Marcas da Vida se passa numa Glasgow atual, retratada, acredito,
com mais tons de cinza e escuro do que o normal. Nada agrada no âmbito visual,
nem no que diz respeito à construção dos personagens, à exploração dos lugares,
tampouco às situações, estas quase sempre duras, torturantes e violentas.
Quantos atos mecânicos, sem vida, sem luz, desde o sexo até os diálogos.
Este deve ser o tipo de filme que
desponta pelo viés independente, autoral, e ah, isto ele é: bastante autoral, único,
ímpar! Uma personagem que vive para vigiar e que assume o lugar de vigiada. No
entanto, não há pistas ao longo do filme, exceto nos últimos momentos, nos
quais entendemos algumas relações de A com B. O resto foi-se ao longo, sem
muito esclarecimento. Quando os porquês são revelados a trama ganha sentido,
mas até lá rola tédio, atenção redobrada pra não perder um gap, aqueles links
que costumamos fazer para tentar dar sentido ao até então vazio do vazio.
É um estilo, como disse acima.
Não faz muito a minha cabeça. Tons de cinza entremeados pelo próprio cinza como
cor de base e pano de fundo. Nada mais compõe esse cenário: só o cinza.
Paradoxalmente Red Road, título
original e nome do condomínio vigiado e vigilante, se localiza na cinza
Glasgow. Sei lá, é como se alguma redenção da personagem surgisse no meio da
Red Road, e até surge, mas não é pra tanto. Ela não colore o todo. Ela nem
colore.
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Em Marcas da Vida, primeiro longa-metragem da diretora Andrea Arnold, o
relevo principal é dado à imagem. Primeiro, porque a protagonista é uma
daquelas observadoras de câmeras de segurança, alimentada pelas pequenas
narrativas do cotidiano alheio enquanto evita delitos e outras distorções da
paz. Por meio de seu olhar, da manipulação que ela faz das tomadas, a gente vê
uma série de histórias que adicionam curiosidade à trama, sem obscurecê-la no
seu principal. Segundo, porque a palavra é rarefeita, utilizada no limite da
necessidade diante de uma construção imagética que dá conta de unir fragmentos,
pouco a pouco, para que saibamos o que se passa.
A protagonista é enigmática, no
início parece apenas obsessiva por uma espécie de vingança contra o homem que a
desgraçou, mas sua obsessão vai ganhando ares de patologia mais grave ao passo
que elementos insólitos do seu luto são apresentados. Mas não se trata de um
inventário clínico, pois mesmo nos comportamentos mais incomuns a diretora
deixa entrever os efeitos compreensíveis da dor. Quando tudo parece se
encaminhar para o previsível, Andrea Arnold nos lembra de que não vemos um
filme fundado na obviedade, mas na investigação de sentimentos conflitantes e
não raro contraditórios. Entende-se: o erro é inerente ao ato de existir.
Não imaginei que fosse gostar tanto desse trecho do seu texto!
ResponderExcluirQuando tudo parece se encaminhar para o previsível, Andrea Arnold nos lembra de que não vemos um filme fundado na obviedade, mas na investigação de sentimentos conflitantes e não raro contraditórios. Entende-se: o erro é inerente ao ato de existir.
Adoro esta seção. :)
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