Lech Walesa foi figura das mais
importantes no cenário sócio-político europeu dos anos 1970. Vencedor do Prêmio
Nobel da Paz, lutou pela revolução do povo polonês e fundou o Movimento
Solidário no país. Coube ao veterano e prestigiado Andrzej Wajda transformar em
filme a trajetória desse homem afinado como poucos às causas alheias. De ego
folclórico, Walesa (Robert Wieckiewicz) conta sua história a uma famosa
jornalista italiana que viajou apenas para documentá-lo em matéria. Avesso aos
livros, ele relembra, por exemplo, que a cada manifestação deixava o relógio e
a aliança para a esposa vender caso não voltasse do confronto com as tropas do
governo. Aliás, Danuta (Agnieszka Grochowska) foi forte na condução do lar em
semelhante medida à coragem do marido nos piquetes.
A Polônia da década de 70 testemunhou
conflitos ideológicos abundantes, por exemplo, a batalha socialista contra o
agigantamento do capitalismo. Nesse terreno, as greves desempenharam papel
fundamental, pois estabeleceram, até o possível, grandes vitórias da classe
trabalhadora frente ao regime dominante. De braços cruzados, liderados por
Walesa e sua oratória privilegiada, funcionários pararam estaleiros, sistemas
de transporte, entre outros serviços básicos à subsistência da nação. Por ser
cinebiografia ligada a um dirigente político, Walesa é impregnado do então clima de tensão vigente, entretanto reserva
olhar curioso ao protagonista, aliás, ideal à própria peculiaridade do mesmo.
Wajda evita fazer um filme
sisudo, essencialmente focado na luta de classes. Seu foco é mesmo Walesa, os
esforços dele em prol dos companheiros subjugados, a relação de cumplicidade
com a mulher que aguentou o tranco rodeada de filhos, na maioria das vezes sem
o auxilio do marido ausente, pois ele ora estava ocupado em manifestações, ora
numa das muitas prisões. Wadja não edulcora o líder, mostra-o prosaico, entre
vaidades e heroísmos, para que dele tenhamos dimensões complexas e, portanto,
mais próximas dos fatos, ainda que sob inconfundível viés cinematográfico.
Outro ponto a ser enfatizado é a reconstrução de época, bastante importante
para conferir verossimilhança tanto à insurreição dos proletários quanto ao
relevo de Walesa na condição de personagem histórico.
Outra característica de Walesa é o humor, não o besteirol, mas o
humor indissociável do cotidiano, mesmo nos duros tempos retratados. Walesa
rege a massa sem aquela dimensão messiânica comumente associada aos líderes
populares. Sua empatia vinha de um misterioso e profundo senso de humanidade diante
da coisificação crescente, por isso as pessoas o seguiam, elevando-o à condição
de chefe de estado verdadeiramente eleito pelo povo.
Obrigado, Celito, por mais um refinado texto \o/
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