sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Festival do Rio 2011: We Need to Talk About Kevin



WE NEED TO TALK ABOUT KEVIN
Título Original: "We Need to Talk About Kevin"
De: Lynne Ramsay Reino Unido, 2011.

Baseado no romance de Lionel Shriver, adaptado para o cinema, "We Need to Talk About Kevin", esteve entre os filmes mais aguardados deste festival. Até agora me pergunto o motivo do título não ter sido traduzido como os outros. Foi só uma observação, mera curiosidade. Com um elenco de peso, e de antemão um prestígio, mesmo antes do filme ficar pronto"..Kevin" como ficou sendo chamado, virou um best seller. Não li o livro e achei que soubesse grande parte do conteúdo, mas na hora, para minha surpresa, constatei que não. Mesmo levando em consideração que toda adaptação literária para o cinema sofre transformações, cortes e enxertos.

"We Need to Talk About Kevin" traz em seu núcleo, Eva, mulher vivida pela sensacional Tilda Swinton, que tem uma vida estável com seu marido Franklin (John. C. Reilly). Quando eles decidem ter um filho, a relação dos dois sofre sensível mudança, pois desde a gravidez Eva apresenta dificuldades em lidar com a maternagem. E Kevin (Ezra Miller) se mostra uma criança difícil, com características peculiares já bem pequeno. Aos 15 anos, ele comete um ato irreparável que abala a vida da família inteira. Eva então começa a avaliar sua vida, analisando sua parcela de culpa e tentando entender o que levou o filho a cometer tal ato.

Enquanto filme, "..Kevin" é redondo, cumpre todas as obrigações, com louvor. Linda fotografia, excelente montagem, atuações ótimas, em especial de Tilda Swinton, que não podia estar melhor e mais perfeita para o papel, e do ator Ezra Miller que interpreta Kevin. Espetacular as fases do garoto, desde bebê até adolescência. Além das caracterizações que resistem muito bem ao vai e volta da diretora. Trilha ótima e funcional, que quebra um pouco o peso absurdo de uma narrativa densa e amedrontadora, quase um thriller.

O problema é que o filme, tecnicamente falando, com todos os predicados e tendo cumprido muito bem as demandas, não dá conta de argumentos clichés que tentam explicar a grande tragédia. Fiquei com a impressão de uma necessidade por parte da autora, em justificar os fatos e na tentativa de entrar em questões como: há culpados para atitudes como esta? Caráter nato ou inato podem resultar nesse tipo de situação? O papel dos familiares, os tipos de influências que o sujeito pode ter ao longo da vida..etc etc. Achei que nessa, ela se perdeu e seus argumentos foram insuficientes e até fantasiosos, idealizados tornando o filme estereotipado. 

Muito barulho por nada? Não, mas por pouco. Para mim, faltou arte, sensibilidade e ficção!!! Não à toa, a sensação de que "..Kevin" tivesse sido baseado em fatos. Mas não, nem uma coisa, nem outra. Para um grande e alarmante acontecimento, um argumento fraco que não sustentou sua provocação inicial.


5 comentários:

  1. Instigado pela produção do filme, e por comentários de amigos que diziam ter adorado o livro, li há alguns meses "Precisamos Falar Sobre o Kevin", e gostei muito. Tirando uma certa redundância, que vez que outra fazia com que eu cansasse da narrativa, o livro me parece uma viagem bastante dolorosa pelas reminiscências desta mãe, que não queria ser mãe e que sempre teve uma relação de conflito com seu rebento. No mínimo uma provocação, principalmente quando notamos a sociedade pouco disposta a se desapegar do senso comum de que toda mãe (ou pai) vê o fato da reprodução como uma dádiva divina de benefícios incontestes.

    Pois bem, agora fico na expectativa para o filme, assim que ele chegue ao nosso circuito.

