quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Vá e veja Cópia Fiel


Já vi Cópia Fiel, que estreia amanhã na Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho. Não, não fui a Porto Alegre ou a qualquer outra metrópole em que o filme foi exibido. Baixei na internet mesmo, com ótima qualidade de imagem e legenda. É assim que as coisas caminham no momento, não? Atire a primeira pedra quem não utiliza o ciberespaço para estes fins. Porém, certamente vou aproveitar a oportunidade para conferir de novo o mais recente filme de Abbas Kiarostami, agora no cinema. Mas, por quê?

Ora, cada sessão é única, principalmente quando falamos de um filme tão aberto quanto este, e seria desperdício não revisitá-lo em tela grande, com projeção em película e tudo mais. Também, pois, Kiarostami é um dos autores mais importantes da atualidade, e esta realização prova cabalmente isto (se é que depois de filmes como Close Up e Gosto de Cereja, só para ficar em dois, ele ainda precisava provar alguma coisa). Cópia Fiel merece ser revisto por que suscita múltiplas questões pertinentes sobre a validade das cópias na vida, e na arte que dela se alimenta. Tudo lançado sem ranço pseudo-intelectual, como substrato da conversa entre um homem e uma mulher que acabaram de se conhecer. Ou seriam eles marido e mulher? A vida imita mesmo a arte, ou o caminho inverso é o mais verdadeiro?

Sério candidato a destaque maior dentre os filmes lançados comercialmente no Brasil este ano, Cópia Fiel merece diversas audiências, quantas forem possíveis. Então, não importa se, assim como eu, você já o viu. Caso esteja em Caxias do Sul nas próximas duas semanas, se permita uma sessão de altíssima qualidade. 

domingo, 28 de agosto de 2011

A era da inocência e das trevas

Meu primeiro contato com o filme mais recente de Denys Arcand, L’Âge des Tenébrès, se deu através de uma resenha onde questionavam a alteração de seu título no Brasil para o inadequado A Era da Inocência. Como as trevas referenciadas originalmente poderiam ser apaziguadas pela inocência da distribuidora brasileira, que permitiu tamanha mudança? Não é novidade que filmes e livros são rebatizados fora de seu país de origem e temos aqui outro grande e curioso exemplo, mas deixemos de lado este pequeno detalhe por enquanto.

O diretor da duologia O Declínio do Império Americano e As Invasões Bárbaras retoma o tema principal de sua filmografia em A Era da Inocência, aqui centrando seus questionamentos e apontamentos muito perspicazes em único personagem e seu universo particular, novamente através de uma abordagem que, para os realistas, não tem nada de pessimista. Jean Marc, servidor público canadense de classe média, muito facilmente poderia ser o nosso João Marcos, o John Marc estadunidense ou o ジャンマルク do Japão. A genialidade de Arcand está nos contornos singulares com que ele aborda questões tão recorrentes e muitas vezes banais da vida moderna, geralmente negligenciadas pela alienação da sociedade contemporânea.

Personagens como Jean Marc são os mais queridos por cineastas que desenvolveram um subgênero dentro do drama, em filmes que dão conta da mediocridade cotidiana das classes que vivem em subúrbios, focadas em propósitos nada construtivos. Sam Mendes, Todd Field Marc Forster e Todd Solondz, que para mim é um dos mais competentes na área, já desenvolveram grandes e inquietantes histórias com núcleos semelhantes, assim como Denys Arcand, cada qual imprimindo um olhar particular para esta riquíssima fonte de argumentos. Enquanto outros cineastas imaginativos anunciam o fim da humanidade através de catástrofes naturais, invasões alienígenas ou robôs gigantes vingativos (!), Arcand é um dos poucos criativos que aponta suas câmeras para o verdadeiro mal de nossa época: nós mesmos e as nossas escolhas.

Recuso-me a dissecar maiores nuances da trama, personagens e narrativa de A Era da Inocência, uma vez que os vários grandes momentos do filme serão melhor apreciados sem referências prévias. Vale frisar que Arcand é um diretor que prima pelo roteiro, diálogos inteligentes, muitas nuances e simbolismos. Ainda que não deixe de lado a forma e a técnica, seu filme tem o grande trunfo em outros quesitos, como os aqui já apontados. Não menos importante e digna de elogios, a atuação de Marc Labrèche é brilhante, pontual e também responsável pelo filme ser um grande acerto – já que seu personagem é o centro de toda a obra.

