sábado, 20 de setembro de 2008

Caxias em Cena: Chalaça - A Peça


Bom, e na Capital Brasileira da Cultura (hehehehehehe, desculpem, não me contive), teve início, nesta semana, o décimo festival de teatro Caxias em Cena. Acho a iniciativa da prefeitura de Caxias do Sul absolutamente louvável, afinal não é sempre que podemos ver boas peças da cidade e, principalmente, vindas de outros estados e até mesmo de outros países, por míseros e simbólicos 5 reais. Sim, toda e qualquer apresentação que ocorrerá até o dia 30 de setembro, custa somente 5 reais (menos o show do Cidadão Quem, mas este, na opinião deste que vos fala, é totalmente dispensável). E por este valor, o que se espera? Casa cheia, certo? Sim, certo, é isto que se espera, mas, infelizmente, não é isto que está acontecendo, pelo menos não nesta primeira semana. Informações obtidas com amigos dão conta de que, os primeiros espetáculos possuíam um público estreitamente ligado com a arte teatral (atores, diretores). O público em geral, o povão mesmo que não freqüenta teatro regularmente, público alvo do baixo valor do ingresso, não tem comparecido. Falta de divulgação? Descaso da parte da prefeitura? Mais um sinal de que a Capital da Cultura é um título tal qual o da família real brasileira nos dias de hoje, ou seja, bonito, porém sem valor real algum? Bom, deixemos esta discussão pertinente, porém cansativa e batida, para uma próxima vez. O que quero falar agora é que, ontem, fui ver a minha primeira peça do Caxias em Cena (tenho ingresso comprado para mais quatro).


Chalaça – A Peça é uma adaptação feita pela Cia. Les Commediens Tropicales, de São Paulo, para o livro Galantes Memórias e Admiráveis Aventuras do Virtuoso Conselheiro Gomes, o Chalaça, de José Roberto Torero. A peça tem por mote a família real brasileira, e/ou portuguesa, ou seja, aquela da nossa pátria mãe. Filha da mãe! Somos portanto, e invariavelmente, uma pátria filha-da-mãe, fato. A encenação fala, mais precisamente de Francisco Gomes da Silva, conhecido como Chalaça, figura interessantíssima de nossa história, chamado de A Sombra do Imperador, famoso também por ter apresentado Domitila, a futura amante de D. Pedro e Marquesa de Santos, ao nobre. Como isto não é uma aula de história (eu nem teria conhecimento para tanto), vamos à peça. A encenação começa com um pandemônio, os personagens correndo de um lado para o outro com suas cadeiras e figurinos ora discretos, ora extravagantes. A correria acaba, somente quando um dos personagens senta no centro do palco, com um microfone em sua frente e começa a falar, tal qual estivesse a dar um depoimento, melhor ainda, como se estivesse sendo interrogado sobre a sordidez que existia nas relações familiares reais e o envolvimento de Chalaça em todas estas. O tom começa mais sério, um pouco didático (natural em se tratando de história), mas, aos poucos, a comédia começa a tomar forma, uma forma inapelável, irresistível. Personagem vai, personagem vem, e numa dança das cadeiras muito bem pensada, acompanhada de palavreado erudito misturado com linguagem popular, vemos um pouquinho do nosso passado como colônia e, depois, como império se mostrando por meio das ações de Chalaça, que não aparece como personagem físico na peça, mas, torna-se tão palpável e rico como nenhum outro encenado. Não tenho aqui a pretensão de fazer um texto crítico (tal qual ocorre no caso da história, não tenho bagagem para isso, não sou um conhecedor profundo de teatro), mas devo dizer que Chalaça – A Peça marcou um dos momentos mais divertidos que já tive no teatro. A comicidade, o ótimo texto e a ousadia da companhia contribuem para que se tenha quase uma hora e meia da melhor e mais divertida aula (no melhor sentido da palavra) de história. Destaque para os momentos que são utilizados como transição, para dar uma revigorada na narrativa. Num destes momentos o joguete que se faz é tão engraçado que, nem a genitália masculina exposta, soa como ofensa, soa sim como limite a que o brasileiro chega para sacanear o próximo. Isso mostra um pouco do povo que fomos naquela época e no qual nos tornamos, ou seja, não mudou muita coisa.

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Cara, seu texto está fantástico. Posso dizer que um dos melhores que já li seus. Sobre a Capital da Cultura, onde estão os montantes destinados à dita cuja? Não sei, ninguém sabe. Sobre a peça, concordo plenamente contigo, Celo. Inteligente, corajosa, instigante. O teatro me fascina cada vez mais. O tom cômico que presenciei ontem me fez pensar do porquê filmes tidos como de comédia não nos fazem rir. Pude comprovar que o problema não é criatividade. Fico na dúvida tal qual o impasse de nossa Capital Caxias.

    Abraçossss

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  2. Idem!
    Não tenho muito o que acrescentar ao texto, desde o que diz respeito a nossa capital da falta de cultura, ou quanto a excelente comédia histórica que é Chaçala - A Peça. E que elenco! São poucas pessoas interpretando diversos personagens de forma única, sendo que era difícil ver os mesmos atores em cada uma daquelas figuras históricas. Espero que apareçam outras peças da mesma companhia. Excelente. :D

    Abração Celo!!
    P.s.: Percebeu que tem alguém sobrando na foto que postou (considerando a montagem que vimos!)? :D

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