terça-feira, 14 de julho de 2015

Refém da Paixão


O início de Refém da Paixão (2013) nos propõe a convivência complexa entre uma mãe e seu filho. Devastada pelo que parece crise depressiva grave, ela dificilmente sai de casa, é pouco mais do que um fantasma que transita pela propriedade interiorana cujo aspecto semiabandonado (gramado por cortar e outros sinais de desleixo) deixa notar a apatia de quem ali mora. O garoto faz o que pode, doando tempo à mãe, fazendo dela sua missão particular. Ele acha que pode cobrir certas lacunas que o pai deixou ao partir, mas já tem idade suficiente para entender que em determinadas searas nada pode fazer para recuperar o ânimo da mãe. A situação ganha tempero novo quando um foragido da justiça se abanca na casa deles.

Na verdade, pode-se dizer que a chegada do forasteiro, que de ameaça, gradativamente, passará a conforto e esperança de uma reconstituição familiar, traz ao mesmo tempo o amor de volta ao itinerário de Adele (Kate Winslet) e um modelo paterno a Henry (Gattlin Griffith). O passado doloroso desse procurado, Frank (Josh Brolin), é desvendado aos poucos, em flashbacks, ao passo que acompanhamos o amadurecimento do garoto que começa a olhar com mais desejo as curvas das colegas. É como se a partir do instante em que vê sua mãe novamente amando, protegida por um homem, ele se sentisse pronto para de fato crescer e ser ele mesmo um homem diante do amor e de suas instâncias. 

Pena o diretor Jason Reitman tratar tudo de maneira dispersiva, fracionada, como se o renascimento sentimental de Adele, a descoberta inusitada de um porto seguro para Frank e o crescimento de Henry não pudessem imbricar-se, assim amplificando-se. Há uma incômoda pendência ao dramalhão, à saturação em detrimento dos matizes intermediários. Se o filme não descamba para algo excessivamente açucarado, isso se deve muito ao trabalho dos atores, que freiam o caráter um tanto piegas conferido à trama pela maneira como ela se desenrola. O filme lembra As Pontes de Madison (1995), pela paisagem semelhante e o desenho de um amor fadado a percalços, mas, claro, não chega perto do brilhantismo alcançado por Clint Eastwood.

Não à toa Refém da Paixão chegou aos cinemas de mansinho, sem qualquer alarde, ainda que dirigido pelo responsável por Juno (2007) e Amor Sem Escalas (2009), além de ser protagonizado por dois conhecidos atores. O caráter anêmico do todo, ocasionado em grande parte pelo desperdício dos possíveis cruzamentos temáticos que poderiam resultar em algo verdadeiramente profundo, fazem dele um filme multifocado e, ao mesmo tempo, negligente.  Longe de ser cansativo, porém, é daqueles longas que vemos numa boa, ainda que persista uma sensação esquisita de falta, ou de tempo para desenvolver melhor a trama dentro da proposta de Reitman, ou mesmo de sensibilidade para tornar complexo o que se apresenta na tela de maneira simplória.  


Publicado originalmente no Papo de Cinema

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