Retomando o detalhe que mencionei inicialmente, confesso-me contra quaisquer alterações de títulos de filmes que não sejam apenas sua tradução, principalmente as que são movidas por intuito comercial. Independente do motivo que transformou A Era das Trevas em A Era da Inocência, admito a validez e sagacidade do novo título – de significado possivelmente acidental. Ela referencia todos nós, inocentes, que mesmo explicitamente avisados dos males que nos cercam e que causamos, escolhemos viver nas trevas.

sábado, 27 de agosto de 2011

Luta desigual


É, o cinema brazuca está de pernas pro ar, apostando forte em comédias rasteiras, boas de público e ruins de arte. Claro que é bom ver as pessoas indo às salas de exibição conferir os filmes que falam sua língua, mas custava ser menos subserviente aos signos televisivos, aos estereótipos e ao humor diluído? Mas, muita calma nessa hora, pois nem tudo está perdido. Vez ou outra surge algum exemplar de dar orgulho, mas aí ele não emplaca, fica pouco em cartaz, some nas prateleiras de DVD, vira filme de gueto. Onde está a felicidade? No diminuto público que aprecia filmes de qualidade, ou na multidão que gosta dos rasos, mas que justamente por ser numerosa alavanca o mercado? É, nosso cinema está no divã, cheios de complexos, neuras e síndromes. Parece que damos voz a qualquer gato vira-lata que tenha um roteiro esperto sobre alguma bobagem, enquanto os bons artistas ficam anos esperando o financiamento de seus próximos projetos. Os bons filmam pouco por falta de oportunidade. Os oportunistas surfam na onda que vem.

Ninguém aqui é louco de negar os benefícios deste tipo de produto que se convencionou chamar de “globochanchada”, pois ele aquece o mercado interno e chama atenção. Cilada é relevar demais esta corrente apoiada num humor duvidoso, como se ISTO, e SÓ ISTO, representasse cinema brasileiro. Se eu fosse você, abriria mais os olhos, e os sentidos, para a pluralidade do que é feito em nosso território, sairia de vez em quando da fila quilométrica daquele filme com as caras de sempre no multiplex, e daria uma chance para aquele outro que fala sua língua, cuja fila está curta, numa das poucas salas que se abrem às alternativas. É, a velha luta do poderoso dragão da maldade contra o corajoso, porém enfraquecido, santo guerreiro.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Ah... Mila Kunis!

Lendo um texto do Ivan Martins, editor da Época, me deparei com uma citação que me instigou a escrever este texto – e que já havia me chamado a atenção em outras oportunidades. A atriz Mila Kunis é mencionada por ele como um ideal de beleza, sendo que há poucos anos a mesma era ignorada nesse sentido.

A ucraniana (!) Мілена Марківна Куніс (ou Milena Markovna Kunis, para aqueles que como eu não são criptógrafos) tem 28 anos e começou sua carreira na televisão, onde participou de séries como Baywatch e Sétimo Céu e do filme Gia, interpretando a personagem de Angelina Jolie aos 11 anos. Mas a moça ficou mesmo conhecida após o sucesso de That '70s Show e pela voz de Meg Griffin na série animada Family Guy (exibida no Brasil como Uma Família da Pesada).

Há mais ou menos dois anos, no entanto, vi uma série de filmes que explorava Mila Kunis através de outra perspectiva que não a da garota com ótimo timing para comédia. Ressaca de Amor, Max Payne, O Livro de Eli e Uma Noite Fora de Série oportunizaram participações maiores para a atriz, que passou a fotografar de outra maneira, sendo explorada não apenas comicamente, mas através de um sex appeal (fazendo uso de um termo bastante antigo, mas ainda eficaz) exótico e inegavelmente interessante.

Em 2010, tal vertente de sua verve artística se intensificou quando Mila coadjuvou em Cisne Negro como a elétrica Lily. Presente em algumas das cenas mais ovacionadas pela ala masculina que apreciou o filme, a atriz consegue até mesmo ofuscar em alguns momentos a onipotente Natalie Portman – que geralmente anula outras presenças femininas nos filmes que protagoniza.

