quarta-feira, 26 de novembro de 2014

NÔMADES levantando a (o) POEIRA


Em cena, três atrizes e uma ausência.
O espetáculo Nômades, em cartaz no Teatro Poeira (Rua São João Batista, 104 - Botafogo, Rio de Janeiro – RJ), protagonizado por Andréa Beltrão, Malu Galli e Mariana Lima, fala, entre outras coisas, sobre vida e morte. Se por um lado há a dor da perda, por outro há a alegria da criação, da recriação, numa alternância natural ao fluxo da existência. Tristeza não tem fim, felicidade sim. Mas será que mesmo a felicidade é refém da finitude? As atrizes, em pleno exercício de sua vocação, não estariam driblando os ditames da própria morte, transcendendo o padecer da carne, atingindo uma espécie de imortalidade que se desprende do fazer arte e se fragmenta de maneira distinta em cada espectador?   

Para mais a respeito de Nômades, abaixo o texto da amiga Bianca Siqueira, ela que também faz da arte não só um meio de vida, mas de perpetuação da vida.

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Ficha Técnica
Comédia, Drama, Musical
Dramaturgia: Marcio Abreu e Patrick Pessoa
com colaboração de Andréa Beltrão, Malu Galli, Mariana Lima e Newton Moreno. 

Texto e cena criados simultaneamente.

Concepção e Direção: MARCIO ABREU
Elenco: ANDRÉA BELTRÃO, MALU GALLI, MARIANA LIMA
Direção de movimento: MARCIA RUBIN
Cenário e objetos: FERNANDO MARÉS
Iluminação: NADJA NAIRA
Figurinos: CAO ALBUQUERQUE E NATALIA DURAN
Direção Musical: FILIPE STORINO
Visagismo: LU MORAES
Direção de Produção: JOSÉ LUIZ COUTINHO E WAGNER PACHECO

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Vida que pulsa; vida que pensa...O GRUPO de artistas que desenvolveu a experiência; Nômades; propõe intensidades através da ARTE pela comunhão de Almas criativas. Experimentamos sem sair do lugar um mergulho na psique. Visitamos suas fronteiras entre tormentas, paixões, amizades, realizações... Mais que um espetáculo, nos deparamos com a proposta do resgate humano que suspira entre o sensível e o lógico. Usufruímos da poesia, filosofia, música, dança e cenas teatrais maravilhosas, divertidíssimas. O desprendimento artístico que se revela em “personagens” é de uma liberdade, de uma verdade... que muito poucos estão dispostos ( ao contrário do que investiga a atriz quando verbaliza a respeito da subjetividade e possibilidades do artista) ! Estes artistas mergulham fundo na experiência do não ser. Desestabilizam (desenquadram) personagens com os quais, ao longo da vida, nos identificamos pela linguagem, códigos sociais, relações interpessoais, textos teatrais etc. e que, a partir dos padrões sociais, se formalizam como cultura (identidade).  

O desafio do artista, aqui, se dá pela derrubada de velha cultura dos critérios, modismos ou valores empoeirados e, por isso mesmo, não caberia a representação destes. Fiquei emocionada com o fazer artístico tão revolucionário e com tanta qualidade cênica. Nômades permitiu-me o embaralhar das idéias costumeiras que se estruturam no ego e na fama. A ARTE que ali se alimenta não pretende a cultura dos mesmos, dos “iguais”, dos textos clássicos, do comércio vazio das apresentações artísticas, tão somente... Não que o clássico seja ruim. Tem seu valor. Mas o artista aqui quer seu quinhão de humanidade e compartilhamento desta. O meu ingresso nesta casa empoeirada pelas reflexões emblemáticas foi totalmente inusitado. Pude ser vasculhada por inteiro e sumir da condição de público tiete. Mesmo adorando e querendo muito parabenizar a todos e todas o presente que ganhei foi ainda maior. Senti-me revigorada para além de qualquer condição. E atesto, neste espaço, que pude compartilhar desta proposta onde a ARTE foi maior que seu intérprete. Obrigada.

Por Bianca Siqueira

2 comentários:

  1. Muito bacana ler aqui no THE TRAMPS algo sobre teatro. Apesar de pouco frequentar, adoro essa expressão tão rica da vida, ou seria da arte? Não importa, às vezes, elas funcionam assim mesmo, como sinônimos.

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  2. Venha nos visitar Rafa. Assim ficaremos ainda mais ricos (da Vida).

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