sábado, 18 de abril de 2009

Caminhando nas Nuvens

Ontem, ao esperar pelo meu lanche numa hamburgueria aqui de Caxias, eu e meu amigo discutíamos a respeito do que é arte, baseados num quadro exposto no local. O quadro era muito bonito, tinha técnica, mas, ambos concordamos, não tinha o que uma obra de arte deve ter: o poder de nos modificar, uma espécie de transcendência. Discutimos e, eventualmente divergimos em alguns casos, sobre como a arte pode se manifestar sob diversas formas e como a subjetividade afeta o fato de algo ser considerado arte ou não.

Divago nesta discussão de ontem, pois, hoje, ao ver o documentário O Equilibrista, que retrata a audaciosa travessia entre as duas torres do World Trade Center, feita pelo francês Philippe Petit, na década de 70, mais precisamente em agosto de 1974, me peguei admirando profundamente um artista e a imagem de sua travessia, tal qual se estivesse caminhando nas nuvens. E mais, na trajetória de Petit, contada de maneira emocional, e até mesmo lúdica, pelo diretor James Marsh, num dos filmes mais tocantes que vi nos últimos anos, parece condensada toda a beleza e “função” que acredito a arte possuir, seja por ele mesmo ou por Petit, seu objeto de desconstrução.

James Marsh não quebra barreiras narrativas para realizar O Equilibrista. Aqui o virtuosismo do filme não reside na forma, mas sim no conteúdo, na maneira com que Petit e todos os seus comparsas lembram dos detalhes, desde quando o francês teve a idéia, passando por suas outras incursões sobre cabos pendurados em grandes alturas, até a obsessão pelas torres gêmeas e o momento, de extrema beleza, que permanece gravado história. É claro que a sombra das torres gêmeas, hoje inexistentes por ventura dos ataques de 11 de setembro, é ingrediente importante nesta mistura de retrato emocional e poético da obra de Petit. É tocante vê-las, por meio de imagens de arquivo, sendo construídas e é impossível que não venha à mente de quem assiste ao documentário, a imagem dos aviões se chocando contra as torres, num contraponto ao sonho de Petit, que era de utilizá-las como parte de uma construção artística. Naqueles instantes em que Petit percorre um estreito cabo de aço, segurando uma vara como apoio, arriscando sua vida em nome de algo maior, mais profundo, sem explicação racional, é a personificação, a retratação gráfica do que a arte pode simbolizar na vida das pessoas.

3 comentários:

  1. Celito!
    "O Equilibrista", como bem apontou, é uma bela motra de como a arte atua, pode atuar ou deveria atuar, se me permite alguma digressão, na vida das pessoas. Lindíssima, peço licença ao meu superlativo, a aura inebriante que envolve, tal qual a cerração fechada, o branco total, os personagens e, essencialmente Petit.
    Atualmente me vejo receptivo aos documentários, não tanto esses impregnados em nossas mentes viciadas, em que o mote principal é um assunto levado de forma banal e didática, mas os que tem cerne constituído de figuras reais que parecem ficcionais, tal a contemplação que permite ao espectador.

    Abraçossss

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  2. Não posso dizer muito do documentário, já que ainda não o vi, mas curiosidade não me falta. O "crime artístico do século", como ficou conhecido o episódio retratado no documentário, me interessa e muito, ainda mais por possibilitar discussões e análises tão interessantes como a sua e a do Rafa, no comentário abaixo.

    Grande abraço, Celo!

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  3. Ops, achei que meu post iria pra cima... Corrigindo: "...no comentário acima". hahaha

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