Mila Kunis... Confesso com este texto minha atração e interesse por esta atriz que (espero não estar errado ao afirmar isso) tem um futuro muito interessante e próspero na meca do cinema norte-americano. Considero apenas que, além de sua estonteante beleza, a moça tem muito a oferecer. Ignore a imagem abaixo e você também acreditará.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Santo Guerreiro

"Continuo fechado com minhas posições de um cinema terceiro-mundista. Um cinema independente do ponto-de-vista econômico e artístico, que não deixe a criatividade estética desaparecer em nome de uma objetividade comercial e de um imediatismo político."
Glauber de Andrade Rocha: Vitória da Conquista, 14 de março de 1939 - Rio de Janeiro, 22 de agosto de 1981.


Lá se vão 30 anos da morte prematura de Gláuber Rocha, provavelmente o maior cineasta que o Brasil já viu nascer.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sessões recentes

Super 8
Assumidamente fã de Steven Spielberg, o diretor J.J. Abrams, que parece trilhar caminho semelhante ao do diretor de ET, resolveu homenageá-lo com este filme ambientado nos anos 80, cheio de referências à algumas obras que marcaram aquela época, principalmente às produzidas pela mítica Amblin Entertainment (de Spielberg) que, aliás, é uma das produtoras de Super 8. A balbúrdia em torno do acidente ferroviário do qual escapa um alienígena e a paranóia armamentista do governo ávido por manter seus segredos, são apenas cenários para o real mote do filme: a conflituosa relação entre pais e filhos. O menino que não consegue se comunicar com o pai e a menina vítima da perdição de seu progenitor, precisam se unir para o crescimento mútuo, para que amadureçam com o desenvolvimento destes laços paternos. Super 8 é nostálgico, divertido e cheio de piscadelas cinematográficas aos mais atentos, o que dá ainda mais espessura a um molho delicioso, daqueles que deveríamos degustar com mais frequência.

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Mamma Mia
Baseado num musical, Mamma Mia é embalado por canções do Abba, um dos mais saudosos e populares grupos da década de 70. Aos familiarizados com a sonoridade, o filme guarda boas passagens, afinal de contas como não se interessar - nem que seja minimamente - por números que giram em torno de “Dancing Queen” e “Mamma Mia”, por exemplo? Porém, como obra cinematográfica Mamma Mia é bem capenga, tem desenvolvimento preguiçoso e é guiado demais pelas “historietas” contadas nas músicas que o compõem. Na trama da garota que resolve convidar para a cerimônia de seu casamento os três amores pretéritos da mãe, com o intuito de descobrir qual deles é seu pai, sobrevivem, além da música, o elenco respeitável (que vai de Meryl Streep a Colin Firth) e a sensação gostosa de vermos intérpretes mais acostumados a dramas densos, se divertindo para valer com o processo de um filme leve e sem pretensões. Pena que Mamma Mia seja tão raso.

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Terra de Ninguém
Primeiro longa do recluso Terrence Malick, Terra de Ninguém, ambientado no interior dos EUA, é um filme arrebatador sobre o amor impulsivo e quase infantilizado entre um catador de lixo e uma adolescente. Ele parece James Jean, é um cara um tanto quanto fechado em seu próprio mundo de expectativas oprimidas. Ela é uma menina com traços de criança, também sufocada, só que pela rígida criação paterna. Não há torrentes emocionais que guiem este amor ladeado de tragédias, norteado por um torpor quase intrínseco. Ele se perde justamente quando tenta se enquadrar, enquanto ela se desencaminha sem ao menos ter ambicionado trilhar qualquer caminho. Filhotes da inércia, incrustados no interior americano que se debatia pela manutenção de sua identidade frente aos novos tempos, as figuras de Terra de Ninguém são signatárias do período de incertezas em que estavam inseridos. Grande estreia, grande filme.

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Juventude
Um dos mais interessantes cineastas brasileiros, Domingos Oliveira traz em Juventude novamente seus característicos personagens de verborragia inspirada que gravitam em torno dos relacionamentos. Três homens resolvem comemorar a amizade ao relembrar os anos que não voltam, os amores e as dores que os fizeram ser o que são. Como os cardeais da peça que os uniu na infância, eles desfilam pela memória, ora melancólica e cheia de arrependimentos, ora repleta de saudosismos doces, daqueles que só compartilhamos com os que nos são caros de longa data. Ao experiente Domingos, parece imprescindível desenvolver um visual poético que corrobore com os colóquios hipnotizantes dos três senhores reverentes da memória, e ele o faz dignamente, entregando um filme formalmente mais complexo que seus anteriores recentes. Ode à amizade e à maturidade, Juventude é mais um dos inúmeros passos assertivos na carreira do nosso mais afiado cronista cinematográfico de costumes.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Indie_cação: Submarino

Egresso da televisão inglesa, Richard Ayoade não possuia muita expressão como realizador e seu nome era conhecido apenas através da britcom The IT Crowd, onde interpretava o personagem Moss. A situação se inverteu quando conseguiu a produção de Ben Stiller para seu debute na direção de um longa, Submarino, drama cômico pequeno, inteligente e repleto de boas ideias.

