sexta-feira, 12 de julho de 2013

Doses Homeopáticas #05


Levado por indicações calorosas, conferi AS SESSÕES. O que chama a atenção, num primeiro momento, é a inusitada abordagem acerca da sexualidade de deficientes físicos. Contudo, ótimo que as qualidades do longa estejam também para além dessa coragem temática, emergindo, sobretudo, das interpretações assertivas de John Hawkes (na trama, um poeta paralisado pela doença) e de Helen Hunt (na pele da terapeuta sexual que faz enfermos descobrirem o prazer advindo do próprio corpo). Menção honrosa, igualmente, para William H. Macy, excelente coadjuvante enquanto padre. Bem humorado, AS SESSÕES apresenta, com leveza, os desejos do homem limitado pela poliomielite, e, ainda, os desdobramentos sentimentais da pequena jornada para a própria terapeuta, a certa altura muito mais afetada pela experiência que seu próprio paciente.


ANTES DA MEIA-NOITE era um dos filmes mais esperados da temporada. Jesse e Celine estão em férias com as filhas gêmeas pela Grécia. Ele em crise por não se fazer presente na vida do filho adolescente (fruto de outro casamento) e ela num dilema profissional agravado por essa instabilidade do marido. Celine motiva celeumas com mais frequência, ao passo que Jesse se mostra flexível (fato curioso de levar em consideração e que pode desagradar seriamente alguns). Entretanto, ANTES DA MEIA-NOITE me pareceu um bom filme, que evita lançar imperativos comportamentais, tratando, assim, num registro particular as dificuldades de UM relacionamento, não aspirando abarcar TODOS eles.


Sem dúvida há algo de muito forte em A BELA QUE DORME, filme do italiano Marco Bellocchio que pega emprestado o caso verídico de Eluana Englaro, em estado vegetativo por 17 anos, para construir um painel de personagens e situações que confrontam, sob óticas políticas, religiosas e morais, a questão da eutanásia. A BELA QUE DORME funda-se na liberdade, sobretudo de amar ou morrer quando bem entendermos. Cada pequena trama amplia, à sua maneira, a polêmica causada pela possibilidade da morte assistida de Eluana, assim lançando luz sobre outras complexidades. O problema, a meu ver, está em certo laconismo inicial e nas transições solavancadas entre um núcleo e outro. Não fosse isso, A BELA QUE DORME poderia ser outra obra-prima desse italiano que, sem dúvida, faz cinema de gente grande.


Ir de Buenos Aires, na Argentina, a Villa Laura, no Uruguai, é um prazer maior se na companhia dos irmãos Susana e Marcos, ela uma trambiqueira de marca maior e ele um senhor que perde o rumo quando a mãe morre.  DOIS IRMÃOS desvenda, aos poucos e sutilmente, a arqueologia sentimental dos personagens interpretados magistralmente por Graciela Borges e Antonio Gasalla, enquanto avança no relacionamento deles.  O filme mostra algumas agruras e benesses de ter irmãos, criaturas paradoxais, pois desconhecidos familiares, como ressaltou o próprio diretor Daniel Burman em entrevistas. DOIS IRMÃOS possui encenação consistente e roteiro afiado, características inerentes ao cinema Hermano, a bem da verdade. Para ver e rever sem desgaste e com cada vez mais deleite.



Antes de ser cooptado e pasteurizado por Hollywood, o cineasta Gabriele Muccino se destacou no cenário cinematográfico italiano. Seu filme O ÚLTIMO BEIJO, devidamente reaproveitando para remake ianque, é mais um dos inúmeros a tratar de relacionamentos e suas complexidades. O faz com a autoridade de quem acrescenta algo a temas já tão abordados. Ao redor de Carlo e suas desventuras amorosas extraconjugais - bem na iminência de casar e ser pai – gravitam personagens igualmente envoltos em decepções, turbulências, alegrias, perspectivas e projeções afetivas. A linguagem é sóbria, direta, assim como o discurso equilibrado entre constatações fatalistas e esperançosas. Fácil falar de amor e convivência, difícil é fazê-lo com propriedade e maturidade suficiente para não cair no lodo do lugar-comum, como bem faz O ÚLTIMO BEIJO. 

3 comentários:

  1. Sabe que sou fã do Doses Homeopáticas..acho que esse formato mais curto, breve porém eficiente de publicar resenhas que muita gente passa batido, uns por não terem assistido e outros ainda por terem preguiça de encarar um texto maior, pode chegar mais facilmente 'a um público maior, atraindo-os para a leitura. E uma vez que entramos em contato,as próximas serão consequências agradabilíssimas.

    " Antes da meia noite" foi uma enorme decepção pra mim, por isso me permito " implicar" com suas impressões hehe. De resto só filme bom!

    beijos

    ResponderExcluir
  2. É, Carol. O DOSES HOMEOPÁTICAS é bom justo por isso que você falou: nem sempre o leitor está disposto a encarar um texto maior, seja por preguiça mesmo ou por que ainda não assistiu ao filme e, assim, quer evitar ler algo mais aprofundado antes da sessão.

    Você que me incentivou a escrever sobre todos os filmes assistidos e disso surgiu essa seção do "The Tramps" que as pessoas parecem gostar mesmo.

    Sobre ANTES DA MEIA-NOITE, sei que nossa opinião diverge no geral, mas, mesmo gostando, concordo com muita coisa que você aponta, sobretudo a respeito da Celine.

    Obrigado, beijos.

    ResponderExcluir
  3. Celito!
    Muito bom, pelo jeito desta vez as sessões tiveram grande aproveitamento.

    Forte abraço.

    ResponderExcluir