segunda-feira, 28 de abril de 2014

Doses Homeopáticas #19


Em AS PRAIAS DE AGNÈS, a cineasta Agnès Varda, uma das expoentes da nouvelle vague francesa, reconstrói sua própria história, partindo do cenário que mais lhe agrada: a praia. Ela vagueia pelas lembranças refeitas cenicamente, rememora a infância endurecida pela guerra, os anos de fotógrafa, a paixão pelo cinema, os encontros que alimentaram sua persona artística, o incontornável amor e a saudade do companheiro que se foi, o também cineasta Jacques Demy, isso tudo num tom confessional e nostálgico, mas não lamurioso. O que vemos na tela é uma mulher com mais de oitenta anos, dotada de espírito ainda jovial e curioso, não apenas pelo ofício da arte, mas, e sobretudo, pelos meandros da vida.


MISSÃO MADRINHA DE CASAMENTO, por onde começar? A trama é uma bobagem que envolve a rivalidade entre duas madrinhas, cada qual querendo mais atenção da noiva. Até aí tudo bem, não fosse o amontoado de sequências inteiras ruins, grosseiras e sem qualquer propósito, a não ser o de fazer graça utilizando escatologia e babaquice. Disenterias que arruínam a prova de vestidos, uma mulher chapada num voo para Los Angeles, sequências e mais sequências tentando - em vão e da maneira mais torta possível - mostrar uma mulher emancipada de sua condição submissa, e a resultante não poderia ser mais rasa e torpe.
 

Embora EM BUSCA DO OURO não seja um dos meus filmes favoritos de Charles Chaplin, difícil ficar alheio aos seus momentos de antologia. Para citar apenas dois, a sequência em que Big Jim, faminto, vê Carlitos como um frango e a famosa cena da dança dos pãenzinhos. A primeira parte é sustentada na corrida do garimpo, na ironia dos homens mortos de fome enquanto literalmente sobre uma montanha de ouro. Depois, a história enverada pelo romance, protagonizado por aquela que brinca com os sentimentos do vagabundo, zombando de seu romantismo. Aí rareiam as gags inspiradas e tudo fica meio pálido, numa trama guiada por certo desamor já melhor utilizado por Chaplin em outros filmes. Ainda assim, por momentos isolados, fortes o suficiente, é algo obrigatório, sem dúvida. 


JULIO SUMIU é um filme que se segura nos erros, um atrás do outro, pois são eles que fornecem costura à trama. Uma mãe, das mais preocupadas, não sem razão diante da criminalidade dos dias de hoje, bota na cabeça que seu filho foi sequestrado. Depois disso, falhas e mais falhas de interpretação vão engrossando o caldo sem sal do filme de Roberto Berliner. Um bando de piadas sem graça, situações batidas, palavrões como que para mostrar “coragem”, tudo envolto num pacote que se não tem cara de novela tampouco tem cara de filme. Uma bobagem que, vá lá, tem um que outro momento dos bons, mas que, no geral, é do tipo para o público médio (leia-se “aquele que vai ao cinema só de quando em quando”) sair da sala rindo e falando bem (?) do cinema brasileiro. Como exemplar de mercado (mal necessário) até passa.



A gente começa assistindo A PRIMEIRA COISA BELA com a sensação de que vai ser mais um daqueles filmes nos quais o adulto busca no passado as raízes de suas neuroses presentes, deixando nesse trajeto evidente a “culpa” dos pais. Passar essa ideia inicialmente não me parece gratuidade, mas sim uma espécie de isca falsa para que sejamos surpreendidos no decorrer, quando o próprio protagonista, ao acompanhar de perto a doença irreversível que acomete a mãe da qual tinha certa vergonha quando criança, entenderá sua infância como um período não tão doloroso assim, em que seus pais, certos ou errados, fizeram o possível dentro de suas próprias limitações. Um filme bem-humorado, cujo desenrolar com cara de fábula não esconde a intenção de trazer para perto de nós alguns sentimentos e contradições bastante comuns.   

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