domingo, 9 de outubro de 2011

Festival do Rio 2011: Um Método Perigoso



UM MÉTODO PERIGOSO
Título Original: A Dangerous Method
De: David Cronenberg
Alemanha/Reino Unido/Suíça, 2011.

Esta sessão foi a (minha) "estreia" no Festival do Rio, parece que o evento só começou agora, e em grande estilo. Por ter sido no Odeon e em cima, graças a amiga Bianca que insistiu nessa grande ideia, pois ver Cronenberg de cima é tudo de bom. Sem contar que assistir a filmes na companhia de pessoas queridas, que se interessam por cinema, e depois ainda topam falar sobre, trocar ideias é muito bom. Uma fila enorme surgia no Odeon antes das 19h e com ela a expectativa do filme que estava por vir.

"Um Método Perigoso" se passa em Viena, às vésperas da 1ª Guerra Mundial e se baseia na gênese da psicanálise para desenvolver a trama principal. Carl Jung (interpretado brilhantemente por, ninguém mais ninguém menos, que Michael Fassbender) atende seus pacientes à partir dos ensinamentos de seu mentor, o psicanalista Sigmund Freud, vivido por Viggo Mortensen (que também é um show à parte). Ambos conhecem a jovem Sabina Spielrein (Keira Knightley), doente e perturbada pelo passado, e logo ficam atraídos, cada um a seu modo por ela. Com o tratamento que se inicia, Jung se aproxima de Sabina e tem um caso com a moça. O terapeuta começa a se questionar sobre os efeitos e as consequências desse caso e também se vê perturbado pelas falas de seu mestre Freud. Os dois passam a discordar e a rumar para caminhos diferentes, chegando a romper a amizade e a cumplicidade de ideais.

David Cronenberg nunca deixou de ser lembrado por suas bizarrices, seus absurdos, mas, sobretudo pelo seu talento em dirigir ótimos filmes e roteirizar muitos destes. Lembrando rapidamente: "Crash, Estranhos Prazeres", "Gêmeos, Mórbida Semelhança", "EXistenZ", "Senhores do Crime". Mais uma vez fico encantada, mas agora principalmente por constatar sua versatilidade e capacidade de se adequar a um contexto completamente diferente do que de costume. "Um Método Perigoso" que tem o roteiro assinado pelo dramaturgo Christopher Hampton, com base numa peça de sua autoria chamada "The Talking Cure", que por sua vez teve elementos autobiográficos do livro "A Most Dangerous Method" de John Kerr, teve a sorte de ser dirigido por David Cronenberg e por sua fidelidade a proposta que com certeza, foi alvo de seu interesse. Sutileza e delicadeza não são definitivamente a marca registrada de Cronenberg. O diretor canadense quase sempre escolhe o pathos, o caos físico e mental e os limites destes para criar seu cinema absolutamente autoral e libertário, onde o corpo é laboratório de suas experimentações cinematográficas.

Neste seu novo filme, diferente dos demais, Cronenberg adapta com competência e nos transmite de forma fidedigna a atmosfera Vienense da época, o "duelo" (com classe e consistência) de dois Titãs, que no fundo se complementavam, ao menos até certa época. E é capaz de transformar Viggo Mortensen num senhor, com um andar próprio, um olhar firme, gestos característicos do pai da psicanálise. Inclusive essa "parceria"  de Cronenberg e Viggo M. deu muito certo. O mesmo ocorre com Jung, muito bem representado pelo fantástico Michael Fassbender. Cronenberg, além de todos os predicados já mencionados, é fera na arte de dirigir atores e captar cada expressão, cada movimento, extrair dos mesmos o seu melhor. Não posso esquecer de citar Vincent Cassel que vive Otto Gross, paciente de Jung. Interpreta muito bem também. Preciso admitir que tenho certa implicância com a atriz Keira Knightley e me perguntei várias vezes porque ela foi escalada para interpretar alguém de tanto destaque, mas nada é perfeito (risos). No entanto, ela está bem, cumpre o seu papel, não faz feio não. Em alguns momentos achei ela excessiva, cliché, mas precisava, talvez não tivesse outra forma de retratar a histeria da época. Detalhe para a ambientação: absolutamente perfeita. Um verdadeiro colírio aquela fotografia e locações.

Sou suspeita em todos os sentidos para comentar aqui , sobre "Um Método Perigoso", pois o contexto favoreceu: direção, o cinema e a companhia, além da temática. Mas posso assegurar de que valeu muito à pena, e que um prêmio como Oscar, por exemplo, caberia aos dois atores tranquilamente. Que venha mais Cronenberg por aí!


6 comentários:

  1. É, no mínimo, curiosa a guinada que a carreira do Cronemberg deu nos últimos anos, quando parece ter se desinteressado (pelo menos momentaneamente) pelas narrativas mais absurdas, com os elementos característicos de sua filmografia até então, para se focar em tramas mais, digamos, próximas de um cinema clássico. Provas de sua versatilidade, estes filmes são igualmente repletos de qualidades (pelo menos os que vi) e mal posso esperar para poder assistir a este "Um Método Perigoso".

    beijos

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  2. Olá, Carol!
    Fico contente com sua boa impressão, pois tenho muita vontade de assistir ao filme, pela temática, direção e atuação, todos de alto nível.

    Beijossssss

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  3. Espero ansioso este novo filme de Cronemberg desde que vi a primeira imagem. Tenho muito interesse sobre psicanálise, ainda que conheça extremamente pouco. Um filme sobre o assunto, ainda mais com este staff, só poderia ser um grande acerto ou grande erro. Pelo seu texto e o que mais tenho lido a respeito, já imagino qual será minha impressão!

    Beijos, Carol!

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  4. Pois é Conrado. Eu sou suspeita né? Mas mesmo o Cronenberg ter puxado a brasa pro lado do Jung, assim eu senti, portanto para a psicologia anlítica e tão tanto para o Freud e a psicanálise, o filme é incontestavelmente bom!
    Digo isso porque se vc tem interessante pela psicanálise, sua impressão pode não ser das melhores hehe.
    Inclusive o filme narra até 1916 se eu nao me engano e depois disso, muita água rolou.

    Ansiosa pelas impressões de vcs sobre "Dangerous method".

    beijos

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  5. O filme é realmente imperdível, o que torna ainda mais difícil entender o por que de existirem tão poucos filmes sobre a história da psicanálise e de seu fundador. Charcot, Breuer, Tausk,Jones, Jung, Adler, Anna Freud, Klein, Ferenczi, Reich, não faltam personagens e histórias. Mas este é realmente excepcional, direção, roteiro, atuação (exceto Keira, dou o braço a torcer...), tudo perfeito. Ver Freud em seu escritório, com as estátuas, o divã, a escrivaninha... Enfim, Cronenberg fez um filme obrigatório para quem se interessa por psicanálise, mas as questões de seus personagens tem apelo universal. Bjs.

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  6. É verdade Achiles, fico sempre pensando sobre o fato de existirem tão poucos filmes sobre psicanálise.
    Deve ser complicado ousar, penso eu..
    Cronenberg fez isso na cara e na coragem!! Como sempre, diga-se de passagem. Mas é raro!
    Achei interessante sua percepção..sobre a imagem do Freud(Viggo M.)!!
    valeu beijos.

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