quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Indicações: Brothers e O Dia da Transa

É extremamente difícil imaginar algum paralelo interessante entre os dois filmes mencionados no título dessa postagem, e não pretendo quebrar a cabeça para encontrar algum. O encontro de tais obras em um mesmo texto, filmes que possuem origens e intenções tão distintas, serve apenas para indicar a validade na experiência cinematográfica com qualquer uma das produções. Brothers e O Dia da Transa, que são comandados por mulheres dotadas de extrema competência nas funções que exercem, são pequenos e gratificantes achados em meio a recorrentes decepções com produções mais conhecidas.

Brothers, da dinamarquesa Susanne Bier, é um drama protagonizado por um trio excepcional composto por Ulrich Thomsen (de Festa de Família), Connie Nielsen (de Gladiador) e Nikolaj Lie Kaas (que já havia trabalhado com Bier em Corações Livres). A diretora, que fez/faz parte do Dogma 95, deixa de lado alguns preceitos de tal movimento para apostar no melodrama ao apresentar uma família que passa por um período bastante turbulento.
Em Brothers conhecemos Michael, que é erroneamente dado como morto no Afeganistão. Sua esposa, Sarah, estreita as relações com seu cunhado, Jannik, enquanto supera tal perda. Quando o último retorna para sua família, no entanto, alguns traumas de guerra passam a desestabilizar todas essas relações.
Bier desenvolve com cautela todas as faces de seus personagens, dando credibilidade aos mesmos, fator com o qual colaboram em muito seus atores. Em geral, no entanto, fica a sensação que a diretora se dedicou com maior intensidade a momentos errados do filme, excedendo na atenção à Michael e sua estada no Afeganistão e menos na relação de seu irmão com sua esposa, assim como no convívio de sua família após sua "morte". Brothers ganhou um remake norte-americano que, se desinteressa simplesmente pelo fato de ser uma refilmagem, ganha credibilidade por ser comandado pelo ótimo Jim Sheridan. É esperar para ver se as incorreções da produção dinamarquesa foram descartadas e se todos os seus méritos foram mantidos.




Humpday, que ganhou o interessante título de O Dia da Transa quando exibido na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é uma comédia independente cativante, que trabalha incrivelmente bem com os personagens preferidos de Judd Apatow: os novos adultos.
Dirigido e roteirizado por Lynn Shelton, que faz uma participação no filme como a liberal Monica, O Dia da Transa foi concebido no melhor estilo Mike Leigh: meses para o desenvolvimento dos personagens, roteiro sendo desenvolvido nas filmagens e muita improvisação por parte de seu elenco. Tais escolhas beneficiam em muito os fatos que culminam no tal "dia da transa": Ben e Andrew são amigos que se reencontram e, bastante embriagados em uma festa, decidem fazer um pornô gay artístico para um festival do gênero. Dentre os problemas do desafio estão o fato de ambos serem heterossexuais e de Ben ser casado. O que os motiva? Ben quer, mesmo que não assuma, comprovar que pode ser descolado, enquanto Andrew deseja mais que tudo terminar um projeto em sua carreira de arte.
Os atores são incríveis, ainda mais quando se sabe que os mesmos foram os responsáveis por quase todo o desenvolvimento de seus personagens. Joshua Leonard, que despontou em A Bruxa de Blair, andava apagado até encarnar o extrovertido Andrew, dotado de uma gargalhada contagiante. Mark Duplass, que ainda é diretor e roteirista de alguns outros filmes, também dá o tom certo ao criar um simpático Ben, que esconde um garoto por trás da pose de homem.
Vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Sundance, O Dia da Transa é uma grata surpresa e merece ser conferido, principalmente pela abordagem madura ao conhecido "bro love" (amor de "manos") e até onde ele pode ir. O final melancólico do filme apenas confirma a qualidade do mesmo, sendo totalmente compreensível a vontade de se passar mais algumas horas na companhia desses personagens bastante únicos.

4 comentários:

  1. Olá Kon,

    Que dicas interessantes. Conheço ambos os filmes só de nome, já que não tive ainda a oportunidade de vê-los. Em relação a "Brothers", confesso que gostei bastante do trailer do remake, principalmente porque Tobey Maguire parece ótimo no papel do soldado que volta depois de ser dado como morto. Já sobre "O Dia da Transa", a sinopse é uma daquelas que, por si só, já causam curiosidade, esta que será morta em breve.
    Parabéns pelo texto, muito bom.

    Abraços

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  2. Vocês escrevem textos aqui que deixam nós leitores com água na boca rs.
    Os dois filmes foram super bem falados aqui no RJ! E depois dos posts só aguçou minha curiosidade.
    Muito bacana suas impressões Conrado.

    um beijo
    Carol

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  3. Celo e Carol!
    Não percam a oportunidade de conferirem aos filmes quando puderem. Com certeza não serão sessões perdidas!

    Abraços!

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  4. Oi, Kon!
    Fiquei especialmente interessado em "O Dia da Transa". Obrigado pelas dicas.

    Abraçosss

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