sábado, 11 de dezembro de 2010

A bem-vinda incorreção de Kick-Ass


Os filmes de super-herói tomaram de assalto a indústria americana de cinema nos últimos anos. Descoberto o filão e a máquina de fazer dinheiro, toda a engrenagem que movimenta financeiramente Hollywood se ajustou para seguir a direção do gosto popular, e até editoras de quadrinhos viraram estúdios, para poderem ganhar mais dinheiro com a galinha dos ovos de ouro que tinham em mãos. Alguns dos filmes desta tipologia são muito bons, a maioria nem tanto, mas como isto não é exclusividade dos heróis, e sim uma tendência triste de falta de criatividade, não iremos utilizar este argumento para minimizar os filmes do novo gênero.

Quando surgiu, Kick-Ass - Quebrando Tudo, baseado numa HQ que virou cult onde foi publicada, foi apontado por uma parte da crítica como sendo algo de reveladora importância, como se a história, cheia de sangue e incorreção, do menino que quer virar herói mesmo que não possua poder algum, fosse um tipo de evolução, ou mesmo a prova de que tendência violenta/sombria (lembram-se do alarido em torno de Batman - O Cavaleiro das Trevas?) estaria agradando ao público mais do que os valorosos e limpinhos antigos faróis da boa conduta. A crítica, principalmente a americana, gosta de pregar umas peças, de alçar alguns cineastas ou filmes a panteões que de direito não lhes pertencem. No caso de Kick-Ass - Quebrando Tudo, a crítica exagerou, concordo, não há nada que justifique demais este alvoroço, mas que é um filme divertidíssimo, ah isto é.

Dave quer ser herói, mas não perdemos muito tempo com explicações filosóficas para a gênese desta vontade. Ele quer e pronto. Compra uma roupa na internet e sai querendo fazer a coisa certa. É claro, se arrebenta, e logo percebe que não depende só de querer, mas de poder. Em seu caminho, ele encontra pessoas que, tampouco dotadas de poderes, lutam contra o crime, só que por vingança. Entram em cena então, Big Daddy e Hit Girl, a dupla que representa um ponto que me agrada muito em Kick-Ass - Quebrando Tudo: a falta de correção. Ok, dirão os detratores, é tudo da HQ, não é original, mas pensem em mostrar na tela uma menina de 11 anos decapitado pessoas, arrancando membros, assassinando a sangue frio, e agora vislumbrem o embate destas imagens com aquelas associações carolas que vivem buscando o pomo da discórdia, e castram as criações pelo bem da “moral e dos bons costumes”. Se o filme não fosse feito com financiamento independente, e se as exibições prévias e marketing preliminar não tivessem despertado no público a vontade de vê-lo no circuito, provavelmente Kick-Ass - Quebrando Tudo nunca teria saído das páginas da história originalmente concebida por Mark Millar e John Romita Jr.

Kick-Ass - Quebrando Tudo é sangue, personagens arquetípicos, citações pop, trilha sonora inspirada (em alguns momentos, especialmente inspirada), e uma direção muito segura de Mattew Vaughn. Impagável a interpretação de Nicolas Cage (fã inveterado de quadrinhos) como Big Daddy, fazendo referência a Adam West, o ator que envergou a capa de Batman no seriado televisivo sessentista. Aliás, o elenco está ótimo, e me cobrem no futuro se Aaron Johnson não será o novo queridinho de Hollywood, enquanto a preciosidade chamada Chloë Moretz será uma das mais interessantes atrizes de sua geração.  

Kick-Ass - Quebrando Tudo é o que promete: diversão, violência, que de tão absurda e recorrente vira elemento quase cômico, e uma boa dose de profundidade, se formos analisar as histórias familiares: a do homem que busca vingança, nem que para isto precise transformar a filha numa máquina de guerra, ou a do filho que faz de tudo para ficar ao lado do pai, nem para que isso precise virar um bandido. Kick-Ass - Quebrando Tudo não vai mudar os rumos do cinema, nem mesmo do gênero no qual está inserido, mas que é um entretenimento empolgante, antenado com a época em que foi realizado (atentem para a internet, quase personagem do filme) e com alguns momentos emocionantes (sim, eu derramei algumas lágrimas), não há como negar. Entretenimento sim, assumido e confesso, e por que passar o tempo, se entreter, com algumas porcarias vistas por aí, quando podemos nos envolver com uma narrativa absurdamente divertida como a de Kick-Ass - Quebrando Tudo?

2 comentários:

  1. Caramba, deu vontade de ver agora "Kick Ass" :)Além de interessante a sinopse e a resenha que eu também já tinha lido anteriormente, seus comentários aqui são animadores!

    Agora só pra ilustrar e ratificar seu comentário sobre o Nicolas Cage e sua adoração pelas HQ.
    Serei breve ao fazer uma fofoca dos bastidores rs,porque foi inevitável a lembrança de uma história sobre o próprio, que qdo esteve casado com a Patricia Arquette, teria se desfeito de toda sua coleção de HQ por conta de uma exigência da atriz,que por sua vez também teria feito uma outra exigência um tanto qto excêntrica que era que o astro encontrasse um tipo de flor rara como prova de amor à bela e poderosa Patricia A. E parece que Nicolas C. sucumbiu às ordens da moça na época!! Isso é que é amor(!?),levando em consideração a paixão de Nicolas P. pelas HQ e sua coleção que incluía até a edição de estréia de Super Homem de 1938!!
    Fofocas sobre os astros a quem interessar possa!! =D

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  2. Olá, Celo!
    Assim que conseguir, locarei o filme.

    Abraçosss

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