores filmes sobre a indústria midiática norte-americana, aqui em específico a de mídia impressa. A história de Charles Foster Kane, garoto pobre que se torna um dos homens mais influentes e ricos do mundo, pode ter sido baseada na vida do magnata William Randolph Heast, que chegou a ser proprietário de 28 jornais. Ainda que negasse tal inspiração, Orson Welles escreveu, dirigiu e interpretou um dos mais icônicos personagens que Hollywood jamais vira em sua história. O filme mostra como a imprensa pode ser manipulada e se posicionar quando o poder máximo da informação está no controle supremo de um único homem.



A Montanha dos Sete Abutres
Ace in the Hole, de Billy Wilder (1951)

Exatamente uma década depois de Orson Welles e seu Cidadão Kane, o gênio das comédias Billy Wilder dirigiu aquele que é considerado por muitos profissionais da área o mais importante filme feito sobre o trabalho de um jornalista. Kirk Douglas interpreta o multifacetado Charles Tatum, jornalista que caiu no ostracismo depois de uma série de trabalhos infelizes. Quando é encaminhado para cobrir um acontecimento tedioso para um emprego que deveria ser temporário, mas que se estende por mais de um ano, Tatum encontra na simplicidade de um fazendeiro e no acidente em que o mesmo se envolveu a oportunidade para conseguir seu tão estimado prestígio de volta. Com um roteiro elaborado de Wilder em parceria com Lesser Samuels e Walter Newman, que privilegia e desenvolve ao máximo tanto a ação quanto seus personagens, “A Montanha dos Sete Abutres” apresenta temas como ganância, falta de ética, polêmica e sensacionalismo no jornalismo, tão presentes nesta e em várias outras profissões.



No Silêncio de uma Cidade
While the City Sleeps, de Fritz Lang (1957)

Ainda que seja mais lembrado por seu envolvimento com o cinema expressionista alemão e pelas sombrias obras que realizou no país europeu, não se deve ignorar o período em que Fritz Lang produziu filmes nos Estados Unidos, quando dirigiu significativos filmes de suspense, como “Suplício de uma Alma”, ou dramas arrebatadores, como “Só a Mulher Peca”. No final dessa fase, Lang comandou o excelente “No Silêncio de uma Cidade”, espécie de noir que apresenta o jornalismo investigativo levado às últimas consequências, quando certos profissionais se arriscam por uma matéria e acabam exercendo a atividade de detetives e policiais. “No Silêncio de uma Cidade” faz uma leitura do jornalismo dentro de um prisma mais amplo, incluindo em sua narrativa principal a mídia de forma impressa, televisiva e até mesmo através do extinto telex.



Rede de Intrigas
Network, de Sidney Lumet (1976)

Nos anos 70 o prolífico realizador Sidney Lumet dirigiu no mínimo três grandes obras: Serpico, Um Dia de Cão (considerados dois dos melhores filmes de Al Pacino) e este Rede de Intrigas. Reconhecido por sua maneira peculiar de filmar, sempre com muitos ensaios e dando atenção imensa ao seu elenco e liberdade para o desenvolvimento de seus personagens, Lumet nos presenteou em Rede de Intrigas com os desempenhos memoráveis de William Holden, Faye Dunaway e de Peter Finch, inesquecível como o surtado Howard Beale – performance que lhe rendeu um Oscar póstumo. Outro filme inesquecível que apresenta de forma bastante realista e inteligente até onde a televisão pode ir quando o que está em jogo é o índice de audiência.



Boa Noite e Boa Sorte
Good Night and Good Luck, de George Clooney (2005)

George Clooney já não era apenas um galã de cinema que nascera na televisão quando dirigiu este “Boa Noite e Boa Sorte”, mas, mesmo assim, seu prestígio aumentou consideravelmente e o filme fez com que o ator fosse levado ainda mais a sério como um artista. Além de merecer destaque no currículo de Clooney, o filme ficou marcado por ter revelado tardiamente todo o talento de David Strathairn, que até então não tivera um papel de tamanha representatividade. Apresentando a delicada relação entre a imprensa e a política, assim como fizera “Todos os Homens do Presidente”, de Alan J. Pakula, “Boa Noite e Boa Sorte” constrói uma narrativa tensa e instigante sobre o período que ficou conhecido como a “caça às bruxas” nos Estados Unidos e o duelo entre o Senador Joseph McCarthy e Edward Murrow e a rede televisiva CBS. Não apenas um dos melhores filmes sobre o jornalismo no cinema, “Boa Noite e Boa Sorte” merece figurar em quaisquer listas com os grandes filmes dos últimos anos.

2 comentários:

  1. Olá Kon,

    Então era a ressurreição do "High Five" que estava engatilhada? Que ótimo cara e belo reinício, este falando da relação imprensa/cinema.

    Dos citados, ainda não vi "A Montanha dos Sete Abutres" e "No Silêncio de uma Cidade". "Cidadão Kane", nem precisa de comentários. "Rede de Intrigas" é mesmo memorável, um trabalho de mestre na investigação não só dos meandros da televisão, como também dos limites da ética humana, ou a falta deles. "Boa Noite e Boa Sorte" é um dos filmes mais subestimados dos últimos tempos, sem dúvida uma obra poderosa sobre um período histórico dos mais importantes da história americana.

    Parabéns pelo recorte e, desde já, fico na expectativa do próximo "High Five".

    Abraços

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  2. Olá, Kon!
    Nossa, bem bacana esta lista, a qual serve de dica para pessoas que como eu, não viram todos ou a maioria de seus componentes. Dela, assisti apenas ao extraordinário e incontestável "Cidadão Kane" e ao excelente "Boa Noite e Boa Sorte". Fiquei feliz que tal produção figura no post temático acima, pois ainda há vida inteligente no cinema contemporâneo.

    Abraçossss

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