    Na época da leitura, me perguntava como você Carol, que é psicóloga e mãe, encararia estes questionamentos da protagonista. Mas acho que, segundo sua recepção do filme, para ter um bom termômetro, o bom mesmo seria ler o livro.

    beijos

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  2. É...mas sinceramente, depois do filme e de comentários, resenhas sobre o livro, não fico animada pra iniciar a leitura.
    Estou convencida que esse tipo de conteúdo, compilação de desgraças que resultam numa tragédia, definitivamente não fazem a minha cabeça.
    Mais ainda pelo fato de serem absolutamente incompatíveis com a realidade. O filme e acho que o livro tem sim, uma cota da vida real, de eventos e situações reais, mas quando são grosseiramente juntados, viram qualquer coisa, menos vida real.
    E aí eu volto a questão:se é ficção, obra artística, poesia entremos na onda. Se é documentário,thriller investigativo, suspense idem. Mas uma combinação de tudo ao mesmo tempo agora pra dar um efeito bombástico e perturbador, aí não!Acho que assim é até fácil fazer o sujeito agonizar, se chocar na cadeira do cinema.
    Li uma resenha hoje que achei ótima. Onde o comentador citava "Carie, a estranha" ao falar de "..Kevin". Será que ele entendeu então sendo ambos do mesmo gênero? Se eu tivesse entendido assim, talvez estivesse mais conformada.
    Outros filmes Marcelo me despertam esse tipo de reflexão, esses questionamentos da protagonista e eu eqto psicóloga e mãe me sensibilizei, fiquei batendo cabeça. Mas em "..Kevin",só consegui me sentir mal.
    Uma pena, porque o filme tecnicamente falando tem seu valor.
    Imagino que muitas pessoas tenham aderido, mas eu,não.

    beijos

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  3. Olá, Carol!
    Pois é, engraçado, tudo parte de um contexto e das percepções de cada um e de cada momento individual.

    Pretendo em breve tirar minhas próprias conclusões.
    Beijosss

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  4. Li "Precisamos falar sobre o Kevin" na faculdade para tentar extrair uma monografia onde a ideia era abordar questões como: o amor de uma mãe é natural, algo espontâneo que nasce prontamente com a criança ou até antes dela chegar ao mundo, ou é algo que deve ser construído, como qualquer outra relação?
    Partindo desse pressuposto, tentamos ler "Kevin..." a partir desse olhar, desses questionamentos, pois a sociedade entende que sim, que esse é um amor natural e deveras comovente que não se abala por nada. Não é assim em todos os casos, não é porque uma mulher está grávida que ela está feliz, completa e louca para receber seu filho(a), tem milhões de fatores que podem fazer ruído nessa história e isso, essa ideia da não naturalidade desse amor, conseguimos tirar do livro, que, a meu ver, é um dos melhores q já li na vida.
    Com uma ideia na cabeça e um teclado nas mãos, Lionel Shriver consegue impactar o leitor e fazê-lo pensar sobre essa ideia romantizada que temos sobre uma mulher se tornar mãe.
    Conseguimos cumprir essa tarefa (eu e minha orientadora) porque lemos o livro com um olhar específico, focado em nossa tentativa de abordar esse tema, entretanto não gostei do filme,e fiquei pensando se eu não tivesse lido o livro se eu entenderia aquilo, aqueles olhares do Kevin para uma mãe aparvalhada; não sei, no filme ficou parecendo tudo gratuito, demoníaco, coisa que no livro se tem um entendimento, um enredo, o fato dela falar no livro bastante sobre a relação dela com a mãe dela, das neuras dela, da mãe, do marido, enfim, ali pudemos ver conteúdo suficiente para montar a monografia, mas no filme esse conteúdo não atinge o espectador, só assusta, sem mais nem menos.
    O livro que eu li foi diferente do que foi pra tela, e entendo que li esse livro com propósitos bem diferentes dos da diretora do filme, mas é isso, adaptações correm esse risco mesmo. Aliás, quem não corre riscos ao se expor? Um beijo ap

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  5. É verdade AP, e depois de conversarmos sobre sua percepção sobre: filme e livro, chego a mesma conclusão que o Rafa. O contexto, impressões, condições com que cada um assiste o filme ou lê o livro se mostra revelador quando discutimos o gosto por um ou por outro.
    Independente da adaptação para o cine ter sido boa ou não, tem também "a escuta" do espectador que está de antemão abastecida por uma demanda muito pessoal.
    beijos

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