segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Um Jesus Cristo Superstar


Adaptado do musical homônimo, Jesus Cristo Superstar provavelmente é uma das mais polêmicas transposições da paixão de Cristo para o cinema. Perto dele, o filme de Mel Gibson, por exemplo, é apenas uma vulgaridade que aposta na violência gráfica, só para o colocarmos em paralelo com uma das mais recentes versões desta milenar história. Homem ou Deus? Quem foi Jesus Cristo? Simplesmente um profeta que gozava de grande empatia, ou o próprio enviado dos céus para purificar nossos pecados com seu sangue? Dogmas religiosos e crenças à parte, não há como negar a força de Jesus como personagem, muito menos a dramaticidade da história que ele protagonizou. Versões que mexam, nem que seja um milímetro, no descrito pelas escrituras sagradas, ou que tomem certas liberdades, inevitavelmente gerarão polêmica.

Em Jesus Cristo Superstar, temos um Jesus peregrino, que canta seus derradeiros momentos. Aliás, todos cantam, o tempo todo. Para os que apreciam o gênero musical, é um deleite. Os cenários minimalistas, constituídos basicamente por andaimes, edificações em ruínas e pela paisagem desértica escolhida, conferem toque contemporâneo à história, efeito este amplificado pela direção de arte, que veste com malhas roxas e metralhadoras os soldados romanos, por exemplo. Imagino que o filme aos olhos dos mais puristas e religiosos seja uma verdadeira profanação.

Estas liberdades, a música, o bailado e a atmosfera meio hippie, são elementos que se deflagram rápido, e apresentam aqui o substrato da construção cinematográfica. Mas, o que mais me agrada em Jesus Cristo Superstar é a constituição das figuras, a humanização dos personagens que ficaram para a história, goste-se ou não, como testemunhas de algo longe do homem, pertencente à esfera do divino. Jesus aparece claudicante, desorientado ante os conselhos que recebe das pessoas, em contraposição à missão recebida por Deus.  Judas, a bem da verdade, o protagonista da trama nesta variante, é apresentado como homem que entrou para os anais, maculado por um pecado que foi obrigado a cometer, com as mãos manchadas pelo crime de Deus: o sacrifício de seu filho pelo bem da salvação humana.

Jesus Cristo Superstar é sim controverso, não se propõe ao revisionismo histórico, ou mesmo a apresentar fatos novos acerca desta que é uma das mais conhecidas e difundidas histórias da humanidade. O filme de Norman Jewison suscitou polêmicas, principalmente pela roupagem diferente e disposição em narrar através do rock progressivo e da dança típica dos palcos da Broadway. Afora os méritos da montagem como encenação, e eventuais controvérsias que esta versão moderna da vida de Cristo traz consigo, Jesus Cristo Superstar é exitoso justamente por trazer os medos, as angústias e hesitações destes personagens reconhecidos através dos séculos, mais para o plano terreno.


Publicado originalmente no Papo de Cinema

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Novas roupagens de qualidade significativa são sempre difíceis de surgirem, ainda mais quando tocam em dogmas religiosos.
    Mais um à minha infinita lista.

    Abraçossssss

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  2. Celo!

    Parabéns pelo texto e pelo ingresso no Papo de Cinema. Sucesso lá e aqui, garoto!

    Sobre Jesus Cristo Superstar, devo me dar este presente assim que possível.

    Grande abraço!

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