sábado, 27 de agosto de 2011

Luta desigual


É, o cinema brazuca está de pernas pro ar, apostando forte em comédias rasteiras, boas de público e ruins de arte. Claro que é bom ver as pessoas indo às salas de exibição conferir os filmes que falam sua língua, mas custava ser menos subserviente aos signos televisivos, aos estereótipos e ao humor diluído? Mas, muita calma nessa hora, pois nem tudo está perdido. Vez ou outra surge algum exemplar de dar orgulho, mas aí ele não emplaca, fica pouco em cartaz, some nas prateleiras de DVD, vira filme de gueto. Onde está a felicidade? No diminuto público que aprecia filmes de qualidade, ou na multidão que gosta dos rasos, mas que justamente por ser numerosa alavanca o mercado? É, nosso cinema está no divã, cheios de complexos, neuras e síndromes. Parece que damos voz a qualquer gato vira-lata que tenha um roteiro esperto sobre alguma bobagem, enquanto os bons artistas ficam anos esperando o financiamento de seus próximos projetos. Os bons filmam pouco por falta de oportunidade. Os oportunistas surfam na onda que vem.

Ninguém aqui é louco de negar os benefícios deste tipo de produto que se convencionou chamar de “globochanchada”, pois ele aquece o mercado interno e chama atenção. Cilada é relevar demais esta corrente apoiada num humor duvidoso, como se ISTO, e SÓ ISTO, representasse cinema brasileiro. Se eu fosse você, abriria mais os olhos, e os sentidos, para a pluralidade do que é feito em nosso território, sairia de vez em quando da fila quilométrica daquele filme com as caras de sempre no multiplex, e daria uma chance para aquele outro que fala sua língua, cuja fila está curta, numa das poucas salas que se abrem às alternativas. É, a velha luta do poderoso dragão da maldade contra o corajoso, porém enfraquecido, santo guerreiro.

5 comentários:

  1. É verdade Marcelo.E essa sua valorização me motivava desde a época da Cinéfilos..a assistir filmes brasileiros que de alguma forma foram especiais pra vc. Lembro de dois que vc indicou que eu adorei:"A casa de Alice" foi um e o outro "Não por acaso"!
    De qualquer forma, percebo que hoje há maior espaço e incentivo a exbição de filmes nacionais de categoria. Ao menos nas salas aqui. Isso tem acontecido e o público vem aderindo.
    Lembro que quando vi recentemente "A falta que nos move" os ingressos estavam disputados, assim que foi exbido.

    beijos

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  2. É, posso dizer mesmo Carol que sou um entusiasta do nosso cinema, das coisas por aqui já feitas, e um eterno esperançoso a respeito das por fazer. Não vejo um povo completo em sua identidade cultural sem um cinema forte, diversificado, que dê conta dos muitos aspectos da sociedade em que está inserido. O Brasil é continental, plural, portanto difícil de se radiografar sem recortes bastante específicos.

    Esta nova leva de comédias rasas cumpre um papel, como dito no texto, mas apenas o de aquecer o mercado interno de consumo próprio, nada mais. Esperar que o mesmo público que vai ver um destes filmes se interesse por algo mais profundo, de repente seja utopia, mas sonhar com o ideal não custa nada, não é mesmo?

    Obrigado pelo comentário.
    beijos

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  3. Olá, Celo!
    Adorei seu texto, muito pertinente e criativo (fiquei procurando referências que posso ter deixado escapar!). Creio que a situação do mercado nacional não é muito diferente do cenário global: o filme de arte, seja aqui ou na China, perde cada vez mais espaço, seja nas salas exibidoras ou no interesse dos espectadores.
    Ainda assim, fico feliz por não ver sinais de menores esforços por parte dos incentivos para a produção. Numa realidade quase utópica que por vezes me seduz, fico imaginando como seria se além de todo o incentivo para a produção houvessem esforços equivalentes para a distribuição e formação de público para um cinema que cada vez mais fica relegado a uma pequena parcela de interessados.

    Grande abraço, Celo!
    Parabéns novamente pelo texto

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  4. Olá, Celo!
    Excelente texto. Pois é, todos sabemos e não negamos a importância do "cinemão", mas existe, e muita, vida inteligente na sétima das artes produzidas em terras brasileiras. É uma pena, contudo as pessoas de maneira generalizada não gostam de pensar, preferem aceitar o que se passa, sem questionamentos e/ou reflexões, apenas reagindo, semelhante aos impulsos elétricos emitidos dos pontos mais distantes de nosso corpo ao cérebro, que se dá o trabalho de apenas identificar. Apenas.


    Abraçosssss

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