segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sessões recentes

Super 8
Assumidamente fã de Steven Spielberg, o diretor J.J. Abrams, que parece trilhar caminho semelhante ao do diretor de ET, resolveu homenageá-lo com este filme ambientado nos anos 80, cheio de referências à algumas obras que marcaram aquela época, principalmente às produzidas pela mítica Amblin Entertainment (de Spielberg) que, aliás, é uma das produtoras de Super 8. A balbúrdia em torno do acidente ferroviário do qual escapa um alienígena e a paranóia armamentista do governo ávido por manter seus segredos, são apenas cenários para o real mote do filme: a conflituosa relação entre pais e filhos. O menino que não consegue se comunicar com o pai e a menina vítima da perdição de seu progenitor, precisam se unir para o crescimento mútuo, para que amadureçam com o desenvolvimento destes laços paternos. Super 8 é nostálgico, divertido e cheio de piscadelas cinematográficas aos mais atentos, o que dá ainda mais espessura a um molho delicioso, daqueles que deveríamos degustar com mais frequência.

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Mamma Mia
Baseado num musical, Mamma Mia é embalado por canções do Abba, um dos mais saudosos e populares grupos da década de 70. Aos familiarizados com a sonoridade, o filme guarda boas passagens, afinal de contas como não se interessar - nem que seja minimamente - por números que giram em torno de “Dancing Queen” e “Mamma Mia”, por exemplo? Porém, como obra cinematográfica Mamma Mia é bem capenga, tem desenvolvimento preguiçoso e é guiado demais pelas “historietas” contadas nas músicas que o compõem. Na trama da garota que resolve convidar para a cerimônia de seu casamento os três amores pretéritos da mãe, com o intuito de descobrir qual deles é seu pai, sobrevivem, além da música, o elenco respeitável (que vai de Meryl Streep a Colin Firth) e a sensação gostosa de vermos intérpretes mais acostumados a dramas densos, se divertindo para valer com o processo de um filme leve e sem pretensões. Pena que Mamma Mia seja tão raso.

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Terra de Ninguém
Primeiro longa do recluso Terrence Malick, Terra de Ninguém, ambientado no interior dos EUA, é um filme arrebatador sobre o amor impulsivo e quase infantilizado entre um catador de lixo e uma adolescente. Ele parece James Jean, é um cara um tanto quanto fechado em seu próprio mundo de expectativas oprimidas. Ela é uma menina com traços de criança, também sufocada, só que pela rígida criação paterna. Não há torrentes emocionais que guiem este amor ladeado de tragédias, norteado por um torpor quase intrínseco. Ele se perde justamente quando tenta se enquadrar, enquanto ela se desencaminha sem ao menos ter ambicionado trilhar qualquer caminho. Filhotes da inércia, incrustados no interior americano que se debatia pela manutenção de sua identidade frente aos novos tempos, as figuras de Terra de Ninguém são signatárias do período de incertezas em que estavam inseridos. Grande estreia, grande filme.

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Juventude
Um dos mais interessantes cineastas brasileiros, Domingos Oliveira traz em Juventude novamente seus característicos personagens de verborragia inspirada que gravitam em torno dos relacionamentos. Três homens resolvem comemorar a amizade ao relembrar os anos que não voltam, os amores e as dores que os fizeram ser o que são. Como os cardeais da peça que os uniu na infância, eles desfilam pela memória, ora melancólica e cheia de arrependimentos, ora repleta de saudosismos doces, daqueles que só compartilhamos com os que nos são caros de longa data. Ao experiente Domingos, parece imprescindível desenvolver um visual poético que corrobore com os colóquios hipnotizantes dos três senhores reverentes da memória, e ele o faz dignamente, entregando um filme formalmente mais complexo que seus anteriores recentes. Ode à amizade e à maturidade, Juventude é mais um dos inúmeros passos assertivos na carreira do nosso mais afiado cronista cinematográfico de costumes.

4 comentários:

  1. De todos os filmes mencionados, não vi apenas o do Malick, que ocupará uma de minhas próximas sessões. Quanto aos outros, divido impressões muito parecidas com as suas. Seu post me lembrou de que devo incursionar pelo cinema do Malick para me preparar para o "Árvore da Vida" e ver mais filmes do Domingos de Oliveira. Quanto ao Abrams, espero que a megalomania do Spielberg não o atinja!

    Grande abraço, Celo!
    Parabéns pelo texto.

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  2. Que mix eclético!!Assisti ontem "Terra de ninguém"(coincidencia) justamente por não ter gostado de "Árvore da vida" mas por ter adorado"Days of heaven"e "além da linha vermelha".Fiquei intrigada com o estilo de Terrence M. Admito após ter visto o vencedor de Cannes, que houve empenho,que se trata de um trabalho impecável em vários aspectos,mas que o apelo religioso aliado a viagem insólita de Malick me frustrou e não fez minha cabeça.Talvez eu estivesse fixada em "Melancolia", filme que vi 1o e amei!!Pode ser que seja isso..mas voltando ao post..achei "Terra de ninguém" ÓTIMO!

    "Super 8"nao rolou, mas tb vi depois de "Melancolia"..rsrs, sou suspeita então!

    Tenho carinho por Mamma Mia, pq adorooo ABBA e o filme presta uma bela homenagem a banda.No mínimo divertido, para quem gosta das músicas.

    beijos

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  3. MAMMA MIA! é, a meu ver, uma bomba: brega, clichê, irritante... difícil compreender o que Streep e Firth estão fazendo ali.
    SUPER 8 é mesmo delicioso, mas esperava um pouco mais. Esperei uma obra-prima, um filme que fosse tão mágico quanto aqueles que ele homenageia, mas, infelizmente, não chega a tanto.
    TERRA DE NINGUÉM é realmente um grande filme, uma bela estreia para Malick, que depois faria coisas ainda melhores (DIAS DE PARAÍSO e ALÉM DA LINHA VERMELHA).

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  4. Olá, Celito!
    Esses textos curtos e objetivos são deliciosos.

    Parabéns,
    Abraçossss

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