quinta-feira, 11 de junho de 2015

Doses Homeopáticas #44


Tou quase achando VINGADORES: ERA DE ULTRON melhor que o primeiro filme do grupo da Marvel. Desta vez, a missão é combater uma inteligência artificial que, em princípio, foi projetada para ser uma espécie de salvaguarda da paz mundial. A ação continua opulenta, às vezes até mesmo exagerada, como na sequência inicial, feita claramente para a gente já entrar em 220v no filme. Mas, em meio a explosões e efeitos especiais, surgem algumas complexidades interessantes que colocam os heróis na berlinda. De alguma maneira, eles descem ao nível dos meros mortais, pois deixam aparecer suas fragilidades, seja em virtude da própria e incontrolável natureza (como no caso do Hulk), da impossibilidade de viver em tempos de calmaria (Capitão América), da luta contra o próprio ego (Homem de Ferro), e por aí vai. Sobre a trama, ela começa muito bem, o vilão é forte o suficiente para fazer frente aos Vingadores, mas a solução se dá de maneira menos satisfatória, com tudo meio corrido. A vitória é menos importante que a contenção da bomba projetada por Ultron para acabar com o planeta. Contudo, entre mortos e feridos, uma boa sequência para a Marvel no cinema.  


O apagar das luzes de uma rica família carioca é visto literal e metaforicamente na primeira cena de CASA GRANDE. Ali já dá para perceber que não estamos diante de algo banal, passível de se perder na memória tão logo acabe a sessão. O desenrolar prova a impressão inicial, mostra uma radiografia contundente da sociedade brasileira, sobretudo no que diz respeito às tensões entre as classes mais e menos favorecidas. Os ricos precisam se adaptar aos novos tempos, mas carregam consigo preconceitos e outros ranços feudais que não os deixam ver a periferia que circunda suas mansões hermeticamente fechadas à realidade. O discurso é contundente, o olhar é perceptivelmente ferino aos que procuram tão e somente a manutenção de suas regalias, muitas vezes históricas. Mesmo assim, não há demonização de ricos e santificação dos pobres, o longa não se presta a simplificar, mas sim a problematizar. As interpretações, o estilo visual, o roteiro, tudo conflui para a construção de um panorama tão íntimo quanto amplo. Em suma, um filme não apenas acima da média, mas necessário. Daria uma bela sessão dupla com O Som ao Redor, de Kléber Mendonça Filho.


Parece que a câmera não está capturando nada de interessante em CLUB SANDWICH. Mãe e filho num hotel meio deserto, fora da alta temporada. Da piscina para o quarto, do quarto para a piscina. Aos poucos, porém, percebemos que há uma atenção especial e sutil aos corpos. O garoto, recém-saído da puberdade, talvez por ter a mãe como única mulher próxima, toma seu corpo como erótico, algo que vai mudar quando ele conhecer uma garota tão interessada em ingressar na vida adulta quanto ele. O diretor Fernando Eimbcke preza pelo ritmo lento, no qual os chamados tempos mortos desempenham papel fundamental. Ao passo que o filho se interessa pela menina da sua idade, a mãe expõe um ciúme às vezes até meio ridículo, medo de perder aquele com quem mantém um vínculo de muita proximidade. Essa interação entre os personagens não serve apenas ao que está sendo contato, mas, em virtude da forma como tudo flui, também funciona para que consigamos conjecturar algo do passado deles. Assim como os longas anteriores de Eimbcke, Temporada de Patos e Lake Tahoe, aqui somos convidados a buscar nos detalhes da narrativa compassada aquilo que o cinema hegemônico nos entrega (quando entrega) de bandeja.

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