domingo, 2 de junho de 2013

Doses Homeopáticas #03


FEBRE DO RATO é o filme mais “estético” de Cláudio Assis. Oferece um itinerário imagético bem acabado, cuja natureza contrasta com a dos próprios personagens liderados pelo poeta Zizo. A opção pelo p&b traz ao filme algo de fabular que o descola ligeiramente da realidade dura apresentada nas situações. Ainda que não seja de todo abrandado pelo visual, FEBRE DO RATO é menos iconoclasta que Baixio das Bestas ou Amarelo Manga, por exemplo, pois, além de calcado num protagonista que reitera em demasia mensagens praticamente sem resistência externa (circunscrito num meio favorável: sua vizinhança), apresenta a miséria humana revestida com a cosmética de um Nordeste sem cor, aparentemente não tão miserável assim.


Rever JACKIE BROWN foi muito bom, sobretudo para tirar o ranço que eu tinha com esse filme de Quentin Tarantino. Homenagem aberta ao blackexploitation, gênero que evidenciou o negro no cinema americano dos anos 1970, JACKIE BROWN me pareceu, nesta segunda vez, um filme divertido, engenhoso e, acima de tudo, muito bem dirigido. Pam Grier faz a personagem título que, de aeromoça coadjuvante de um traficante de armas, passa ao protagonismo do esquema no qual ludibria bandidos e policiais. O roteiro contempla várias reviravoltas, algo perigoso nas mãos, por exemplo, de um diretor deslumbrado pelo quebra-cabeça como artifício. Mas estamos falando de Tarantino, ou seja, some à trama uma estética bastante peculiar (humor corrosivo e violência) e trilha sonora inspirada.


AMOR PROFUNDO é daqueles filmes que revigoram o circuito de exibição, conclusão paradoxal, uma vez que sua estrutura alude à Hollywood do pretérito, farta de bons melodramas. Há muito que extrair do triângulo afetivo cujo vértice é Hester (Rachel Weisz, num de seus melhores papeis), mulher insatisfeita no casamento com um homem mais velho, logo apaixonada pela energia do militar interpretado por Tom Hiddleston. O principal, talvez, diga mesmo respeito às desilusões do pós-guerra na Europa e uma conturbada relação passada com o pai pastor, elementos que travam Hester em suas dinâmicas afetivas. Dramaturgicamente rico e bem interpretado, AMOR PROFUNDO é aquilo que se vê, mas, sobretudo, o que retiramos dos personagens e suas quebradiças vicissitudes afetivas.   


A DATILÓGRAFA parece um desenho animado. Personagens, músicas, situações, tudo se assemelha a expedientes de cartoon. A trama é sobre uma menina francesa dos anos 1950 que, assim como muitas, quer ser secretária, profissão então na moda. Ela ganha uma chance, mas demonstra talento apenas para datilografar, aliás, numa velocidade impressionante que a credencia como participante de concursos na área. Claro, esse plot é apenas desculpa para outra comédia romântica em que o amor tudo vence. Mesmo refém de convenções e completamente previsível, A DATILÓGRAFA é um bom programa para arejar a cabeça, claro, torcendo para que o casal, às turras no começo, acabe junto e feliz.   



O LUGAR ONDE TUDO TERMINA é uma decepção, e das grandes. Desenvolvido em três atos, o filme de Derek Cianfrance até inicia bem, com o personagem marginalizado que vai às últimas conseqüências para sustentar o filho. Começa a degringolar quando certo evento muda o protagonismo para o policial tido como herói, e piora bastante ao centralizar – num grande e mal trabalhado clichê - dois adolescentes envolvidos com entorpecentes.  A direção equivocada só potencializa as inconsistências de um roteiro ruim que aposta todas as fichas na tese da herança paterna inalienável. Ryan Gosling está perigosamente atuando como em Drive (mínimo de expressão). Corre o sério risco de ficar estigmatizado. Já Bradley Cooper faz o que pode, dentro de suas limitações. O LUGAR ONDE TUDO TERMINA é um filme para esquecer, ou para lembrar como alerta, e só.  

2 comentários:

  1. Boa, Celito!
    Que vergonha, faz um tempão que não assisto a um filme. Sinceramente, sinto falta. Com esses posts seus, várias dicas surgem. Então, agora é colocar a mão na massa!

    Muito obrigado.

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  2. Várias dicas surgem!! Concordo com o Rafa!!!
    Tô amando os Doses Homeopáticas!!!

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