A história de Oliver Tate pode ser conhecida no país antes do lançamento do filme (que permanece inédito em nossas salas), uma vez que a Editora Record lançou o livro de Joe Dunthorne com o mesmo nome no início do ano. O adolescente leva uma vida curiosa em meio aos tipos excêntricos que o rondam: pais omissos, colegas caricatos e uma namorada nada convencional. Ele faz o que considera um trabalho social: investiga aqueles que estão à sua volta e procura saber mais sobre si mesmo.

Com um elenco afinado, que inclui a sempre ótima Sally Hawkins, Paddy Considine e Noah Taylor, além dos jovens Craig Roberts e Yasmin Paige, Submarino vai um pouco além dos muitos filmes que discorrem sobre a adolescência. O ritmo advindo da edição dinâmica, pouco usual para os filmes do gênero, assim como a bela fotografia e direção segura, são outros atrativos para a inspirada dramédia independente. Vale a sessão.



P.s.: primeiro post de uma série semanal, que pretende contemplar a indicação de alguma produção cultural advinda do universo que se convencionou classificar como independente. Aguardem a próxima indie_cação.

Lady Gaga? Putz, a coisa tá feia

Não gosto de Lady Gaga. Não adianta jogar pedra, pois não aprecio mesmo os figurinos excessivos e suas músicas, aliás, o que de mais genérico o pop/dance oferece. Exemplo da insipiência da “queridinha do momento” é seu clipe Judas, no qual flerta com traidor bíblico. Colagem vagabunda, reciclagem barata de elementos e signos que diversos artistas já utilizaram melhor, por exemplo, nos anos 80. Em Lady Gaga tudo é fake, inodoro, inofensivo, subversivamente fashion.

Mais triste que a falta de qualidade musical e do clipe, é este culto vazio a Lady Gaga, para muitos a “última bolacha do pacote”, mas que nem musicalmente, nem visualmente e muito menos no campo da transgressão (que faz bem a qualquer forma de arte) é relevante, a não ser como estandarte de uma geração que ouve qualquer coisa mesmo.


domingo, 14 de agosto de 2011

Festival de Gramado - Todo carnaval tem seu fim


O cinema nos ajuda a olhar o mundo de maneiras diversas, auxilia na tarefa de fazer-nos pessoas melhores. É uma espécie de espelho projetado, no qual vemos refletidos nossos medos, angústias, alegrias, satisfações e insatisfações. Pensar que apenas entretém, é reduzi-lo como se não fosse mais que um passatempo degustado com pipoca. Vimos nestes dias de intensa programação no 39º Festival de Cinema de Gramado mais que filmes dispostos a fazer o público se descolar por alguns minutos da realidade. Cinema pode ser fuga, mas tem por vocação real nos colocar ainda mais em contato com o substrato das coisas: descobertas, discussões metafísicas e filosóficas, ou mesmo banalidades fundamentais que estão no cerne de nossa existência.

Em Gramado temos uma espécie de tribuna aberta há quase quarenta anos, que busca reforçar a identidade cinematográfica brasileira, inserindo e contextualizando-a no cenário latino-americano. Aí está a importância de um festival como este, que certamente se beneficiaria de organização mais cuidadosa e estrutura mais condizente com sua história. Gramado vive em crise, lutando para conseguir os inéditos, nem sempre tendo êxito perante o maior poderio de outros certames. Mas as coisas já estiveram bem piores. A atual curadoria de Sérgio Sanz e José Carlos Avellar merece crédito pela retomada, lenta e gradual, da significância artística do Festival de Cinema de Gramado.

Em meu segundo ano de cobertura, creio que consegui aproveitar melhor toda a atmosfera, degustar o cinema com mais gana, partir com mais afinco para conversas e tudo mais. Foi uma temporada de ótimos filmes estrangeiros, nem tanto assim quando olhamos os nossos. Debates interessantes, diálogos paralelos e discussões que enriqueceram os filmes vistos, e certamente enriquecerão as sessões vindouras. Agora é a hora de voltar, inteirar-se novamente da rotina, saudoso que estou das coisas do cotidiano, mas certamente também um pouco melancólico por não poder estender por meses a experiência diária de participar de um acontecimento tão relevante como este.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Enquanto isso na "Terra do Chocolate"...



