Nunca tinha assistido A
FELICIDADE NÃO SE COMPRA. Lacuna devidamente preenchida com a recente sessão em
tela grande, em tese como deve ser. E que filme bonito, não exatamente por
conta da mensagem final positiva, também, mas não só em virtude dela. O
personagem que abdica de tudo um pouco em prol da família, dos negócios da
família, da sequencia do legado do pai, das pessoas que dependem do trabalho
dele, vai entender que muitas vezes nosso próprio conceito de felicidade é tão
idealizado, tão pré-formatado, que não nos damos conta de já viver dias
felizes. A divindade e os anjos só estão ali para explicar o absurdo que permite
ao protagonista enxergar que ele era feliz e não sabia. É um filme cuja leveza
e simplicidade são só aparentes, já que elas estão a serviço de uma visão dura
a respeito da engrenagem social movida pela satisfação oriunda do dinheiro,
ainda que a fé no indivíduo sobressaia no final.
NEBLINAS E SOMBRAS é um filme de
altos e baixos. Começa muito bem com aquela ambiência soturna e propositalmente
artificial (graças a um interessante jogo de luz, sombras e neblina), na qual o
personagem de Woody Allen destoa dos demais, pois eles parecem de fato num
filme pesado sobre assassinos em série. A subtrama (que logo vira principal) da
artista de circo que se prostitui por uma noite é menos interessante, quase
dispersiva. Ficamos entre as andanças às cegas de Allen e seu envolvimento meio
forçado com personagens paralelos, o que acaba gerando a sensação de vermos dois
filmes distintos, meio que se empurrando em busca de espaço. No fim das contas,
mesmo assim, é um bom trabalho, com algumas sacadas excelentes, como as
dissidências e rivalidades que surgem no grupo que está à caça do assassino.
Mesmo errando aqui e ali, Woody Allen consegue momentos que fazem valer o todo.
Em O HOMEM URSO, Werner Herzog
não está apenas em busca da história inusitada daquele cara que passou anos e
anos de sua vida na companhia dos ursos pardos, pretensamente os defendendo do
mundo hostil. Aliás, o insólito aos poucos dá espaço para uma visão que
amplifica a tragédia, não apenas a tragédia da morte, mas a tragédia humana do
explorador que se refugiou na selva e tentou ser ele mesmo um urso, ou seja,
transmutar-se em inumano, quem sabe para sufocar seu lado obscuro. Talvez o
ódio dele pela civilização nada mais fosse que ojeriza de si próprio, das
contradições e complexidades da raça a qual pertencia. Foi, assim, ao encontro
da simplicidade da selva, da preocupação única com a sobrevivência. Herzog faz
emergir conflitos e um questionamento principal: será que, ao aproximar-se do
animal, dando-lhe nomes e características humanas, ao mesmo tempo em que
almejava animalizar-se, Timothy não acabou infringindo ambas as naturezas, por
deixar de respeitar suas particularidades e limites?
Muito bom, Celito. O HOMEM URSO está em minha lista faz tempo, e você o trouxe à tona novamente. Grande abraço.
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