Ben, o personagem de Nicolas Cage
em Despedida em Las Vegas deve ser um
dos mais autodestrutivos do cinema. Quase não há cena ou sequência em que não o
vejamos encerrado em copos e garrafas repletos de álcool, nos quais busca
abertamente a morte. Trabalhador da indústria cinematográfica, em dado momento
ele junta algumas roupas, o dinheiro lhe garantido pela recente demissão, a
bebida tão cara e segue rumo a Las Vegas, oásis incrustado no deserto de
Nevada. A mudança não é motivada por
anseio de vida nova e sim pela concretização da violência física e psicológica
que impinge a si mesmo.
Já perambulando em meio à
frenética movimentação da nova cidade, ele encontrará Sera, prostituta cuja
existência não está longe da desventura opressora que o leva a pensar no fim.
Desse encontro aleatório nasce uma ligação onde os seres tortos amparam-se no
infortúnio alheio. Não há percurso em que o afeto inesperado leve a redenções,
arrependimentos ou mesmo reviravoltas. Escanteie a lembrança dos dramas
edificantes, nos quais o amor tudo pode e vence. Nada contra eles, quando bem
orquestrados, mas em Despedida em Las
Vegas o diretor Mike Figgs parece mais interessado em trabalhar a
profundidade de pessoas quebradiças e cientes de suas falhas, sem forçar
transformações miraculosas.
A beleza fulgurante da atriz Elisabeth
Shue empresta volúpia a Sera, figura que suprime até o encontro com Ben uma
necessidade básica de encontrar na tragédia existencial vizinha a via para abrandar
seu próprio sofrimento. Já Nicolas Cage,
tão caricato ultimamente em papeis aquém de sua capacidade dramática (fruto de
escolhas duvidosas), é a própria face da miséria humana na pele do homem que
caminha inexoravelmente para o abismo. Juntos em cena, os dois intérpretes
conseguem transmitir toda fragilidade de seus tipos e ainda amplificar o
trabalho alheio. Poderíamos chamar isso de “química”.
Da trilha sonora muito bem
pensada às escolhas fotográficas, tudo em Despedida
em Las Vegas parece dar relevo ao trajeto descendente dos protagonistas.
Não à toa o sexo, catalisador em algumas passagens, torna-se quase inalcançável
entre o ébrio e a meretriz, espécie de tabu apenas rompido totalmente quando
não há mais qualquer fio de esperança. A
deterioração atinge níveis de melancolia atroz no instante em que os dois
findam sua ligação, banhados pelas mesmas luzes que evidenciam a fortuna
efêmera dos apostadores na urbe insone. Nem sempre há tempo para estancar feridas já
abertas e de sangria irreversível.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Bom, será que finalmente Nicolas Cage acertou na escolha do papel? É uma pena, pois trata-se de um talento sem condução.
ResponderExcluirGrande abraço
Excelente Marcelo! Gostaria muito de ler os escritos da Carol sobre esse filme :)
ResponderExcluirBeijos
Rafa: assiste quando puder. Tu verá o Nicolas Cage numa grande atuação, além dos filme ser excelente.
ResponderExcluirMana: eu também gostaria de ler um texto da Carol sobre o filme. Vamos iniciar uma campanha: DESPEDIDA EM LAS VEGAS no bluevelvet. :)