sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Mãe e Filha | Transeunte

No recente Festival de Cinema de Gramado, dois filmes da Mostra Panorâmica foram destaque entre os nacionais: Mãe e Filha, do cineasta Petrus Cariry, vencedor do último Cine Ceará, e Transeunte, igualmente elogiado nos festivais pelos quais passou, dirigido por Eryk Rocha. Curiosidade: os diretores são filhos de grandes cineastas de outrora, respectivamente Rosemberg Cariry e Glauber Rocha.

Resgato aqui os pequenos textos que produzi in loco na ocasião.
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Mãe e Filha
Mãe e Filha de Petrus Cariry foi o grande filme exibido em Gramado este ano, infelizmente impossibilitado de competir por já ter faturado o Cine Ceará. Tempo e morte no retorno da filha pródiga que traz nos braços seu bebê desfalecido, para que a mãe, esquecida no meio do nada, o abençoe e o sepulte. A senhora então celebra o neto morto, a quem banha e promete a cidade fantasma em que vive. Velhos remorsos e lacunas afetivas surgem nas entrelinhas.

As edificações e ruínas do lugarejo são também personagens, pois evocam a decrepitude e o que ainda teima sobreviver. Vida e finitude são velados pelos quatro cavaleiros do apocalipse, estes seres bíblicos que se agregam à narrativa, que a permeiam assim como a presença selvagem dos animais. Na condução, o tempo é tornado abstrato por Petrus, que o manipula exemplarmente, aliás, como há muito não se via em nossa cinematografia. Mãe e Filha é uma grande realização, daquelas que ficam conosco por um bom tempo, se desdobrando, ecoando.




Transeunte
Primeiro filme de ficção de Eryk Rocha, Transeunte presta-se à observação do cotidiano de Expedito, aposentado que vive sozinho após a morte da mãe, com quem sempre morou. Caso se creia que talento é transmitido pela carga genética, e levando em consideração que Eryk é filho do saudoso Gláuber Rocha, não haverá qualquer surpresa quanto às qualidades latentes de Transeunte, uma obra virtuosa.

O filme possui vocação silenciosa, mas, paradoxalmente, é guiado em boa parte pela música e pelos sons do cotidiano. Expedito vaga pelas ruas fluminenses orientado pela sensação vazia da existência burocrática e protocolar, fotografado num preto e branco de imagem bastante granulada e com enquadramentos fechados, quando não hiper fechados. Transeunte é formalmente rigoroso, exige do espectador na mesma medida que o recompensa, claro, desde que este se disponha a contemplar, a vestir-se tal e qual Expedito em sua descoberta lenta e gradual do ciclo da dor, e dos raios solares que aos poucos o abrandam. Grande filme.

Um comentário:

  1. Olá, Celo!
    Isso mesmo, resgate seus textos escritos na época dos Festival de Cinema de Gramado. Sempre oportunos.

    Abraçosssss

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