Olá, caro amigo-leitor!

Venho por meio deste breve escrito convidar aos amantes da sétima das artes a ler a coluna diária do Celo na revista eletrônica Gramado Magazine. Ele partiu na última sexta-feira, quando também seus trabalhos críticos iniciaram, de maneira semelhante ao ocorrido ano passado. O foco: Festival de Cinema de Gramado.

O contribuinte mais assíduo deste blog retornará no domingo próximo, claro que cheio de percepções, as quais serão sumariamente divididas neste espaço através de suas sempre bem colocadas palavras.


Fica o registro e a dica,
Abraçossssss

domingo, 7 de agosto de 2011

Reflexos de uma Noite Vazia


O olhar perdido de Gabriele Tinti diz muito sobre Noite Vazia, grande filme dirigido por Walter Hugo Khouri. Seu personagem, Nelson, não encontra felicidade em nada nem ninguém, muito menos nas noitadas de fugazes relacionamentos e festas chatas em que embarca com o amigo Luisinho, o bom vivant que esconde sua não menos latente melancolia por trás da confiança que o dinheiro falsamente proporciona. Eles vagam a esmo por uma São Paulo petrificada, de jovens sedentas por amor e algo mais, enquanto mulheres de meia idade se resignam com a busca desenfreada de seus maridos por sexo extraconjugal.

Lá pelas tantas, numa das muitas cenas que deflagram o processo de deterioração estrutural das figuras dramáticas que eles encontram, Lusinho e Nelson conhecem duas prostitutas, e com elas embarcam numa madrugada de sórdidos solilóquios e procuras esvaziadas. Transar não é o bastante, os homens querem experiências que os tirem do marasmo, ao passo que às moças cabe o papel de atração, fardo que ganha peso à medida que detectamos nelas suas próprias expectativas. A beleza exuberante e a altivez de Odete Lara servem perfeitamente de veículo para a pose de Regina, mulher da vida, que é feita rígida por esta bandida. Por sua vez, a introspectiva Mara ganha contornos de infinita tristeza nos olhos grandes e profundos de Norma Benguell.

Noite Vazia sugestiona constantemente um parentesco com o cinema de Ingmar Bergman, provavelmente o cineasta que mais se irmanou à dor de seus personagens. Tal qual o sueco, Khouri utiliza closes ou primeiríssimos planos para mostrar-se próximo das criaturas, além de sustentar o rosto e os olhos como refletores das mazelas mais recônditas. O estado de suspensão e tédio a que é submetido o quarteto durante o vácuo da noite paulistana, representa bem os dilemas do humano sempre à procura de razões e motivos suficientemente fortes para seguir adiante. Como máscaras inanimadas, continuam os quatro ao amanhecer, sem muito a dizer e acrescentar. Não negam a próxima tentativa, provavelmente noutra noite transitória, em que elas continuarão a ganhar a vida, e eles a exacerbá-la. Nada aparentemente muda, a não ser a consciência crescente da inocuidade das jornadas sem fim.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Dança comigo?



Olá, caro amigo-leitor!

Há algum tempo tive a oportunidade aberta pelo Marcelo, irmão e sócio deste espaço, de ouvir o som idealizado por um jovem, Thiago Pethit.

As melodias são bem elaboradas, as letras de conteúdo significativo e bem articulado avançam pelo inglês e francês com naturalidade idêntica às composições em sua língua mãe, o português. Sua voz é leve, suave, prima pelo acariciar da audição, esta imbuída instantaneamente, desde a primeira obra, em ambiente reconfortante, agradável e artístico.

Bom, o costume e as regras de redação nos forçam à introdução, neste caso, mais o bom senso. Venho por meio do que aqui apresento de forma exclusiva, não que isso lhe garanta qualidade, mas ao menos efeito, propor uma comparação, a qual tomará entendimento de procedente para alguns e pura imaginação, sem nexo em relação aos fatos, para tantos outros.

Pois bem, dito o acima, abaixo poucas palavras, os que seguem como notórios são os vídeos, a reflexão e a subjetividade dos que até aqui seguiram por linha de raciocínio proposta por mim.


Abraçosssss

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Ban à part - Jean-Luc Godard (1964) [Ainda não assisti ao filme]





Nightwalker - Thiago Pethit (2011)