quinta-feira, 10 de abril de 2014

Doses Homeopáticas #18


APENAS UMA VEZ é um filme que sempre me ganha já nas primeiras cenas. Gosto do clima meio desleixado da fotografia, que dá um tom cotidiano à narrativa, do amor que vai nascendo devagarinho entre os dois protagonistas, ele um músico de rua que levou um pé-na-bunda da namorada e canalizou a frustração às composições e ela uma imigrante que cuida da filha vendendo flores na rua. Mas excepcionais são as músicas, as baladinhas que ajudam a delinear os personagens e que nos guiam através da progressão da trama. Não adianta, pode parecer tudo indie demais para alguns, meio bobo para outros, mas eu continuo curtindo e me emocionando com essa pequena pérola inglesa.


KILL BILL – VOLUME 01 é um das realizações de Quentin Tarantino que mais deixam evidente seu fetiche por filmes B. As produções asiáticas de kung fu, repletas de lutas improváveis e sangue esguichando, são emuladas com habilidade, reverenciadas por um evidente fã. A narrativa possui tempo descontínuo, agrega anime e uma trilha sonora expressiva para dar início ao plano de vingança da Mamba Negra. A violência é quase cartunesca, bem ao estilo das produções setentistas às quais o filme remete, e faz jus ao itinerário de um diretor que não cansa de imprimir na tela sua paixão cinéfila.


KILL BILL – VOLUME 02 adquire um tom mais sério em comparação ao antecessor. As referências estão em toda parte, de John Ford a Sérgio Leone, passando pelos já citados filmes B de kung fu tão lembrados no primeiro filme. O rastro de morte criado por Beatrix Kido vai ficando mais evidente, pois próximo de Bill, o homem responsável por desgraçar sua vida. Tarantino balanceia muito bem as cenas de ação com momentos nos quais a palavra é mais valiosa, segue embaralhando a cronologia em prol da eficiência narrativa e mostrando sua aptidão muito própria para escolher a trilha sonora. No fim das contas, KILL BILL é um filmaço de quatro horas.


O que mais chama atenção em ENTRE NÓS não é propriamente a fotografia (muito bonita), a afinação do elenco, a sutileza das paisagens como molduras da geografia interna dos personagens, ou até mesmo a trama de culpa que cruza tragédia e literatura, mas sim a exploração da ideia de um dos confrontos mais dolorosos, aquele que coloca em lados opostos do ringue o “eu” do passado e o “eu” do presente. Ao desenterrar cartas endereçadas para si próprios, datadas de dez anos, cada qual se depara com suas ilusões perdidas, seus planos fracassados e frustrações. ENTRE NÓS é mais do que um filme sobre amizades que não resistiram ao tempo, é sobre utopias naufragadas e a traição ao “eu” jovial que um dia ousou sonhar e não resistiu ao peso da “realidade”.



INSÔNIA é um filme de quando Christopher Nolan ainda não tinha adquirido o status pós-Batman. Dois policiais vão até o inóspito Alasca para ajudar na resolução de um caso de assassinato, ou seria para dar uma esfriada no escândalo envolvendo eles, que está prestes a explodir? A investigação é quase uma desculpa, apenas conduto da trama superficial, porque o que está realmente em jogo é a moralidade dos personagens, suas escolhas dúbias e comportamentos enviesados, seja em busca da justiça que acreditam estar fazendo ou apenas para autopreservação. O final deixa um pouco a desejar, mas no geral INSÔNIA é algo bastante instigante de se ver.      

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