UM MÉTODO PERIGOSO
Título Original: A Dangerous Method
De: David Cronenberg
Alemanha/Reino Unido/Suíça,
2011.
Esta sessão foi a (minha)
"estreia" no Festival do Rio, parece que o evento só começou agora, e
em grande estilo. Por ter sido no Odeon e em cima, graças a amiga Bianca que
insistiu nessa grande ideia, pois ver Cronenberg de cima é tudo de bom. Sem
contar que assistir a filmes na companhia de pessoas queridas, que se
interessam por cinema, e depois ainda topam falar sobre, trocar ideias é muito
bom. Uma fila enorme surgia no Odeon antes das 19h e com ela a expectativa do
filme que estava por vir.
"Um Método Perigoso"
se passa em Viena, às vésperas da 1ª Guerra Mundial e se baseia na gênese da
psicanálise para desenvolver a trama principal. Carl Jung (interpretado
brilhantemente por, ninguém mais ninguém menos, que Michael Fassbender) atende
seus pacientes à partir dos ensinamentos de seu mentor, o psicanalista Sigmund
Freud, vivido por Viggo Mortensen (que também é um show à parte). Ambos
conhecem a jovem Sabina Spielrein (Keira Knightley), doente e perturbada pelo
passado, e logo ficam atraídos, cada um a seu modo por ela. Com o tratamento
que se inicia, Jung se aproxima de Sabina e tem um caso com a moça. O terapeuta
começa a se questionar sobre os efeitos e as consequências desse caso e também
se vê perturbado pelas falas de seu mestre Freud. Os dois passam a discordar e
a rumar para caminhos diferentes, chegando a romper a amizade e a cumplicidade
de ideais.
David Cronenberg nunca deixou
de ser lembrado por suas bizarrices, seus absurdos, mas, sobretudo pelo seu
talento em dirigir ótimos filmes e roteirizar muitos destes. Lembrando
rapidamente: "Crash, Estranhos Prazeres", "Gêmeos, Mórbida Semelhança",
"EXistenZ", "Senhores do Crime". Mais uma vez fico
encantada, mas agora principalmente por constatar sua versatilidade e
capacidade de se adequar a um contexto completamente diferente do que de
costume. "Um Método Perigoso" que tem o roteiro assinado pelo
dramaturgo Christopher Hampton, com base numa peça de sua autoria
chamada "The Talking Cure", que por sua vez teve elementos
autobiográficos do livro "A Most Dangerous Method" de John Kerr, teve
a sorte de ser dirigido por David Cronenberg e por sua fidelidade a proposta
que com certeza, foi alvo de seu interesse. Sutileza e delicadeza não são
definitivamente a marca registrada de Cronenberg. O diretor canadense quase
sempre escolhe o pathos, o caos físico e mental e os limites destes para criar
seu cinema absolutamente autoral e libertário, onde o corpo é laboratório de
suas experimentações cinematográficas.
Neste seu novo filme, diferente
dos demais, Cronenberg adapta com competência e nos transmite de forma
fidedigna a atmosfera Vienense da época, o "duelo" (com classe e
consistência) de dois Titãs, que no fundo se complementavam, ao menos até certa
época. E é capaz de transformar Viggo Mortensen num senhor, com um andar próprio,
um olhar firme, gestos característicos do pai da psicanálise. Inclusive essa
"parceria" de Cronenberg e Viggo M. deu muito certo. O mesmo ocorre
com Jung, muito bem representado pelo fantástico Michael Fassbender. Cronenberg,
além de todos os predicados já mencionados, é fera na arte de dirigir atores e
captar cada expressão, cada movimento, extrair dos mesmos o seu melhor. Não posso esquecer de citar Vincent
Cassel que vive Otto Gross, paciente de Jung. Interpreta muito bem também. Preciso
admitir que tenho certa implicância com a atriz Keira Knightley e me perguntei
várias vezes porque ela foi escalada para interpretar alguém de tanto destaque,
mas nada é perfeito (risos). No entanto, ela está bem, cumpre o seu papel, não
faz feio não. Em alguns momentos achei ela excessiva, cliché, mas precisava,
talvez não tivesse outra forma de retratar a histeria da época. Detalhe para a
ambientação: absolutamente perfeita. Um verdadeiro colírio aquela fotografia e
locações.
Sou suspeita em todos os sentidos
para comentar aqui , sobre "Um Método Perigoso", pois o contexto
favoreceu: direção, o cinema e a companhia, além da temática. Mas posso
assegurar de que valeu muito à pena, e que um prêmio como Oscar, por exemplo,
caberia aos dois atores tranquilamente. Que venha mais Cronenberg por aí!
É, no mínimo, curiosa a guinada que a carreira do Cronemberg deu nos últimos anos, quando parece ter se desinteressado (pelo menos momentaneamente) pelas narrativas mais absurdas, com os elementos característicos de sua filmografia até então, para se focar em tramas mais, digamos, próximas de um cinema clássico. Provas de sua versatilidade, estes filmes são igualmente repletos de qualidades (pelo menos os que vi) e mal posso esperar para poder assistir a este "Um Método Perigoso".
ResponderExcluirbeijos
Olá, Carol!
ResponderExcluirFico contente com sua boa impressão, pois tenho muita vontade de assistir ao filme, pela temática, direção e atuação, todos de alto nível.
Beijossssss
Espero ansioso este novo filme de Cronemberg desde que vi a primeira imagem. Tenho muito interesse sobre psicanálise, ainda que conheça extremamente pouco. Um filme sobre o assunto, ainda mais com este staff, só poderia ser um grande acerto ou grande erro. Pelo seu texto e o que mais tenho lido a respeito, já imagino qual será minha impressão!
ResponderExcluirBeijos, Carol!
Pois é Conrado. Eu sou suspeita né? Mas mesmo o Cronenberg ter puxado a brasa pro lado do Jung, assim eu senti, portanto para a psicologia anlítica e tão tanto para o Freud e a psicanálise, o filme é incontestavelmente bom!
ResponderExcluirDigo isso porque se vc tem interessante pela psicanálise, sua impressão pode não ser das melhores hehe.
Inclusive o filme narra até 1916 se eu nao me engano e depois disso, muita água rolou.
Ansiosa pelas impressões de vcs sobre "Dangerous method".
beijos
O filme é realmente imperdível, o que torna ainda mais difícil entender o por que de existirem tão poucos filmes sobre a história da psicanálise e de seu fundador. Charcot, Breuer, Tausk,Jones, Jung, Adler, Anna Freud, Klein, Ferenczi, Reich, não faltam personagens e histórias. Mas este é realmente excepcional, direção, roteiro, atuação (exceto Keira, dou o braço a torcer...), tudo perfeito. Ver Freud em seu escritório, com as estátuas, o divã, a escrivaninha... Enfim, Cronenberg fez um filme obrigatório para quem se interessa por psicanálise, mas as questões de seus personagens tem apelo universal. Bjs.
ResponderExcluirÉ verdade Achiles, fico sempre pensando sobre o fato de existirem tão poucos filmes sobre psicanálise.
ResponderExcluirDeve ser complicado ousar, penso eu..
Cronenberg fez isso na cara e na coragem!! Como sempre, diga-se de passagem. Mas é raro!
Achei interessante sua percepção..sobre a imagem do Freud(Viggo M.)!!
valeu beijos.