APENAS UMA VEZ é um filme que
sempre me ganha já nas primeiras cenas. Gosto do clima meio desleixado da
fotografia, que dá um tom cotidiano à narrativa, do amor que vai nascendo
devagarinho entre os dois protagonistas, ele um músico de rua que levou um pé-na-bunda
da namorada e canalizou a frustração às composições e ela uma imigrante que
cuida da filha vendendo flores na rua. Mas excepcionais são as músicas, as
baladinhas que ajudam a delinear os personagens e que nos guiam através da
progressão da trama. Não adianta, pode parecer tudo indie demais para alguns, meio bobo para outros, mas eu continuo
curtindo e me emocionando com essa pequena pérola inglesa.
KILL BILL – VOLUME 01 é um das
realizações de Quentin Tarantino que mais deixam evidente seu fetiche por
filmes B. As produções asiáticas de kung fu, repletas de lutas improváveis e
sangue esguichando, são emuladas com habilidade, reverenciadas por um evidente
fã. A narrativa possui tempo descontínuo, agrega anime e uma trilha sonora expressiva
para dar início ao plano de vingança da Mamba Negra. A violência é quase
cartunesca, bem ao estilo das produções setentistas às quais o filme remete, e
faz jus ao itinerário de um diretor que não cansa de imprimir na tela sua
paixão cinéfila.
KILL BILL – VOLUME 02 adquire um
tom mais sério em comparação ao antecessor. As referências estão em toda parte,
de John Ford a Sérgio Leone, passando pelos já citados filmes B de kung fu tão
lembrados no primeiro filme. O rastro de morte criado por Beatrix Kido vai
ficando mais evidente, pois próximo de Bill, o homem responsável por desgraçar
sua vida. Tarantino balanceia muito bem as cenas de ação com momentos nos quais
a palavra é mais valiosa, segue embaralhando a cronologia em prol da eficiência
narrativa e mostrando sua aptidão muito própria para escolher a trilha sonora.
No fim das contas, KILL BILL é um filmaço de quatro horas.
O que mais chama atenção em ENTRE
NÓS não é propriamente a fotografia (muito bonita), a afinação do elenco, a
sutileza das paisagens como molduras da geografia interna dos personagens, ou
até mesmo a trama de culpa que cruza tragédia e literatura, mas sim a
exploração da ideia de um dos confrontos mais dolorosos, aquele que coloca em
lados opostos do ringue o “eu” do passado e o “eu” do presente. Ao desenterrar
cartas endereçadas para si próprios, datadas de dez anos, cada qual se depara
com suas ilusões perdidas, seus planos fracassados e frustrações. ENTRE NÓS é
mais do que um filme sobre amizades que não resistiram ao tempo, é sobre
utopias naufragadas e a traição ao “eu” jovial que um dia ousou sonhar e não
resistiu ao peso da “realidade”.
INSÔNIA é um filme de quando
Christopher Nolan ainda não tinha adquirido o status pós-Batman. Dois policiais
vão até o inóspito Alasca para ajudar na resolução de um caso de assassinato,
ou seria para dar uma esfriada no escândalo envolvendo eles, que está prestes a
explodir? A investigação é quase uma desculpa, apenas conduto da trama
superficial, porque o que está realmente em jogo é a moralidade dos personagens,
suas escolhas dúbias e comportamentos enviesados, seja em busca da justiça que
acreditam estar fazendo ou apenas para autopreservação. O final deixa um pouco
a desejar, mas no geral INSÔNIA é algo bastante instigante de se ver.
Como de costume, mais algumas belas dicas.
ResponderExcluirObrigado, Celito.