FEBRE DO RATO é o filme mais
“estético” de Cláudio Assis. Oferece um itinerário imagético
bem acabado, cuja natureza contrasta com a dos próprios personagens liderados
pelo poeta Zizo. A opção pelo p&b traz ao filme algo de fabular que o descola
ligeiramente da realidade dura apresentada nas situações. Ainda que não seja de
todo abrandado pelo visual, FEBRE DO RATO é menos iconoclasta que Baixio das Bestas ou Amarelo Manga, por exemplo, pois, além
de calcado num protagonista que reitera em demasia mensagens praticamente sem
resistência externa (circunscrito num meio favorável: sua vizinhança),
apresenta a miséria humana revestida com a cosmética de um Nordeste sem cor,
aparentemente não tão miserável assim.
Rever JACKIE BROWN foi muito bom,
sobretudo para tirar o ranço que eu tinha com esse filme de Quentin Tarantino.
Homenagem aberta ao blackexploitation,
gênero que evidenciou o negro no cinema americano dos anos 1970, JACKIE BROWN
me pareceu, nesta segunda vez, um filme divertido, engenhoso e, acima de tudo,
muito bem dirigido. Pam Grier faz a personagem título que, de aeromoça
coadjuvante de um traficante de armas, passa ao protagonismo do esquema no qual
ludibria bandidos e policiais. O roteiro contempla várias reviravoltas, algo
perigoso nas mãos, por exemplo, de um diretor deslumbrado pelo quebra-cabeça
como artifício. Mas estamos falando de Tarantino, ou seja, some à trama uma
estética bastante peculiar (humor corrosivo e violência) e trilha sonora
inspirada.
AMOR PROFUNDO é daqueles filmes
que revigoram o circuito de exibição, conclusão paradoxal, uma vez que sua
estrutura alude à Hollywood do pretérito, farta de bons melodramas. Há muito
que extrair do triângulo afetivo cujo vértice é Hester (Rachel Weisz, num de
seus melhores papeis), mulher insatisfeita no casamento com um homem mais velho,
logo apaixonada pela energia do militar interpretado por Tom Hiddleston. O
principal, talvez, diga mesmo respeito às desilusões do pós-guerra na Europa e
uma conturbada relação passada com o pai pastor, elementos que travam Hester em
suas dinâmicas afetivas. Dramaturgicamente rico e bem interpretado, AMOR
PROFUNDO é aquilo que se vê, mas, sobretudo, o que retiramos dos personagens e
suas quebradiças vicissitudes afetivas.
A DATILÓGRAFA parece um desenho
animado. Personagens, músicas, situações, tudo se assemelha a expedientes de cartoon. A trama é sobre uma menina francesa
dos anos 1950 que, assim como muitas, quer ser secretária, profissão então na
moda. Ela ganha uma chance, mas demonstra talento apenas para datilografar,
aliás, numa velocidade impressionante que a credencia como participante de
concursos na área. Claro, esse plot é
apenas desculpa para outra comédia romântica em que o amor tudo vence. Mesmo
refém de convenções e completamente previsível, A DATILÓGRAFA é um bom programa
para arejar a cabeça, claro, torcendo para que o casal, às turras no começo,
acabe junto e feliz.
O LUGAR ONDE TUDO TERMINA é uma decepção,
e das grandes. Desenvolvido em três atos, o filme de Derek Cianfrance até inicia
bem, com o personagem marginalizado que vai às últimas conseqüências para
sustentar o filho. Começa a degringolar quando certo evento muda o protagonismo
para o policial tido como herói, e piora bastante ao centralizar – num grande e
mal trabalhado clichê - dois adolescentes envolvidos com entorpecentes. A direção equivocada só potencializa as
inconsistências de um roteiro ruim que aposta todas as fichas na tese da
herança paterna inalienável. Ryan Gosling está perigosamente atuando como em Drive (mínimo de expressão). Corre o
sério risco de ficar estigmatizado. Já Bradley Cooper faz o que pode, dentro de
suas limitações. O LUGAR ONDE TUDO TERMINA é um filme para esquecer, ou para
lembrar como alerta, e só.
Boa, Celito!
ResponderExcluirQue vergonha, faz um tempão que não assisto a um filme. Sinceramente, sinto falta. Com esses posts seus, várias dicas surgem. Então, agora é colocar a mão na massa!
Muito obrigado.
Várias dicas surgem!! Concordo com o Rafa!!!
ResponderExcluirTô amando os Doses Homeopáticas!!!