quarta-feira, 26 de março de 2014

Doses Homeopáticas #17


Foi com muito prazer que revi ACROSS THE UNIVERSE, musical dirigido por Julie Taymor e embalado pelas canções dos Beatles. Gosto da maneira como a trama evolui, da juventude do casal protagonista, ela uma estudante americana e ele um rapaz que vive num subúrbio inglês, aos dias de protestos contra a Guerra do Vietnã, da turma “paz e amor”. Se não há nada de novo no percurso amoroso de ambos, isso não se aplica ao entorno, pois ele é marcado pelas tensões entre um Estado firme em seu propósito bélico-imperialista e a geração que buscava justamente se libertar. O virtuosismo da construção visual é imprescindível e totalmente integrado à narrativa que nunca dissocia ver e ouvir.


DON’T DRINK THE WATER é uma produção feita para a TV, escrita e dirigida por Woody Allen. A trama bizarra da família presa numa embaixada americana na Europa, em plena Guerra Fria, rende ótimas piadas, como as intervenções do padre/mágico refugiado há anos no mesmo lugar, ele, quem sabe, o melhor personagem do filme. De resto, a incomum câmera na mão - isso se levarmos em conta o estilo recorrente de Woody Allen - confere despojamento em meio aos cenários de estúdio. Allen interpreta novamente a si mesmo, o que é sempre muito bom de ver. Os coadjuvantes estão ótimos e o todo não deixa nada a desejar se comparado ao de outros filmes cômicos menores do cineasta.


A versão sueca de OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES, primeira parte da Trilogia Millennium de Stieg Larsson, é um ótimo exemplar investigativo, daqueles em que o suspense dita as regras em meio a uma trama interessante.  Os atores estão excelentes, sobretudo a até então desconhecida Noomi Rapace, na pele de Lisbeth Salander. A direção é simples e eficiente, mas senti falta de um peso maior da imagem, da construção da atmosfera mais ostensivamente opressora que se pode ver na versão americana dirigida por David Fincher. Ainda comparando ambas as versões, a sueca é mais eficaz no que diz respeito ao relacionamento dos protagonistas, pois evita a história de amor um tanto forçada do equivalente americano.


A segunda parte da Trilogia Millennium, A MENINA QUE BRINCAVA COM FOGO, possui a mesma direção correta de sua antecessora (por mais que o diretor seja outro), mas é bem inferior a ela por não contar com uma trama interessante o suficiente, nem como matéria-prima de suspense e nem como plataforma para o desenvolvimento dos personagens. Tudo se foca em Lisbeth, inclusive a investigação do cartel de prostituição que conduz direto ao seu passado. Mikael Blomkvist é reduzido a coadjuvante de luxo e mesmo a protagonista surge um tanto apática, sem o mesmo vigor que a caracterizou no filme inaugural. Parece que seguiram a série no piloto automático, totalmente ancorados no sucesso literário, sem a preocupação de fazer cinema.



Já A RAINHA DO CASTELO DO AR, terceira e última parte da Trilogia Millennium, a recoloca nos eixos. Deixando de lado a dispersão (leia-se também enrolação) do segundo filme, tem-se outra investigação de ramificações maiores do que as aparências permitem ver num primeiro momento, e cujo epicentro é novamente Lisbeth Salander. Além da trama interessante, a direção é dinâmica, privilegiando, agora sim, o desenvolvimento mais profundo dos personagens que foram apresentados na primeira parte e quase negligenciados na segunda em prol de algo bastante mal elaborado. A Trilogia Millennium se encerra com saldo bastante positivo, um todo inteligente que faz bonito frente à tradição dos thrillers

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