sábado, 15 de maio de 2010

Direito de Amar

Direção: Tom Ford
Roteiro: Tom Ford e David Scearce, baseado em livro de Christopher Isherwood
Elenco: Colin Firth, Julianne Moore, Nicholas Hoult, Matthew Goode, Jon Kortajarena

Os detratores dizem que Tom Ford, estilista renomado que agora resolveu virar diretor de cinema e debuta com este filme, atendendo a um chamado de seu passado como profissional de moda, deu estilo demais à Direito de Amar. A jornada de um homem (interpretado de maneira sublime por Colin Firth) que, oito meses após a morte de seu companheiro, não conseguindo mais vislumbrar um futuro, decide se matar, é retratada com muita classe e estilo. Palavras estas que se aplicam tanto à forma como ele filma, ou seja, como esta história se transporta ao cinema, quanto à execução do ponto de vista fashion, a moda da qual Ford tanto entende. Isto não é ruim, pelo menos não a meu ver. Optar por um registro onde os penteados são perfeitos, os cortes de cabelo devam ter custado uma fortuna, em que tudo é muito bonito, faz parte de uma opção, aliás, como qualquer elemento fílmico e, como visto em algumas opiniões, uma opção arriscada, que pode afastar o espectador mais avesso a esta maquiagem da dita realidade.

Quanto a minha percepção, acredito que Direito de Amar seja beneficiado por toda esta aura de beleza, por esta estilização que flerta com o over. É uma espécie de espelho inverso, onde a beleza surge como couraça para sujeitos destruídos internamente, como se aquilo, aquela estética apurada, servisse, pelos personagens, para amenizar seus dramas internos, suas pequenas tragédias. Isto fica bem explícito numa cena em que Juliane Moore inicia de penteado impecável e, conforme vai se desestabilizando emocionalmente, ele, o penteado, vai desmantelando, deixando ele meio que caricata, como se a beleza construída, vamos dizer assim, artificialmente não fosse páreo para a feiúra de um espírito em pedaços.

Direito de Amar me agradou. Parece-me que Tom Ford tem talento, é um homem de sutilezas e várias delas tornam o filme mais interessante. Não se precisa dizer tudo, pelo menos não diretamente, e é por esta cartilha que o novato diretor se guia, muito bem por sinal. Há cenas de rara beleza emocional, além de diversas homenagens ao cinema, como uma aluna “Briggite Bardou”, um michê “James Dean” e os olhos de Janet Leigh, num imenso cartaz de Psicose, numa das cenas mais poéticas do filme. O único senão, e que, por mais que seja único, acaba diluindo bastante a intensidade do relato introspectivo de George, é a maneira como o diretor, do meio para o final, vai dando ao espectador a noção de que há outras pessoas, próximas a George, que são como ele, que sofrem igualmente. Neste momento do filme, George passa a dividir nossa atenção com outros personagens, o que o enfraquece. Levando em consideração que Direito de Amar é um filme guiado pelo personagem central, digamos que a narrativa toda se perde em essência por conta disso. Não é pouco, tira de Ford a possibilidade de ter estreado com um filme mais coerente, mais poderoso. Não sei ainda se gosto do final. Não consegui captar bem a intenção, mas tendo a achar que a inevitabilidade surge como punição desnecessária a um personagem que não teve chance de se arrepender.


3 comentários:

  1. Muito legal o seu contraponto sobre a estética! Não tinha atentado pra isso.
    Ameii "Direito de amar". Achei tocante e sutil ao mesmo tempo. Sem exageros e talvez por isso nos toque fundo.
    Colin F. está genial, como eu nunca vi.
    Na minha opinião, onde ele chegou mais perto foi em "Verdade Nua" do Atom Egoyan.
    Julianne M. também está excelente mas não surpreendente, talvez por eu me reportar à "Pecados Inocentes"(quando me lembro de alguma atuação sua) , filme que o teor me lembrou esse "Direito de amar", a densidade, o fenômeno "causa efeito", onde ela está fenomenal e surpreende.
    Enfim, de qualquer forma, "Direito de amar" nao deixa nem um pouco a desejar.
    Também adoreii!

    bjs
    Carol

    bjs

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  2. O que não me pegou no filme foi justamente esse terceiro ato problemático. Muita coisa é colocada a perder, como o desenvolvimento tão brilhante do protagonista, por pouca coisa - mera reafirmação de ideias já apresentadas até então. Também me soa bonito em excesso - se existir um ponto em que a beleza sobra - com todo o cuidado estético do filme, deixando-o parcialmente artificial em alguns momentos.

    Mas, como já havia te dito, é um grande diretor que nasce para o cinema e um já grande ator que se mostra ainda maior que qualquer um poderia supor. Um filme de forma alguma dispensável, devo dizer.

    Abraços Celo!

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  3. Oi, Celo!
    Fiquei bem interessado no filme e, ao menos me parece, ter uma trilha sonora bem forte.

    Abraçossss

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