Não há construção de sociedades
sólidas sem comprometimento com os meios educacionais. Nas salas de aula,
sobretudo nas de formação básica, molda-se o futuro cidadão, para o bem ou para
o mal. Nesse contexto, a figura do professor é muito importante, afinal por ela
passa o direcionamento não só intelectual, mas também moral, dos avessos a deveres
e ditados de ocasião. São inúmeros os filmes que centralizam o educador,
lançando luz sobre seu valor. Some a esse filão o recente O Que Traz Boas Novas, longa canadense que concorreu ao Oscar de Filme
em Língua Estrangeira.
Estamos em Quebec, logo após o
suicídio por enforcamento da professora encontrada suspensa em plena sala de
aula. Comoção geral: pais atentos ao trauma dos filhos, crianças estarrecidas e
a diretiva ocupada com o restante do ano letivo. Cabe ao Sr. Bachir Lazhar,
imigrante argelino, a missão de substituir na prática e no campo psicológico
aquela que, involuntariamente, fez da morte uma dura lição aos pequenos. Para
ele e para todos os demais o início é trôpego, e como, oras, poderia ser
diferente? Os alunos estão arredios, estranhos aos métodos na certa “ultrapassados”
de alguém que cita Balzac na contramão da conduta professoral contemporânea. O
novo mestre sente o golpe e precisará administrá-lo enquanto vê seu passado
bater à porta.
Ainda que se possa extrair de O Que Traz Boas Novas observações acerca
da coletividade, nenhuma delas realmente ganha fôlego norteador. Do que trata o
filme? A rigor, da jornada particular de um homem, para além de qualquer matiz enriquecedor.
O acúmulo de mensagens ligeiras (imigração, morte, aprendizado moderno, etc)
acaba tirando do filme possibilidades de expansão. Então, o maior pecado de O Que Traz Boas Novas é ater-se
puramente à trama, sem incentivar subtextos ao protagonismo. Dessa maneira, navegamos
em maré mansa, na qual seguimos tranqüilos, sem ondas ou virações maiores.
Contudo, seria injusto negar que
o filme possui olhar maduro, preocupado com questões de ordem educacional e
humana. Assim, bem-intencionado, o diretor escorrega mesmo na submissão à
exposição, atendo-se pouco à conexão entre a instabilidade interna do mestre (atormentado
pela dura situação social de seu país) e as particularidades diárias que fazem
do âmbito escolar um dos mais relevantes. Sem esses cuidados de carpintaria, o
longa de Philippe Falardeau acaba como trajetória (anêmica) pessoal e bonita
homenagem à relação aluno/professor, aliás, de cerne semelhante a outras vistas
por aí.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Boa, Celito!
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