MISSÃO IMPOSSÍVEL: PROTOCOLO
FANTASMA está mais para uma aventura típica de Ethan Hunt que para tentativa de
alinhamento com, digamos, os novos tempos pós-Bourne. Mas isso, por si, não
quer dizer muito, pois não é preciso emular Bourne para ser bom na seara dos
filmes de espionagem. Aqui tudo começa muito bem, com aqueles planos truncados,
cheios de reviravoltas e segredos típicos das andanças incógnitas do agente
secreto pelo mundo. O vilão a ser combatido é um cara que pretende detonar uma
guerra nuclear, só isso. Contudo, aos poucos o que parecia legal vai amornando,
perdendo força, inclusive visual. A resolução se aproxima ao passo em que já não
nos interessa mais tanto. Brad Bird, cria da Pixar em seus primeiro live action, sai-se bem, mas é
prejudicado por um roteiro dispersivo e que subaproveita boas ideias.
MISS VIOLENCE tem um pouco dos
primeiros filmes de Michael Haneke. Inclusive, no início, antes de suicidar-se,
a aniversariante olha para a tela, nos encarando, como faz um dos protagonistas
de Violência Gratuita, embora sem o
mesmo efeito. O resto do longa é um estudo sobre o que teria levado a garota a
se matar. Adentramos no núcleo familiar de maneira íntima, conhecendo aos
poucos a rotina que a festividade inicial não deixava transparecer. A encenação
é seca, os sentimentos dos personagens parecem represados, isso visto nos
semblantes que quase não conseguem mais expressar a dor existente, efeito
colateral de um processo de desumanização. Há uma cena de sexo (estupro) aqui,
outra mais gráfica ali, mas o que verdadeiramente confere força ao filme é a
atmosfera opressiva alcançada pela articulação das coisas num nível sugestivo,
menos visual e mais perceptivo.
AMOR À FLOR DA PELE é um daqueles
filmes que nos sugerem o amor como fonte de tudo, início e fim não apenas de
relacionamentos, mas da nossa própria interação com o mundo. O casal que se
julga traído começa a encenar a traição, como se isso, ou seja, de alguma forma
entender, lhes reduzisse a dor. No caminho, eles próprios se apaixonam,
percebendo que não há como controlar as emoções como se elas fossem documentos
tramitando em repartições públicas. A trilha sonora, a palavra que às vezes
corrobora e às vezes nega a imagem, a maneira poética de Wong Kar-Wai trabalhar
o tempo em prol de uma ligação que se constrói com vagar, a salada cultural de
referências (que nem por isso torna a Hong Kong da década de 1960 menos
asiática), a ambiência precisa da metrópole convulsionada pela crise dos
espaços, são elementos que fazem de AMOR À FLOR DA PELE, quem sabe, o filme
mais complexamente romântico das últimas décadas.
Muito bom, Celito. Preciso rever AMOR À FLOR DA PELE. Sempre uma sessão prazerosa e comovente.
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