sexta-feira, 5 de abril de 2013

Celeste e Jesse Para Sempre

Casais ideais e sem problemas já não vendem mais como antigamente. O ‘felizes para sempre’ ainda interessa a uma grande parcela de espectadores do cinema contemporâneo, mas duplas desafortunadas já estão na moda há algum tempo. Estão aí para provar tal tese os protagonistas das desventuras românticas Separados Pelo Casamento (2006), (500) Dias Com Ela (2009) e até mesmo de O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997). Celeste e Jesse Para Sempre (2011) pertence à mesma categoria e pode decepcionar quem procura o tradicional ‘água com açúcar’ do gênero. 

Logo na abertura somos apresentados para Celeste e Jesse, que cantam juntos Littlest Things, de Lily Allen. Alguém mais atento ou que conheça previamente o argumento do filme pode apontar que, pelo tom da música e sua letra (que diz “dreams, dreams, of when we had just started things”), os dois não estão mais juntos. Na sequência, um jantar tão desconfortável quanto engraçado com amigos que não aceitam a proximidade dos ex-namorados confirma isso. Com tal mote, Celeste e Jesse Para Sempre propõe subverter um gênero já bastante explorado ao introduzir um casal que não pode mais ser caracterizado de tal forma em seu sentido romântico-tradicional. 

Rashida Jones, filha do ilustre Quincy Jones e mais conhecida no Brasil por seu papel na série televisiva The Office (2006-2011), escreveu o roteiro a quatro mãos com o também ator Will McCormack e se presenteou com o papel principal. Andy Samberg, que deixou o Saturday Night Live para se dedicar ao cinema, interpreta Jesse com uma casualidade interessante. A inesperada dupla funciona com uma boa química, que denota uma amizade e empatia muito grande entre os intérpretes que antecede este projeto – ou ambos atuam excepcionalmente bem. Os atores não fazem o tipo característico das comédias românticas estadunidenses, com pessoas incrivelmente lindas e pouco críveis enquanto seres humanos. Aqui é justamente a humanidade dos personagens que facilita a empatia com os mesmos. 


Com um bom feeling para a comédia de situações, Jones e McCormack descuidam apenas do segundo ato do longa, que se torna episódico e próximo ao ritmo de uma sitcom. A trama dedica um espaço excessivo à protagonista feminina, o que é justificado quando sabemos que a atriz principal é a roteirista do mesmo. Ainda que possua momentos hilariantes, a narrativa desenvolve uma resolução lenta repleta de personagens secundários sem quaisquer importância, interpretados por atores que mal parecem saber o que estão fazendo. Elijah Wood faz o amigo gay, Will McCormack é o fornecedor de maconha, Emma Roberts simula uma popstar (obviamente inspirada na cantora Kesha) e o novo coadjuvante onipresente de Hollywood Chris Messina, que recentemente apareceu em Ruby Sparks: A Namorada Perfeita (2012) e Argo (2012), faz o outro interesse amoroso de Celeste, que só aparece quando é convencional para o andamento da história. 

Lee Toland Krieger, que tem no currículo o belo e pouco conhecido The Vicious Kind (2009), faz o que pode com o material que tem em mãos, mas custa a tirar o filme do que já se tornou convencional nas comédias indies norte-americanas. O diretor acerta mesmo na condução de seus protagonistas, assim como no tom naturalista e próximo com que os fotografa. Ainda que não seja uma pérola de originalidade e graça, Celeste e Jesse Para Sempre tem seus momentos e faz valer sua hora-e-meia de duração, principalmente por analisar a pouco costumeira amizade entre ex-namorados. Um pouco mais de maturação e experiência para seus roteiristas, no entanto, poderiam torná-lo imperdível.



Publicado originalmente no Papo de Cinema.

3 comentários:

  1. Muito legal o texto Conrado e a cena escolhida do video é ótima e instigante, em especial a frase: " É estranho estarmos sempre juntos?" hehe, adorei!! E esse mote de ex namorados é algo que facilmente cai num senso comum ou em algo pouco crível, mas parece que aí funciona. deu vontade de ver :)

    p.s..>> Eu aqui ansiosa por olhos da cor de mel =D Mas nada de lançar =(.

    beijo

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  2. Ótimo texto, Kon.

    Legal seria estudar o porquê do interesse crescente (sobretudo em produções indies) nos casais longe da perfeição. Seria uma resposta da ala "independente" às velhas e batidas comédias românticas "felizes para sempre", xodós dos estúdios?

    abração

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