Tive a impressão de Jesus de Montreal ser um dos filmes mais
dramáticos de Denys Arcand, isso não só por que Daniel Coulombe, o protagonista,
interpreta Jesus durante o martírio da Paixão, mas também por conta dos componentes
não teatrais que reforçam essa dramaticidade fora da encenação propriamente
dita. Embora o Jesus apresentado por Arcand seja moderno, dotado de características
bastante humanas, e o próprio discurso questione os valores religiosos na
atualidade, ainda assim o filme carrega a doutrina cristã por excelência e nos convoca
a refletir sobre a perda da fé na humanidade, a compaixão, a solidariedade etc.
Além da renovação da figura de
Jesus e a defesa dos valores religiosos, Denys Arcand reafirma em Jesus de Montreal uma crítica ao
consumismo, à redução do feminino a objeto de desejo e nada mais, entre outros
posicionamentos mais ou menos evidentes. A meu ver, mesmo sem grandes atuações,
exceção feita ao intérprete de Daniel, o filme se desenvolve de maneira
agradável, ainda que sem grandes surpresas. Os atores cumprem com eficiência
seus papéis, mas nesse quesito não há muito destaque. No entanto, o bom roteiro
funciona como base à direção sempre competente de Denys Arcand. Ao que se propõe, o filme funciona e,
principalmente, suas ideias estão em total consonância com o que vivemos fora
dele, na vida real.
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Para modernizar a Paixão de
Cristo é preciso adicionar humanidade ao mito. Jesus de Montreal, segundo longa de Denys Arcand, confronta o
dogma, mas não a figura central. Nele, um grupo de atores lida com as
restrições da diocese para fazer valer uma visão artística repleta de contradições,
dúvidas, preocupações existenciais, sem, contudo, macular a imagem de Cristo. Na
verdade, escandalizada fica a Igreja quando contradita em qualquer nível, cega
diante do trabalho que, de alguma maneira, renova os ideais apregoados pelo
profeta, o dito filho de Deus. Portanto, no filme se questionam os fatos, os
caminhos, mas se reafirma positivamente a finalidade da doutrina cristã
(acredite-se nela ou não).
Jesus de Montreal poderia apelar menos às obviedades no que diz
respeito à influência da trajetória do messias na vida dos atores. A expulsão
dos vendilhões do tempo ganha roupagem contemporânea num confronto com a
publicidade e a tentação do demônio surge nas palavras sedutoras do advogado
que quer transformar arte em mercadoria, por exemplo. Nesse tocante, mais
eficiente é a alusão final à ressureição por meio dos “milagres” promovidos
pelo homem comum. Morte vira vida, não para si, mas ao outro. É como diz um dos
atores: “Afinal, a vida é bem simples, só
parece insuportável quando pensa unicamente em você mesmo. Se esquecer-se de
você, e se perguntar como ajudar os demais, a vida se faz perfeitamente
simples.” Jesus de Montreal peca
por excesso, mas não por omissão.
Denys Arcand na veia Marcelo!!! rs
ResponderExcluirE revelações a respeito dele ao longo de sua obra..=)
Gosto muito!
Boa, gurizada!
ResponderExcluirIsso aí, Carol.
ResponderExcluirE que venha AMORES E RESTOS HUMANOS!!!
Beijos