A nova aventura do Cabeça de Teia
nos cinemas segue a reinvenção promovida por Marc Webb no filme anterior, com
um Peter Parker jovem, malandro e cheio de tiradas espirituosas. O ESPETACULAR
HOMEM-ARANHA 2: A AMEAÇA DE ELECTRO bota certa ordem na história dos pais de
Peter e mescla ótimos momentos de ação (provavelmente nunca vimos o Aranha tão
de perto, nem de maneira tão eficiente como agora entre os prédios da
metrópole) com as dificuldades amorosas e existenciais do protagonista. Se Sam
Raimi pendia à caricatura (e muito bem), Webb prefere uma abordagem (também
eficiente) mais próxima do garoto por baixo do uniforme, tão confuso como
qualquer outro da sua idade, mas com o agravante de ter poderes e com eles
responsabilidades.
Asgard Farhadi, como li por aí,
virou uma espécie de autoridade em divórcios, ou melhor, nos meandros dolorosos
dos finais dos relacionamentos. O PASSADO não é tão brilhante quanto A Separação, em parte porque não
transcende o pessoal para comentar um cenário social amplo e mais complexo,
mas, a despeito também de seu ritmo, às vezes, um tanto lento além da conta, é
outro belo exemplar que investiga as fragilidades humanas. Sim, pois se os
filmes atuais estão cada vez menos humanos, Farhadi vai contra a maré e constrói
toda a ação nas emoções e contradições dos personagens, naquilo que justifica
carne e ossos. Não há espaço para maniqueísmos ou simplificações em O PASSADO,
o que lhe distingue em meio a tantos filmes inumanos que vemos por aí.
Adaptação de uma peça teatral, EU,
MAMÃE E OS MENINOS anda devagar quase parando até sua metade. As piadas com a
indefinição da sexualidade do protagonista, numa trama contada alternadamente
pelo próprio entre o palco e flashbacks, são um tanto sem graça, flertam com o
humor raso em certos momentos. Com o passar do tempo, algumas sutilezas se
impõem e transformam o que parecia uma história banal da obsessão do filho pela
mãe, numa dinâmica familiar (de aceitação) mais complexa do que se poderia
imaginar. Sendo assim, a segunda parte ressignifica de maneira surpreendente a
primeira, dotando o banal de uma funcionalidade até então insuspeita. É uma
obra em dois atos, na qual o primeiro deixa de ser frágil somente quando ancorado
no segundo.
GETÚLIO não é um filme ruim,
aliás, está bem longe disso. O problema não é o recorte, sempre bem-vindo,
ainda mais quando se quer dimensionar um personagem em seu momento mais
crítico. O filme de João Jardim se debruça sobre os 19 dias que antecederam o suicídio
de Getúlio, nos quais afloraram tensões políticas e suas equivalentes pessoais.
Tudo é muito bem reconstituído e fica a impressão de um filme íntimo, sem
aspiração à grandiloquência, ainda que narre fatos grandiosos. O que importa é
Getúlio o homem, o estadista acuado ou ainda a efervescência do país no
período? É aí, na falta de foco (ou de tempo?) que o bicho pega. Há uma
sensação de ausência substancial, como se algo capital se perdesse em meio à
tentativa de dar relevo às muitas possibilidades
Os filmes de Johnnie To encontram
pouco (ou nenhum) espaço no nosso circuito, o que é uma pena. VINGANÇA dá bem
uma ideia do que esperar da assinatura desse cineasta de Hong Kong. São cenas e
mais cenas de tiroteios tão bem filmados, com imagens tão cuidadosamente
construídas, que da barbárie brota uma beleza não apenas plástica, mas também
poética. A vendeta do francês contra aquele que dizimou sua família é permeada
pela afirmação da necessidade de ir à forra, isso contra qualquer sentido de
redenção ou do perdão edificante. É bala que come solta, sangue como que
evaporando dos corpos em queda, tudo em prol de coreografias, digamos, de morte.
Como esquecer da sequência do tiroteio na floresta, iluminado pela luz da lua e
pelo fogo das armas, ou daquela que se passa num lixão? Cinema de primeira
qualidade.
Adoro esses toques rápidos e certeiros.
ResponderExcluirGrande abraço.