quarta-feira, 5 de junho de 2013

Uma sessão com "As Sessões"

São vários os obstáculos que dificultam a busca de Mark O’Brien por um objetivo aparentemente simples: iniciar sua vida sexual. Com 36 anos, sobrevivente de poliomielite e dependente de um pulmão artificial, Mark é incapaz de mover seu corpo abaixo do pescoço. Como se tais limitações não fossem suficientemente complexas para sua busca sexual, ele também é um católico honesto que segue as práticas ditadas pela religião, que o indica a não fazer sexo fora de um casamento.

Tragicômico para a ficção, o enredo de As Sessões é baseado na história de vida de um Mark O’Brien real, que ficou conhecido após a publicação de um artigo para a revista norte-americana The Sun intitulado On Seeing a Sex Surrogate – algo como “sobre sair com uma substituta do sexo”. Com roteiro e direção de Ben Lewin, o filme aborda o complicado tema com leveza, descontração e bom humor, tornando a delicada necessidade de O’Brien numa jornada que deve fazer muitos questionarem suas próprias limitações.

John Hawkes, que vem provando sua capacidade em filmes como Inverno da Alma (2010) e Martha Marcy May Marlene (2011), é o maior trunfo de As Sessões. Sua vibrante interpretação vai muito além das complexidades físicas e emocionais de O’Brien, e insere o ator no rol dos laureáveis da atual temporada de prêmios. Sua dedicação em muito se assemelha ao desempenho de Daniel Day-Lewis em Meu Pé Esquerdo (1989), que acidentalmente quebrou uma costela ao se recusar sair de seu personagem paralítico. Hawkes também teve complicações físicas reais ao utilizar uma bola de futebol para curvar sua espinha, intencionado a assemelhar sua postura a do verdadeiro O’Brien – o que fez com que alguns de seus órgãos migrassem e limitassem sua movimentação.
 
Para o papel da terapeuta que resolve na prática o problema sexual de seus pacientes, Lewin escalou Helen Hunt. Bonita e madura, Hunt apresenta uma das melhores atuações de sua monocórdica carreira graças à sua entrega ao papel e coragem, que a permitem até mesmo a protagonizar mais de uma cena com nu frontal – algo praticamente impensável para uma estrela hollywoodiana. Com William H. Macy como o padre confidente de O’Brien e Moon Bloodgood na pele de Vera, sua assistente, o filme ganha ao enriquecer seu desenvolvimento com personagens interessantes e divertidos, que equilibram a carga dramática indissociável de uma história como a proposta em As Sessões.

Por tratar o sexo de maneira realista e sem temores, Ben Lewin atinge uma dramaticidade elogiável e pouco apreciada até mesmo no cinema independente contemporâneo. Seu filme é um relato sincero sobre a sexualidade de deficientes físicos e carrega o mesmo espírito de Hasta La Vista (2011), produção belga de Geoffrey Enthoven que possui temática semelhante. Inteligente e pontualmente engraçado, As Sessões faz o gênero feel good movie e propõe questionamentos sem soar moralista ou politicamente correto, o que já são motivos suficientes para garantir o ingresso.
 
Texto originalmente publicado no Papo de Cinema.

4 comentários:

  1. Opa, Kon

    Já tive muitas recomendações para assistir este filme, algumas com argumentos bastante semelhantes aos do seu texto.

    O tema é delicado e a comparação com o ótimo HASTA LA VISTA (além das já citadas indicações anteriores) é motivo suficiente para que eu queira assistir AS SESSÕES.

    Abraços

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  2. Que bom reler algo tão pertinente sobre " As sessões" Conrado! Também gostei muito do filme e concordo contigo quando diz que tanto o Jonh Howkes como a Helen Hunt estão muito bem em seus papéis nada fáceis.
    Esse filme é muito especial!!

    beijos e parabéns pelo texto

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  3. Celo! Não deixe de ver o filme. Sublimando um ou outro convencionalismo, é uma excelente sessão!

    Carol! Obrigado pelo comentário, fico feliz que tenha julgado meus comentários pertinentes! Também tenho um carinho especial por este filme. Lembro de sair da sessão, olhar para os lados e constatar que todos a minha volta tinham chorado. haha É um filme muito bonito.

    Abraços!!!

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  4. Kon!
    Sempre complicado tocar em assunto tão delicado assim. Obrigado pela dica. Grande abraço.

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