Foi com muito prazer que revi
ACROSS THE UNIVERSE, musical dirigido por Julie Taymor e embalado pelas canções
dos Beatles. Gosto da maneira como a trama evolui, da juventude do casal
protagonista, ela uma estudante americana e ele um rapaz que vive num subúrbio
inglês, aos dias de protestos contra a Guerra do Vietnã, da turma “paz e amor”.
Se não há nada de novo no percurso amoroso de ambos, isso não se aplica ao
entorno, pois ele é marcado pelas tensões entre um Estado firme em seu
propósito bélico-imperialista e a geração que buscava justamente se libertar. O
virtuosismo da construção visual é imprescindível e totalmente integrado à
narrativa que nunca dissocia ver e ouvir.
DON’T DRINK THE WATER é uma
produção feita para a TV, escrita e dirigida por Woody Allen. A trama bizarra da
família presa numa embaixada americana na Europa, em plena Guerra Fria, rende
ótimas piadas, como as intervenções do padre/mágico refugiado há anos no mesmo
lugar, ele, quem sabe, o melhor personagem do filme. De resto, a incomum câmera
na mão - isso se levarmos em conta o estilo recorrente de Woody Allen - confere
despojamento em meio aos cenários de estúdio. Allen interpreta novamente a si
mesmo, o que é sempre muito bom de ver. Os coadjuvantes estão ótimos e o todo
não deixa nada a desejar se comparado ao de outros filmes cômicos menores do
cineasta.
A versão sueca de OS HOMENS QUE
NÃO AMAVAM AS MULHERES, primeira parte da Trilogia Millennium de Stieg Larsson,
é um ótimo exemplar investigativo, daqueles em que o suspense dita as regras em
meio a uma trama interessante. Os atores
estão excelentes, sobretudo a até então desconhecida Noomi Rapace, na pele de
Lisbeth Salander. A direção é simples e eficiente, mas senti falta de um peso
maior da imagem, da construção da atmosfera mais ostensivamente opressora que
se pode ver na versão americana dirigida por David Fincher. Ainda comparando
ambas as versões, a sueca é mais eficaz no que diz respeito ao relacionamento
dos protagonistas, pois evita a história de amor um tanto forçada do equivalente
americano.
A segunda parte da Trilogia
Millennium, A MENINA QUE BRINCAVA COM FOGO, possui a mesma direção correta de
sua antecessora (por mais que o diretor seja outro), mas é bem inferior a ela
por não contar com uma trama interessante o suficiente, nem como matéria-prima
de suspense e nem como plataforma para o desenvolvimento
dos personagens. Tudo se foca em Lisbeth, inclusive a investigação do cartel de
prostituição que conduz direto ao seu passado. Mikael Blomkvist é reduzido a
coadjuvante de luxo e mesmo a protagonista surge um tanto apática, sem o mesmo
vigor que a caracterizou no filme inaugural. Parece que seguiram a série no
piloto automático, totalmente ancorados no sucesso literário, sem a preocupação
de fazer cinema.
Já A RAINHA DO CASTELO DO AR,
terceira e última parte da Trilogia Millennium, a recoloca nos eixos. Deixando
de lado a dispersão (leia-se também enrolação) do segundo filme, tem-se outra
investigação de ramificações maiores do que as aparências permitem ver num
primeiro momento, e cujo epicentro é novamente Lisbeth Salander. Além da trama
interessante, a direção é dinâmica, privilegiando, agora sim, o desenvolvimento
mais profundo dos personagens que foram apresentados na primeira parte e quase
negligenciados na segunda em prol de algo bastante mal elaborado. A Trilogia
Millennium se encerra com saldo bastante positivo, um todo inteligente que faz
bonito frente à tradição dos thrillers.
Bom saber que ainda existe vida no cinema de gênero. Grande abraço.
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