segunda-feira, 8 de julho de 2013

CINEMA A DOIS | OS DAVIDS - O Homem Elefante e Videodrome: A Síndrome do Vídeo


O pesadelo inicial de O Homem Elefante (mulher sendo pisoteada por animais enfurecidos) nos dá chave puramente lynchiana para entrarmos na vida de John Merrick, doente congênito exposto como aberração de circo. A bem da verdade, ele não é tão deformado quanto seu entorno, feito de gente mesquinha que ora lucra, ora diverte-se sobre miséria alheia nas vielas da Inglaterra Vitoriana. Lynch explora as potencialidades do preto e branco, faz do chiaroscuro meio pelo qual explicita o revezamento entre a bondade e a maldade, ambas elementares e vizinhas. O cineasta lança mão de enquadramentos insólitos (notem a predileção por tomadas de baixo para cima) e de larga expressividade sonora, no intuito de tornar tudo mais sensorial, enquanto acentua o drama de Merrick e sua inevitável queda ante um mundo ancorado nas aparências e arredio àquilo que não compreende. 

Por sua vez, Videodrome – A Síndrome do Vídeo é trash e perturbador. Fala da imagem dominadora, da televisão e de outros meios de influência. Denuncia a loucura (não propriamente patológica) como forma de controlar os seres humanos passíveis de subjugação, sobretudo à potência da mídia poderosa, equivocada e nociva. "Vida longa à nova carne" é a fala mais condizente com o universo presente nesse filme, onde James Woods se destaca por incorporar a atmosfera repulsiva, maluca e perturbadora de um cineasta completamente afeito a investigar as entranhas do homem contemporâneo, tendo para isso a câmera como bisturi. Cronenberg é uma espécie de cirurgião que precisa autopsiar os “cadáveres” a fim de saber a causa mortis do elemento humano.

Em Videodrome – A Síndrome do Vídeo a imagem é definidora, ela explicita os delírios do protagonista perturbado por projeções de violência. Em O Homem Elefante também a representação visual adquire papel importante, pois o exterior de John Merrick aterroriza ao passo que encobre sujeito de rara sensibilidade. Nos dois filmes - caso a aproximação não seja forçada demais -, então, convém duvidar da imagem como fonte fidedigna, já que num ela é conceitualmente irreal e noutro efetivamente ilusória.

A fixação de Cronenberg por corpos, essa necessidade de explorar o carnal é proporcional à paixão de David Lynch pela mente humana e suas vicissitudes. A biologia e a dicotomia orgânico/inorgânico estão para um, da mesma forma com o inconsciente e o abstrato estão para o outro. Enquanto Cronenberg apoia-se mais no visual e nos subtextos, Lynch procura orquestrar sons e uma complexa construção imagética, tornando assim ainda mais visceral a experiência proporcionada.

Por Ana Carolina Grether e Marcelo Müller

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O HOMEM ELEFANTE – Por Juçara Viana 
O Homem Elefante é um dos filmes do Lynch com maior aceitação do público em geral, o outro é a História Real. Isso se deve porque ambos são, dentro da sua filmografia, os de narrativas mais explicáveis, onde a subjetividade de seus personagens e trama é mais facilmente compreensível. Foi indicado a oito Oscar.

Filmado em preto e branco, é baseado na história real de um homem de rosto e corpo desfigurados por uma doença rara (Síndrome de Proteus), usado como atração principal num circo na Inglaterra vitoriana. Joseph Merrick, apesar da aparência “monstruosa”, era extremamente dócil, inteligente e sensível. Foi considerado débil mental, até que um médico, Frederick Treves, o descobriu e o levou para um hospital, onde se liberou emocional e intelectualmente. 
Filme sombrio e sensível, como a história, explora o lado emotivo do espectador (um diferencial nas obras lynchinianas). No campo do simbólico, os recursos da fumaça, vapor e tubulações, por exemplo, parecem sugerir passagens no tempo e no espaço e, talvez, no labirinto interno de Merrick. Como conclusão, Lynch nos traz nesse filme um ensaio para a reflexão que nos define como seres humanos. Como diz o filósofo “é no nosso olhar para o outro que encontramos nossa humanidade.” - Merleau-Ponty 
"Eu não sou um elefante! Eu não sou um animal! Eu sou um ser humano. Sou um homem".
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VIDEODROME – A SÍNDROME DO VÍDEO – Por Dimas Tadeu 
Talvez um dos filmes mais emblemáticos de Cronenberg, Videodrome pode se gabar de ser uma das mais perfeitas sínteses do estilo do diretor. Reúne num mesmo filme a sexualidade e a tecnologia, juntas responsáveis por desencadear um terceiro elemento: o terror. Numa época em que fitas de vídeo domésticas eram “tecnologia de ponta” e muito antes que Samara assombrasse adolescentes, Videodrome tocou horror num público fazendo da imagem, sua matéria prima, a principal ameaça.

A criação do Dr. O’Blivion e seu memorável gabinete coroam o clímax de uma história que se tornaria um clássico cult, e faria com que o papel da mídia, da vigilância e das câmeras, fossem pensados de uma nova maneira.

3 comentários:

  1. Muito bom acompanhar estas postagens sobre os Davids!!! Parabéns!

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  2. A dobradinha Lynch/Cronenberg tendo como referencial ao paralelo esses filmes focando a visão do real/irreal (característica aliás dos dois) ficou interessante...afinal os dois gênios em suas filmografias tem algo em comum, a narrativa audaciosa e bizarra em constante desafio ao expectador...adoro!!!!
    Valeu a participação
    Juçara

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  3. Essa seção do blog promete, hein?!

    Abraçosss

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